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quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

A Questão Palestina

Retornou-se à condição do precário equilíbrio geopolítico na região do Oriente Médio. Um precário cessar-fogo interrompe a mais recente progressão do atrito islâmico-israelense que oscila pendularmente entre distensão e confronto e que se arrasta já por décadas, condicionado em alguns momentos por interesses estratégicos extrarregionais, e em outros por uma dinâmica própria.

Paz sempre instável e que envolve uma multiplicidade de interesses simultâneos e quase sempre divergentes.

Mas ainda assim a questão de Gaza foi recolocada no centro das discussões convertendo-se assim no mais novo foco de incêndio num rescaldo interminável.

Em julho de 2007, a ativista do Movimento Paz Agora, em artigo na Revista Espaço Acadêmico (nº 74), a professora Gália Golan destacava que a tomada do poder em Gaza pelo Hamas tinha diversos “pais”: as divisões internas que fragilizavam o Fatah de Mahmoud Abbas, a continuidade da ocupação israelense e as frustrações decorrentes, aliada à sistemática política de eliminar do cenário político os elementos moderados do próprio Hamas – o que só seria explicável à luz do desejo de seccionar territorialmente o futuro Estado palestino em duas partes distintas: Gaza e Cisjordânia.

Ela apontava ainda quatro caminhos possíveis:

a)internacionalização de Gaza-Cisjordânia com a retirada israelense;

b)privilegiar a Cisjordânia e manter Gaza isolada e o Hamas;

c)acomodar de forma viável um apoio ao Fatah e uma aceitação condicional do Hamas em Gaza;

d)e finalmente negociar, de forma ampla e abrangente, um acordo intermediado pela Liga Árabe.

Transcorrido o tempo, tornou-se claro que Israel optou pelo segundo item. A internacionalização esbarrou nos interesses do Hamas acerca de uma eventual limitação de seu domínio territorial, e sem isso, a presença internacional certamente viria a ser alvo de ataques. Um acordo Fatah/Hamas foi inviabilizado pela incapacidade de Abbas em se constituir de fato num elemento de agregação: apesar da recuperação econômica da Cisjordânia, a corrupção e a ineficiência prosseguiram, enquanto o Hamas se consolidava em Gaza – como aceitar um governo de União desta forma? E quanto à hipótese de uma intermediação da Liga Árabe foi – previsivelmente – bloqueada pelos interesses contraditórios do Egito/Síria/Irã por exemplo.

Assim sendo, o isolamento do Hamas em Gaza despontou como o caminho possível, com todos os seus efeitos.

O Hamas teve tempo para consolidar seu enraizamento social e político, ao mesmo tempo que por intermédio de uma rede de túneis, contornava e alivia, ainda que de forma insuficiente, o bloqueio territorial e marítimo levado a cabo por Israel e apoiado, sem muito empenho, pelo Egito.

Pressionado pelos israelenses, o Hamas, com apoio do governo iraniano que também influencia as posições do Hezbollah no Líbano, foi se fortalecendo militarmente e ampliando significativamente a guerra de atrito com o sul de Israel, pelo lançamento de foguetes. Simultaneamente, uma desforra de Israel tinha que considerar até quando o Irã ficaria “aguardando” e se o Hezbollah abriria uma segunda frente, ao norte do território israelense, atuando por tabela em relação à Teerã.

Mas a medida em que se multiplicavam os ataques, e o alcance dos foguetes, outros elementos foram se somando ao pano de fundo da crise militar recente. A disputa eleitoral entre as diferentes facções políticas de Israel, onde parece haver uma competição para ver quem é mais duro no trato com os palestinos e seus aliados. Tizip Livni, Ehud Barak e Nethaniahu aparentam ser nuances de uma mesma política de confronto. Mas não se pode negar que o início e fim da ofensiva israelense estiveram também condicionados ao calendário político de seu principal aliado, os EUA, e onde os ataques começaram ao final do governo Bush e antes que Barack Obama pudesse tomar posse e influir numa situação de fato consumado.

Estranho – só aparentemente – foi a imobilidade iraniana.

O regime iraniano que vem apresentando uma crescente capacidade militar, via mídia, mas até certo ponto confirmada pelos serviços de informação, ficou passivamente observando a destruição de Gaza pelas forças militares de Israel. O dano, mas não a eliminação do Hamas mantém os iranianos no jogo; também ajuda o Hezbollah e o canal de ingerência no Líbano. E agora, pode até ampliar a penetração do Hamas, já que o movimento afirmou que vai indenizar as famílias que tiveram seus lares destruídos pelos ataques de Israel. Ao que se saiba, o Hamas e seu assistencialismo só se mantém com auxílio externo. Alguém duvida de onde vem os fundos?

E mais uma vez se comprovou que o apoio islâmico à causa palestina é apenas discurso.

Ao Egito, para quem não interessa um Hamas pró-iraniano fortalecido na sua fronteira oriental apoiado e apoiando seus próprios radicais, manteve as fronteiras fechadas à fuga da população civil. O Hezbollah no Líbano eximiu-se de aliviar a pressão israelense abrindo uma segunda frente. O governo Abbas tomou cuidado de não tornar-se, ele também, alvo da aviação israelense, comprometendo o pouco que foi reconstruído na Cisjordânia. A Síria, as petromonarquias do Golfo Pérsico e demais países islâmicos, comungaram com a comunidade internacional: protestaram, reafirmaram compromissos, mas nada de envolvimento direto.

A ONU seguiu de mãos amarradas pelo poder de veto dos EUA e viu reafirmar-se sua incapacidade prática para deter um conflito onde estejam envolvido diretamente os interesses de uma das potências com poder de veto. Sua inoperância tem se tornado cada vez mais visível.

Assim, o conflito vive nova pausa. Dormitando até uma nova escalada que interessa aos radicais. Espera-se o que virá de Washington, pois é o que vai abrir ou fechar caminhos.

Um compromisso claro da Casa Branca em favor de uma solução negociada eu esvazie os extremistas, limitará muito a margem de manobra de um governo israelense rejeicionista. Pressionados, os governos moderados ou aliados dos EUA podem vir a ganhar destaque numa solução pacífica, o que poderia levar ao isolamento do próprio Irã – isolamento perigoso ao expor o regime de Teerã a retaliações inclusive militares acerca do programa nuclear.

Mais uma vez o tabuleiro se rearruma, mas a partida não se conclui!



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