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segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Restos da Campanha de 2010

Ontem e hoje ainda, vários próceres do PSDB usam um discurso que protocolarmente é o de reconhecer o mérito as eleições, mas logo a seguir questionam esta mesma democracia.
O senador Álvaro Dias, na Band, atacou o papel dos institutos de pesquisa acusando-os de fazer uma manipulação dos eleitores ao apontar uma consistente margem de vantagem da candidata governista sobre seu opositor. Incrível que esta mesma acusação fazia, outrora, o próprio PT, que sobre os escombros de suas derrotas enxergavam nas intenções de votos uma "conspiração" que terminava, junto com outros aspectos, por tirar-lhes a vitória merecida.
Se o ilustre senador de fato acredita nisso, por que não encaminha uma proposta e bate pela mesma, no sentido de acabar com a obrigatoriedade do voto?
O eleitor foi conduzido pelos marqueteiros ao campo da emoção e não da razão? Se todos não fossem obrigados a votar talvez a razão prevalece-se. De quebra não teríamos essa lenga-lenga sobre o Tiririca: em sã consciência alguém acha que mais de 1 milhão de pessoas sairiam de casa - num domingo chuvoso - para votar num personagem exótico como ele? Algum voto ele teria, mas nesse volume?
Mas os políticos não têm o que reclamar, afinal são eles que definem, mais por seus interesses corporativos e pessoais, as regras do jogo político. Estabelecidas as regras, não adianta reclamar durante o jogo que as mesmas não são sérias!
Já o deputado José Aníbal declara que o governo buscou a hegemonia e não a maioria no Congresso, e que isso é muito preocupante. Que houve sucessivas violações da lei eleitoral, desdenhadas inclusive pelo presidente da República, etc. Num tom compungido de preocupação, associa a vitória petista ao preâmbulo de uma possível virada autoritária no país. Isso logo após saldar nossa democracia.
Ora, se nossa democracia é saudável, por que o mêdo?
O eleitorado, da mesma forma que põe, dispõe! E ponto final.

Estas interpretações me cheiram, desde a reeleição de Lula, a uma revivescência da UDN.
Não tão abertamente, mas a desqualificação do eleitorado está lá. Se é fato, o remédio está aí acima.
E a vitória do PT esteve longe de ser acachapante. Mais de 43 milhões de brasileiros votaram em Serra e quase 30 milhões se abstiveram.
Isso é um pedaço de nação sobre o qual não se pode simplesmente "passar por cima".
Aos que votaram na oposição - não menos sujeitos à manipulação emocional quanto os eleitores governistas - este governo não é satisfatório no todo ou em parte. Estão sensíveis a uma proposta alternativa de poder que pode contar desde a necessidade de barrar a eternização petista como não aceitarem serem governados por "operários". O espectro portanto contempla desde aqueles que tem consciência política até os puramente preconceituosos.
Quanto aos mais de 29 milhões que se abstiveram há que se considerar que não foram seduzidos nem por uma proposta nem por outra. Talvez porque em ambas as campanhas, o desejo de combater e não de debater foi uma estratégia da própria campanha. Portanto serviu a ambos. Para esta parcela do eleitorado, excluindo-se os que entre Serra e Dilma optaram pela praia ou equivalente, preferiram não emprestar apoio a nenhuma das duas propostas simplesmente por não concordar com as mesmas.
E que se destaque que esse porcentual foi muito maior que os 3% da população que consideram o governo Lula como ruim ou péssimo. O desdém presidencial pode ser substituído por uma certa cautela, pois o pedaço da oposição social é bem maior que a oposição política ao petismo.
Somados os Brancos (2,5 milhões de votos), os Nulos (4,7 milhões) e Abstenções (29,2 milhões), temos quase 30% dos eleitores que não apoiaram ou se comprometeram com NENHUMA das duas propostas que estavam (?) na mesa. E contra o petismo, acrescente-se então mais 44%.
Ora, a vitória é relativa e cabe à oposição demostrar isso. Como cabe ao governo mostrar que estes porcentuais de Nulos, Brancos e Abstenções não são da oposição.
Enquanto os tucanos agora vão lutar em seu ninho, dividido como nunca entre paulistas e mineiros - afinal Dilma venceu em MG e se questionam tanto o empenho do ex-governador Aécio como sua capacidade de transferir votos -, passada a ressaca eles bem que poderiam de fato construir uma alternativa de poder.
Consistente, clara e de fato alternativa ao petismo e suas práticas...que vamos combinar, deixaram muito a desejar em termos éticos.
Mas o fundamental foi, e continua sendo, a economia. Enquanto ela for bem...prevalecerá o voto conservador da continuidade e não da mudança. Ao tucanato fica a lição de que não podem bater contra o lulismo por 4 anos e se "regenerar" por 4 meses e ainda querer que o eleitorado acredite.!

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