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segunda-feira, 29 de março de 2010

ISRAEL E ESTADOS UNIDOS - RELAÇÕES EM CRISE?

Semana passada o Primeiro Ministro de Israel foi recebido em Washington pelo presidente Barack Obama. Na ocasião, não foi só clima que estava frio, mas também o tom dos encontros entre os representantes diplomáticos de ambos os países.

A administração norte-americana já estava irritada com o governo israelense desde a visita do vice-presidente dos EUA a Israel. Naquela ocasião, o vice-presidente Joseph Biden enfatizou a necessidade de se buscar romper o impasse das negociações com a Autoridade Nacional Palestina (ANP), do presidente Abbas. Em resposta cuja a descortesia beirou uma ofensa – se beirou ou não é subjetivo – o governo Netanyahu anunciou que estavam sendo autorizadas novas construções na parte árabe de Jerusalém tomada após a Guerra de 1967.

Este anúncio visava reafirmar que para Israel, seus interesses vêm “sempre” em primeiro lugar e que a parceria norte-americana, se tradicional a décadas, não implica aceitar “pressões” públicas de autoridades de Washington. E de pronto desviou-se o foco das discussões, pois ao invés de se buscar reabrir os canais de comunicação com os palestinos, abriu-se ,na verdade, nova onda de furiosas reações: a ANP suspendeu as negociações e Israel, por seu turno, reforçou o policiamento em Belém e fechou o acesso dos palestinos a Cisjordânia.

A visita do presidente Lula à região também foi alvo de um misto de desconsideração e cortina de fumaça.

Com o simbolismo explícito de iniciar seu tour pelos palestinos, uma agenda diplomática cheia acabou servindo de pretexto para que o ministro das relações exteriores Avigdor Lieberman (expoente da extrema direita religiosa) também provocasse uma situação delicada. No episódio, o presidente brasileiro descartou uma visita protocolar ao túmulo de Theodor Herlz, o fundador do movimento sionista no século XIX que levou a criação de Israel em 1948.

O presidente brasileiro alegou excesso de compromissos que acabariam levando os encontros previstos “a uma correria”; para Lieberman foi uma demonstração de favoritismo para com os palestinos e uma desfeita com os israelenses. Segundo consta, o motivo foi mais banal: simplesmente foi descartada pelo presidente Lula pois ele desconhecia quem era Herlz.

Esta por sinal é a menos crível das explicações; pura maldade, pois não podemos imaginar que se o presidente não conhecia a importância de Theodor Herlz – como certamente a maioria dos estudantes de Ensino Médio, e quiçá universitários - entre o corpo diplomático residente e os acompanhantes da comitiva alguém haveria de destacar a “gafe”.

No Parlamento israelense, Lula criticou a “demonização” do presidente Ahmadinejad do Irã, defendeu o direito iraniano de desenvolver um programa nuclear – desde que pacífico -, a criação de dois Estados e apresentou o Brasil como um país credenciado a intermediar uma solução por ser um elemento neutro na questão. De quebra fechou um acordo que vinha sendo discutido desde dezembro de 2005, pelo qual Israel tornou-se parceiro do MERCOSUL: os negócios envolvem também parceria militar.

Então qual o sentido da polêmica?

Entendo poder estender à esta situação o mesmo raciocínio ou mecânica da visita do vice-presidente dos EUA: se o assunto for desagradável desvia-se o assunto!



Sem abordar as pretensões brasileiras ao se envolver mais diretamente num tabuleiro complexo e que não aceita amadores, mas que, por outro lado, visava de fato respaldar um eventual papel de “ponte” entre Washington-Jerusalém e Teerã, a viagem do presidente Lula fica para outras abordagens.

Nosso foco é a viagem de Nethanyahu e o que deixou de acontecer.

Protocolarmente o premiê israelense mergulhou numa extensa rodada de negociações que no entanto foram inconclusivas. E aí veio o troco dos EUA.

Obama retirou-se para jantar e o premiê foi dispensado de acompanhá-lo. Este, por sua vez, aproveitou a deixa para retirar-se da Casa Branca e não depender dos sistemas de comunicação dos anfitriões, certamente desconfiado de monitoramento (no mínimo) ou pura e simples escuta por parte da CIA.

Retornando mais tarde à sede do Executivo norte-americano, o clima desandou de vez com o anúncio de que mais algumas residências judaicas haviam sido autorizadas para serem construídas em Jerusalém Oriental. Em resposta oficial, o governo Obama insistiu que a política de assentamentos devia ser interrompida para permitir que os esforços de paz pudessem, com alguma consistência, ser retomados.

As divergências entre os aliados norte-americanos e israelenses não são novas. Nova, aparentemente, é a decisão dos EUA em não assinarem um outro cheque em branco para o governo israelense – ainda mais numa conjuntura em que uma nova deterioração das relações regionais serve de pretexto para o Irã continuar desafiando a comunidade internacional.

Um agravamento das tensões político-militares entre árabes e judeus empurra os EUA a reafirmarem sua aliança tradicional dom Israel, atraindo – mais uma vez – o ódio dos jihadistas.

Alguém acha que foi por acaso que este final de semana, precisamente este, uma incursão de militantes do Hammas (aliado de Teerã) foi respondida com a movimentação de infantes e blindados israelenses sobre a Faixa de Gaza, palco de uma sangrenta operação militar pouco antes de Obama assumir seu mandato e que custou 1400 palestinos mortos (a maioria civil) contra menos de três dezenas de israelenses.

Teerã tinha a ganhar com a nova onda de violência, assim como Israel têm a oportunidade de assegurar o alinhamento norte-americano contra as “maquinações” iranianas.

Se antes, lembra Clóvis Rossi da Folha de São Paulo, as negociações entre árabes e israelenses eram feitas diretamente, agora, dependem de um terceiro para que continuem. Sem dúvida as coisas pioraram.

E entre os governos norte-americano e israelense, as relações também azedaram.

Mas assim é a política do Oriente Médio: quanto pior melhor, pois as alianças são as mais impensáveis ao senso comum.

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