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terça-feira, 7 de setembro de 2010

Reflexões Sobre o Momento

O entrevistado de ontem, dia 06/09/2010, no programa Roda Viva da TV Cultura foi o sociólogo e pensador Demétrio Magnoli que como sempre apresentou diversos temas e enfoques polêmicos, mas que foi imperdível e pena de quem não viu ou soube.  Sabatinado por Marília Gabriela e seus debatedores fixos e dois outros convidados, um deles autor de Cidade de Deus, Demétrio abriu o programa explicando como se constituiu aquilo que ele denomina de um bloco político de exercício de poder onde mesclam-se diferentes interesses: sindicalistas, uma parte do empresariado (especialmente dependente de negócios com o Estado), um partido político (o próprio PT) e uma multiplicidade de interesses regionais (o PMDB).  Com destaque, a primeira polêmica ficou por conta de se isto era uma versão do "velho" patrimonialismo brasileiro, ou se era uma coisa nova - tese do entrevistado.
Segundo ele, o que têm ocorrido vai muito além da apropriação do que é público por interesses privados, e do simples "aparelhamento" do Estado.  Para ele, está em curso um processo de partidarização das instituições estatais, cujo exemplo mais flagrante é a violação dos sigilos fiscais por funcionários da Receita:  "É crime" afirmou taxativamente, e pior, "Também é crime quando o Estado manobra para atrapalhar as investigações"!

Não parece óbvio?  Lógico que sim, mas cadê o Ministério Público?  Isso é uma questão que se não for muito bem explicada no final, pode explodir a candidatura e até a própria-provável eleita Dilma.  Ele também questionou o papel da Justiça Eleitoral, e lembrando o caso Palocci/Francenildo, ele se disse estarrecido quando o STF sequer autorizou a abertura de inquérito contra o ex-ministro da Fazenda.
Parte do fracasso da oposição decorre dela mesma ter renunciado ao papel de oposição.  Como pode o eleitor da oposição votar em quem faz questão de se associar ao presidente Lula na campanha?  E como é que pode, agora, dizer que "eles" cometeram um crime, se até ontem o "eles" era indistinguível do "nós"?
Mas ir contra o presidente Lula não seria um suicídio político?, perguntou Marília Gabriela, ao que ele respondeu que isso poderia ser objeto de especulação, mas ao abdicar do papel de oposição "ela cometeu um suicício político" e isso era um fato!  E foi além.  O candidato José Serra prestou um deserviço não só à causa da oposição e seus eleitores, como à própria democracia como um todo.

Antes das próximas amostragens eleitorais, e portanto sem ter ainda uma noção do impacto do episódio sobre a candidata Dilma, temos que contar que tal como o presidente Lula, ela também se revele imune ao ocorrido, repetindo o efeito teflon que o presidente têm demonstrado ao longo de seus dois mandatos.
E neste caso, por que isso ocorre?
Num artigo recente, no jornal O Globo, lembrava-se a situação do presidente Bush (pai) que apesar de vencer a 1ª guerra contra Saddam Hussein estava em marcha acelerada para perder a eleição para o aspirante Bill Clinton:  "É a economia, burro!", afirmou o marqueteiro de Clinton quando perguntado sobre o porque do fenômeno.
Aqui parece repetir-se o "fenômeno" em outro contexto.
Viviane Medeiros Chaia, em artigo datado de 05 de setembro corrente, titulado como A Nova Classe Média mensura o redesenho da estrutura social brasileira nos últimos tempos.
Por sua exposição, 30 milhões de brasileiros subiram da classe D para a C, o que tornou a classe média um reservatório de 52% da PEA, ou quase 93 milhões de pessoas com 46% da renda nacional.  Essa mudança socioeconômica promovida pelos recém chegados traduz-se eleitoralmente num crescimento do voto conservador, que neste caso beneficia o presidente Lula, o PT, seus aliados mais visíveis e a própria candidata governista.
Olhe à sua volta e veja quantas pessoas que conhece estão empregadas, deixaram o desemprego ou melhoraram sua renda e seu padrão de consumo?  Têm gente que está continuadamente empregada a quase uma década, refletindo-se isso na sua renda pessoal ou familiar.
O crime houve, e foi mais político que eleitoral, mas mesmo assim, não parece que o governo será derrotado faltando menos de um mês da eleição. 
"É a economia, burro!" 
Mesmo assim, o que anda ocorrendo no interior do governo é preocupante, e o perigo é o presidente Lula entender - por conveniência pois ingênuo ele não é - que a vitória de Dilma seja um cheque em branco para o lulismo.  

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