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segunda-feira, 15 de junho de 2009

O conflito sócio-político no Irã avançou mais uma etapa hoje, quando multidões contadas entre centenas de milhares até um milhão de pessoas, dependendo da fonte, reuniu-se contra a vontade do governo em Teerã e ocorreram confrontos entre estes manifestantes e membros da milícia governamental. O resultado é que apareceram as primeiras menções a existência de mortos.
A polícia e os milicianos partiram para a repressão direta aos movimentos de contestação, ao mesmo tempo em que foram bloqueados os sinais de celulares, o serviço de mensagens por SMS e passou-se o dia censurando o noticiário.
Devido às restrições de movimentação de repórteres e a circulação de notícias, não se sabe com certeza da amplitude das manifestações fora da capital, mas aparentemente ocorreram passeatas também em outros grandes centros do país.

Marchando em silêncio e fazendo o sinal da vitória - o que deve ter sido de fato impressionante - as multidões foram se reunindo, apesar do temor de uma escalada repressiva. Pela manhã circularam informes de que uma passeata convocada pelas lideranças oposicionistas fora desmarcada, mas pode ter sido uma tentativa de desorganizar e desestimular o movimento contestatório.
Interessante que o comício da vitória de Ahmadinejad foi estimado inicialmente em 100 mil participantes, mas foi reduzido depois, segundo informes, para alguns milhares. Também chama a atenção que o líder Ali Khamenei pediu que a contestação ao resultado fosse encaminhada, de forma pacífica, através dos canais legais ao Conselho de Guardiões.
Por enquanto as Forças Armadas não se pronunciaram sobre a situação, seja porque lhes falte de fato uma autonomia, seja por não serem capazes de forçar uma partilha de poder com os religiosos. Mas também cabe a consideração de que as mesmas, fortemente atingidas por ocasião da Revolução de 1979, podem estar à cavaleiro da situação, observando a situação.
Hoje, a pretensa legitimidade do presidente reeleito (?) Mohamed Ahmadinejad erodiu-se de forma substancial. O temor da instauração de uma ditadura política, subvertendo e manipulando o desejo coletivo de mudanças está movendo estas multidões para serem ouvidas.
Noutras palavras, a república, apesar de fundamentalista, ainda é percebida como acessível "a todos", o que deixaria de fato de existir se for instaurada, de forma pura e simples, uma ditadura política que nem seria necessariamente religiosa, já que Ahmadinejad é o primeiro governante após 1979 que não tem ligações diretas com a cúpula religiosa do país.

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