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segunda-feira, 25 de maio de 2009

A Chantagem Coreana

Gustavo Chacra, enviado do Estadão para o Oriente Médio, postou a dois dias uma estatística onde 1 em 4 israelenses estaria disposto a sair do país diante da possíbilidade do Irã portar uma arma nuclear, agora que ao testar um novo modelo de míssil, constitui de forma cada vez mais concreta uma ameaça derradeira ao Estado de Israel.
No desdobramento do episódio, destaca-se a possibilidade de Israel reagir preventivamente a esta ameaça. O Irã jã disse que se tal ocorrer não titubeará em reagir contra os israelenses, afora o que, dificilmente isso deixaria de provocar um realinhamento geral na região - desfavorável aos EUA e com potencial para atrair os interesses imediatos da Rússia - reafirmando seu papel de grande potência - e a própria China.
Em mais do mesmo, a Coreia do Norte confirmou ter executado um teste nuclear subterrâneo, e que foi, segundo posição oficial do governo norte-americano, cerca de 20 vezes superior ao teste anterior ocorrido em 2006.
Que se trata de mais uma chantagem do governo de Pyongyang é óbvio. Menos óbvio são os desdobramentos do episódio.
Primeiramente é preciso olhar para os EUA, que após ter incluído a Coreia do Norte num "Eixo do mal" na administração Bush, vinha, com Obama, buscando uma negociação política da questão norte-coreana. Agora desafiado e escudado em resoluções do Conselho de Segurança e da própria posição da ONU, o governo dos EUA fica compelido a endurecer suas posições, ao contrário do que fez recentemente por ocasião do lançamento de um míssil dos norte-coreanos e que mesmo advertidos prosseguiram com o disparo e o saldaram como uma grande vitória nacional.
Japão e Coreia do Sul ficam ainda mais expostos, pois a Coreia do Norte é vista como um inimigo de ambos, embora por razões diferentes. Ao mesmo tempo que gostariam de uma reação militar definitiva, dificilmente estariam dispostos apoiar uma intervenção militar que os exporíam à retaliações - inclusive nucleares.
A Rússia certamente não ficaria alheia a uma escalada militar ao sul do seu território, e mesmo não nutrindo maiores laços com o governo norte-coreano, poderia ficar no meio de um fogo cruzado nuclear ou mesmo vir a ser alvo de um ataque de Pyongyang para arrastar o governo russo a uma salvaguarda de sua imagem, ampliando dramaticamente o conflito.
A China, por razões históricas (estiveram do mesmo lado na Guerra da Coreia nos anos 50), e econômicas (sustentando em alguma medida Kim Jong-il) com o fornecimento de suprimentos e comida, pode também beneficiar-se do "gagsterismo militar" norte-coreano. Moeda de barganha onde Pequim ao mesmo tempo que "contém" não resolve e ainda matém a Coreia do Sul, o Japão e os EUA em suspenso.
As opções políticas parecem ser cada vez menos prováveis de uso, pois às negociações, a Coreia do Norte responde com novas ameaças.
Num cenário de pesadelo, à uma escalada militar na península coreana, corresponderia ao envolvimento Sino-Russo e declarações ou correspondente escalada militar das demais potências nucleares regionais (Índia e Paquistão). Armas demais para acreditar que nada fugirá ao controle.
A Coreia do Norte gasta 5% do PIB em armas, seu povo passa fome, estão à margem da diplomacia mais profissional e parecem não estar dispostos a ceder, se isso significar ainda que muito distantemente uma "rendição". Não ligam para a ONU, desconsideram os EUA, e estariam dispostos a pagar para ver em relação a Coreia do Sul e Japão.
Em suma, é um imbróglio de fazer gosto, onde o tempo parece estar se esgotando.
Sem o Iraque e sem o Afeganistão, o que farão os desembaraçados EUA? Isso também vale no Oriente Médio.

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