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sábado, 2 de outubro de 2010

Ecos da Crise Equatoriana

Surfando na onda da vitória, o presidente Rafael Corrêa acusa pesadamente a oposição de ter patrocinado um movimento golpista que incluia o seu assassinato.  No mesmo tom, ontem ele ameaçava os policiais envolvidos nos tumultos em Quito, dizendo que não haveria perdão para eles.
A oposição, por sua vez, reagiu afirmando que o presidente está fazendo é manobrar para um regime autoritário a medida em que cresce a oposição interna e reduz-se sua margem de manobra na Assembleia Nacional.  Assim, ao autoritarismo ambicionado de um personalismo a la Chávez,  Correa estaria também buscando desviar a atenção de uma corrupção crescente, segundo o ponto de vista dos oposicionistas equatorianos.
Enquanto a situãção normalizou-se com a reabertura do aeroporto de Quito e a circulação pacífica de pessoas, por outro lado persiste a legislação de exceção que restringe algumas liberdades por pelo menos até o início da próxima semana.
Mas algumas lições emergiram desta crise surpreendente.
 A mais óbvia foi a assimetria entre a atuação da OEA e da UNASUL no episódio.
Enquanto a OEA simplesmente não se fazia presente na crise, a UNASUL, por sua vez, reagiu de pronto reafirmando a defesa do estado de direito e da democracia no Equador, repelindo todo e qualquer golpismo que estivesse oculto na manifestação descontrolada dos policiais em Quito.  E foi além da reação, agindo no sentido de intercambiar uma ação conjunta dos presidentes da organização por meio de uma pronta ameaça de rompimento de relações e sanções contra o Equador caso os tumultos degenerassem numa troca de poder no país pela força.
Segundo Eduardo Mocca, da Universidade de Buenos Aires, some-se à isso que a organização não esperou nem pela OEA nem pelos EUA por uma orientação ou ação conjunta.  “O que vemos é uma Unasul fortalecida, sobretudo, pela velocidade com que enfrentou a crise e, inclusive, pela disposição dos presidentes de viajar para o Equador caso fosse necessário”, afirmou o especialista em entrevista para o UOL.
Em poucas horas reuniram-se em Buenos Aires sete chefes de Estado que instrumentalizaram a reação a ameaça antidemocrática implícita na crise equatoriana.  A agilidade, a postura conjunta e o resultado alcançado consolidaram a UNASUL conforme se esperava quando de sua formação em 2008, deixando de lado a OEA, cujo plenário muito amplo, e o domínio norte-americano no órgão, trabalharam para levar a América do Sul a buscar um protagonismo maior em sua área mais imediata de interesses.
Para o sociólogo Gabriel Puricelli ficou claro que a UNASUL mandou um recado de que os problemas, e suas soluções, serão tratadas no âmbito regional.
Embora se destaque que nas outras vezes que a UNASUL foi acionada, como na crise colombiana-venezuelana recentemente, a mediação proposta sofreu restrições, especialmente por parte da Colômbia em relação ao Brasil, o encaminhamento final foi diplomático e não militar.  Segundo Mocca, a eleição de novos governos no Chile e Colômbia alteraram o perfil de centro-esquerda que predominava no órgão regional.  Será?
O Chile de Michele Bachellet e a Colômbia de Álvaro Uribe já eram e permaneceram aliados dos interesses norte-americanos (o que não é nenhum problema), e assim a mudança de rostos não alterou posicionamentos políticos.  Equador e Venezuela permaneceram à esquerda, enquanto o Brasil avizinha uma mudança governamental que parece também mais de rostos que de comportamentos, mas mesmo assim, é um governo que termina e outro que está por se iniciar.  Na Argentina, a presidente enfrenta crescentes denúncias de autoritarismo enquanto a situação econômica é "maquiada" para não apresentar a deterioração cada vez maior dos índices macroeconômicos. 
Na minha perspectiva não houve assim uma mudança tão fundamental com os novos governantes chileno e colombiano para que a UNASUL agisse tão rápida e uniformemente.
Com o perdão dos equatorianos, é mais fácil costurar um posicionamento em bloco, quando quem está do outro lado é um pequeno.
O que ocorreria se o presidente Chávez resolve-se firmar - mais uma vez - uma posição? 
Sua acusação repisada de envolvimento norte-americano no episódio não encontrou eco, até porque havia coisa mais importante para tratar.
A desenvoltura de Chávez parece ter sido enfraquecida com a "vitória" da oposição nesta semana.
Existem muitas mudanças em curso, com desdobramentos insuspeitados neste momento.
Sorte do Equador e nossa.

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