As autoridades norte-americanas deflagraram uma grande operação militar onde eles não só se apropriaram do gerenciamento do que restou do aeroporto da capital, como de fato transferiram este controle para Tucson - em território dos EUA. Como um efeito colateral de tal usurpação, eles negaram autorização de pouso para aviões com auxílio humanitário mas franqueram, no mesmo momento, o pouso de aeronaves com autoridades civis e militares dos Estados Unidos.
Além disso, navios e aviões foram enviados para dar suporte às operações de socorro, que já íam se configurando numa "invasão humanitária" capitaneada pelos marines e tropas aerotransportadas da 82ª Divisão (Força de Intervenção Rápida).
Os helicópetros desembarcando tropas nos jardins do destruído palácio de governo tiveram a intenção - inconfessada - de marcar o espaço das tropas norte-americanas, e isso só têm sentido se buscarmos o endereço da mensagem.
Para o Brasil em particular, a ONU em geral e a comunidade centro-sul americana em especial, a demonstração de força embutida no "auxílio" era para marcar a posição de que se eles quiserem podem fazer o que quiser, reiterando a monótona arrogancia dos norte-americanos, e que ainda hoje eles se surpreendem com o seu reverso: o antiamericanismo!
Chavez, Fidel e Raul Castro, Daniel Ortega, etc, são mais uma vez lembrados de que os EUA fazem o que acham que podem fazer, sem que governos como das Ilhas Salomão, Papua ou o Vaticano sejam consultados.
E neste ponto, a assimetria de meios foi fundamental.
Enquanto o Brasil demorava a reagir, a ponto de só agora o contingente militar estar sendo reforçado e timidamente preparar o envio de um navio (01) e mais alguns helicópteros, os EUA puseram em ação mais de uma dezena de embarcações e milhares de soldados.
Ontem, foi simbólico o que ocorreu diante do palácio governamental.
Numa cerimônia comandada pelo general Floriano Peixoto, tropas e veículos blindados brasileiros começaram a organizar uma distribuição de comida e água para os refugiados haitianos. Era o Brasil, por sua vez, marcando posição.
Mas eis que os norte-americanos chegaram, de novo com seus helicópteros e fizeram uma ventania daquelas, a ponto de uma das bandeiras brasileiras hasteadas vir ao chão, sem nem procurarem esconder o prazer que o incidente produziu.
Lula se aproxima de Chavez e Ahmadinejad? Bom,... melhor ficar esperto e ver afinal quem é que manda no pedaço!
O Brasil está envolvido num processo pelo qual busca, talvez com acerto, ocupar de fato o papel de uma liderança regional. Para que isso ocorra, os interesses devem ficar claros e as vezes, serão divergentes com a grande potência do norte. Para Washington o fortalecimento do Brasil deve ser um contraponto à influência do chavismo na AL, e não constituir-se num outro foco de atrito.
Daí que é importante o fortalecimento institucional, econômico e militar do Brasil, mesmo que contraditoriamente ocorra um crescimento das divergências entre Brasília e Washington. Basta lembrar que a poucos meses houve muito incômodo da diplomacia brasileira e regional com o acordo de cessão de bases colombianas para uso das forças norte-americanas.
Alguém imagina que o Brasil venha a ficar à reboque de Caracas e do presidente Chavez? E se ocorrer, isso será permanente?
A sociedade civil, o ambiente de liberdade de crítica e o póprio fortalecimento dos meios militares - exigindo mais e mais profissionalização dos mesmos e menos politização - são garantias de médio e longo prazo para a autonomia da nossa política externa.
Mas as ambições brasileiras estão atreladas ao nível de desenvolvimento e posse dos meios necessários para sustentar estas ambições, e mais que isso, as responsabilidades.
O Haiti é um teste e ainda não se completou.
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