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segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

O Brasil está pronto para se projetar?

As promissoras perspectivas econômicas do Brasil deixam poucas dúvidas de que a influência internacional do país está a ponto de ter, nos próximos anos, um grande impulso. À medida que mais empresas brasileiras se tornarem multinacionais, o poder regional do país vai aumentar. A expansão da economia e a crescente importância do Brasil como produtor de energia em petróleo, gás e biocombustíveis darão ao país, além disso, um papel de destaque no comércio internacional, nas negociações sobre as mudanças climáticas e em fóruns multilaterais. A extensão e a forma dessa proeminência internacional do Brasil, no entanto, vão depender basicamente de dois fatores. O primeiro está ligado à evolução da ordem global – ou à ausência dela. O segundo, às escolhas que as autoridades responsáveis pelas políticas do Brasil farão ao tentar usar esse novo poder geopolítico. Se Brasília escolher bem e evitar as ciladas de uma certa atitude presunçosa que marcou nos últimos anos algumas das iniciativas na política externa, a influência brasileira continuará a crescer.

A emergência do Brasil no cenário internacional ocorre em um momento de declínio da influência dos Estados Unidos e do fim de uma ordem internacional unipolar dominada pelos americanos, mas sem que um modelo alternativo esteja pronto para tomar o lugar. É impossível dizer exatamente quando esse processo atingiu seu auge, mas o choque causado pela crise financeira global em setembro de 2008 e o surgimento do G20 como um fórum para coordenar a reação internacional foram fundamentais para ele se desenvolver. No início, o medo de uma crise financeira global sistêmica forneceu as condições para alguma coordenação internacional em matéria de política econômica. Mas, à medida que a crise perdeu força e diferentes nações, em diferentes velocidades, se recuperaram do choque, o senso de urgência e de unidade se dissipou.
O G20 dificilmente vai funcionar algum dia com eficácia. Há muitos países membros, as diferenças internas são muito grandes e eles, além de estarem voltados para desafios domésticos, tendem a ver mais benefícios em agir por conta própria do que em procurar consensos que requerem algum tipo de sacrifício. Esse problema se tornou mais claro graças à combinação de uma onda de protestos contra os governos nos países industrializados com a tendência de os países emergentes se concentrarem em seus próprios problemas. Em 2010, os encontros de cúpula globais se tornaram inúteis porque muitos países-chave se tornaram mais fracos ou desviaram suas atenções para outros problemas.
As dificuldades do G20 em enfrentar problemas que exigem coordenação econômica – como os atuais desequilíbrios comerciais entre Estados Unidos, China e Europa – são reveladoras de um problema maior, que é importante para o Brasil. Não se deve esperar o surgimento de uma nova ordem global em que os países industrializados e emergentes dividam em conjunto os pesos e os riscos das soluções dos problemas internacionais.

Como o Brasil pode aumentar sua influência em um mundo sem líderes, no qual nenhum país ou bloco de países tem poder político suficiente para conduzir a agenda global? O presidente Luiz Inácio Lula da Silva parece ter embarcado numa estratégia de política externa que foi conduzida pela premissa de que a influência internacional dos EUA está em declínio. Ele trabalhou duro para desenvolver as relações Sul-Sul e para assegurar um papel mais relevante nas instituições multilaterais existentes, enquanto preservava o papel tradicional do Brasil como mediador neutro nas disputas internacionais.
Essa estratégia pode estar certa ao reconhecer que Washington não lidera mais, mas não ajuda o Brasil a avançar em um mundo sem um líder ou sem instituições multilaterais com credibilidade. O objetivo de um assento no Conselho de Segurança das Nações Unidas não é apenas improvável em um contexto em que os protagonistas da arena internacional exprimem cada vez mais diferenças. Pode também se tornar inútil para as pretensões do Brasil de modelar a nova ordem global se o Conselho se tornar irrelevante como fórum internacional. É importante ter um “Plano B” eficaz para o caso de fracasso nas negociações multilaterais e para evitar o que ocorreu quando o Brasil apostou todas as suas “fichas” comerciais nas negociações da Organização Mundial do Comércio (OMC).
A presidente Dilma Rousseff pode aproveitar o sucesso de Lula e evitar os seus erros de cálculo, ampliando a influência do Brasil numa estratégia de caso a caso, sem esquecer que a nova arquitetura internacional não será bem coordenada e poderá provocar novos e maiores conflitos.
Considere esses dois exemplos. A tentativa do Brasil (junto com a Turquia) de mediar um acordo entre o Irã e o Conselho de Segurança das Nações Unidas para evitar sanções fracassou. O governo Lula continua a proclamar que seus esforços demonstraram a ascensão geopolítica do Brasil, mas a inabilidade de Brasília em ganhar o apoio de outros membros do Conselho para o plano enfraqueceu suas chances de sucesso. Por outro lado, a discussão sobre controle de capitais durante o recente encontro do G20 em Seul realçou a habilidade do Brasil em mudar os termos do debate em uma questão vital. Como os Estados Unidos, a China e os países industrializados não se entenderam sobre uma política coordenada para enfrentar os desequilíbrios comerciais, a advertência do ministro da Fazenda, Guido Mantega, sobre o perigo de uma “guerra cambial” mudou o jogo no último encontro do G20 e armou o cenário para o governo brasileiro justificar o uso de controles de capital para atenuar os impactos negativos de uma entrada maciça de capitais no país.

Os críticos são rápidos em sugerir que a política externa de Lula rendeu poucos resultados concretos. Para ser justo, o Brasil é uma potência emergente que está tentando elaborar uma nova estratégia política em um mundo em rápida mudança. Passos em falso são inevitáveis. Ao longo do tempo, as próximas gerações de autoridades responsáveis pelas políticas do Brasil deverão ser mais pragmáticas para ampliar a influência do país em um período de enorme incerteza.

Nossa Opinião

      Sabía-se que a postura mais "agressiva" do Itamaraty e do governo Lula em destacar um papel crescentemente protagônico para o Brasil acarretaria fortes oposições internas e externas.  Aos críticos da posição brasileira sobre o Irã, note-se que não só o Brasil não ficou necessariamente isolado, como agora mesmo Israel - fortemente crítico da ação diplomática brasileira em relação ao governo de Teerã e, mais recentemente, no reconhecimento de um Estado Palestino - foi favoráel ao envio de uma missão militar com participação brasileira para o sul do Líbano.
     Especialmente nesta questão da Palestina, o reconhecimento anunciado foi seguido por iguais manifestações da Argentina, Bolívia, Uruguai e Equador, o que pelo menos sinaliza a influência regional do Brasil no âmbito da América do Sul.
     Para Israel, não é o fim do mundo, mas se lembrarmos da própria história de Israel, a sua existência formal foi precedida por uma crescente adesão da comunidade internacional à causa sionista.  Portanto, quanto mais países reconhecerem uma Palestina independente, mais próxima estará de fato sua existência.
      O pleito brasileiro ao CS da ONU é legítimo mas suas chances são muito pequenas.  Nenhum membro deste Conselho é desprovido de forças militares expressivas, capacidade nuclear, meios de projeção de força real em nível global ou regional, etc.  O Brasil, por seu turno, por mais que tenha avançado nos últimos anos - 10 ou 20 anos mais próximos - ainda tem muito que caminhar.  Imensos desafios foram atacados e geraram resultados assimétricos de sucesso e frustração, mas ainda não se discutiu aberta e francamente com a sociedade brasileira que este projeto de afirmação nacional implica custos, responsabilidades e danos.
      Portanto, buscar o reforço de mecanismos multilaterais mais restritos, mas que permitam maior destaque ao Brasil, como a UNASUl e o G-20, pode ser uma alternativa à não inclusão no CS.  Consequentemente, acarretará menos danos à imagem pretendida sem que se abandone àquela pretensão.
      O andamento (sic) do programa FX-2, ainda que contraposto ao programa de aquisições da MB e do EB, demonstram a dificuldade de se priorizar e comprometer recursos escassos com despesas militares.
     Mas além disso, a busca por esse protagonismo implicará que cabe ao Brasil assumir tarefas que hoje até mesmo os grandes se furtam ou protelam devido aos custos envolvidos;  o país têm recursos para isso?
     E quando as responsabilidades forem além do envio de ajuda humanitária e implicarem o deslocamento de força armada?  As Forças Armadas dispõem ou disporão em um horizonte mensurável de capacidade para desdobrar efetivos e equipamentos?  E quando ocorrerem mortes, até que ponto a sociedade estará disposta a apoiar a perda de vidas de soldados, aviadores ou marinheiros e, na outra ponta, de civis ou militares em outros países?
     A última guerra que o país participou já acabou a mais de 60 anos, e o último conflito que a nação protagonizou acabou em 1870 e foi responsável, em grande parte, pelo fim do 2º Reinado devido aos seus custos sociais, econômicos e políticos.
     O Brasil está pronto para se projetar?
FONTE: revista Época

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