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quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

Venezuela - Jaguar ou "tigre de papel"? (parte 1)

Um Continente Inquieto


O ano passado foi cheio de movimentações em termos de negócios militares que envolveram aquisições de armamentos, cessão de outros, programas de modernizações e muitas tomadas de preços, além de diversos convênios negociados ou ainda em negociação.

Em parte, tais esforços estão associados com os grandes investimentos venezuelanos anunciados ainda em 2006, e que no Brasil, foram vistos com ressalvas por quem entende do negócio. Até porque, em 2007, o governo brasileiro foi oficiado pela CRE – Comissão de Relações Exteriores do Congresso Nacional -, para explicar uma suposta violação de nosso espaço aéreo por unidades venezuelanas na região do vale amazônico.

Naquele ano de 2006, o presidente Hugo Chavez anunciou um pacote de investimentos militares de cerca de US$ 60 bilhões até 2020 e distribuídos em: 150 novos caças supersônicos, 9 a 15 submarinos (provavelmente classe Amur), a incorporação de 138 embarcações, a distribuição dos novos AK-103 para 1 milhão de soldados e milicianos (parte fabricados na própria Venezuela), além de radares sofisticados, sistemas de foguetes terra-ar, blindados, etc. Em sua maior parte, este pacote foi negociado com a Rússia.

                                                         submarino russo Classe Amur






                                        AK-103 (nova arma padrão do exército russo)



Ainda em 2006 os governos de Caracas e La Paz assinaram um acordo militar que além de padronizar as armas dos dois exércitos, e provavelmente os treinamentos e doutrinas militares entre eles, franquearam no território boliviano para uso das Forças Armadas venezuelanas um total de 24 instalações militares distribuídas pelas fronteiras da Bolívia com seus vizinhos: Brasil, Argentina, Chile, Peru e Paraguai.

Este perímetro de segurança, evidentemente exclui a fronteira venezuelana-boliviana, marcando de forma clara a aliança bolivariana protagonizada por Caracas e coadjuvada em La Paz, Quito e Manágua..

Também houve uma aproximação da Venezuela com o Irã, outro tradicional desafeto dos norte-americanos, onde foram firmados entendimentos para aquisição de foguetes SHAHAB 3. Este foguete, carrega até três ogivas explosivas com alcance de 43 Km. Sua versão de alcance médio, o SHAHAB 3B, pode alcançar até 2.500 km.

Uma Venezuela Nuclearizada?

Em setembro de 2008, a cooperação entre Chavez e a Rússia avançou ainda mais e incluiu, então, investimentos russos na construção de refinarias, e apoio a pesquisas e prospecção de petróleo. Além disso foi cogitado que Caracas permiti-se o estacionamento de um grupo de aeronaves anti-submarinos em seu território. Isso sem contar com o envio de uma força-tarefa russa para o Caribe, para exercícios conjuntos, e a recepção de dois bombardeiros intercontinentais Blackjacks (TU-160) durante os tais exercícios conjuntos.

Ainda que a força-tarefa, e especialmente os bombardeiros, não portassem oficialmente armas nucleares, o objetivo foi não só mandar o recado de que existem interesses russos na região, como o eixo Caracas-Moscou consolidando-se, poderia se tornar uma ameça para os EUA.

Por sinal, podemos observar que a partir de Caracas, a Venezuela vem se esforçando para estabelecer variados eixos de interesse, provavelmente para garantir um amplo leque de potenciais desdobramentos em caso de uma crise mais séria com Washington – ainda que improvável apesar da retórica do presidente Chavez. Vale lembrar que os petroleiros norte-americanos continuam a transportar óleo venezuelano para os terminais da Flórida.

Afora seu raio de ação mais imediato no Caribe e América Central, o governo da Venezuela vem firmando laços com Teerã, Moscou, e as áreas cobertas pela UNASUL e o MERCOSUL.

O jornalista e blogueiro Gustavo Chacra, de O Estado de São Paulo, postou recentemente em seu blog sobre o Oriente Médio, uma interessante consideração do porque o Irã busca tanto obter tecnologia militar nuclear: simplesmente porque os EUA não atacam potências nucleares. E cita, como exemplos, que embora o Paquistão e a Coreia do Norte possuam armas nucleares – e não são atacados – o Iraque, acusado de possuir além de artefatos nucleares outras ADM (Armas de Destruição em Massa), não as tinha e foi invadido. E não faz tanto tempo, o presidente Chavez ofereceu-se para basear algumas das potenciais armas atômicas iranianas em seu território.

Ainda que séria tal proposta, ela permitiria, a concretizar-se, diversificar os alvos de uma eventual agressão norte-americana contra os iranianos, colocaria armas nucleares no quintal dos EUA como não ocorria desde a crise dos mísseis, em 1962, e daria um poder desproporcional a Venezuela no âmbito das Américas central e sul, não só pela presença de tais armas, como pelas possibilidades geradas por tal aliança.

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