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sábado, 10 de setembro de 2011

Sobre o 11 de Setembro - Um Balanço

H.D.S. Greenway
International Herald Tribune

Os historiadores afirmarão que os acontecimentos daquela manhã de setembro, dez anos atrás, foram os atos de terrorismo mais destrutivos já cometidos até então. Mas eu tenho a impressão de que eles também considerarão esta última década um dos períodos de reação mais exagerada na história dos Estados Unidos.
É claro que os terroristas desejavam exatamente provocar uma reação exagerada. E, a julgar por esse padrão, os episódios de 11 de setembro de 2001 se constituíram também em um dos atos de terrorismo mais bem sucedidos da história, arrastando os Estados Unidos para duas guerras que ainda não terminaram, drenando mais de US$ 1 trilhão do tesouro norte-americano e prejudicando o poder e o prestígio do país. Essas guerras fortaleceram os nossos inimigos e prejudicaram as nossas amizades, e elas provavelmente criaram mais terroristas do que mataram.
Assim como outras vítimas do terrorismo, os Estados Unidos acreditavam que, de alguma maneira, a resposta poderia residir na força bruta. Mas ideias dificilmente cedem diante da força, e o islamismo militante é uma ideia. O resultado disso foi a militarização da política externa dos Estados Unidos.
A breve guerra com o objetivo de derrubar o Taleban e expurgar o Afeganistão de Osama Bin Laden foi admiravelmente executada, com a utilização de poder aéreo, dos integrantes da Aliança do Norte e de alguns agentes da Agência Central de Inteligência (CIA) que se deslocaram a cavalo para atingir objetivos específicos. O fato de não termos capturado Bin Laden e o seu vice, Ayman al-Zawahiri, deixando-os escapar de Tora Bora, onde eles estavam acuados, se constituiu em um fracasso espetacular.
A ocupação do Afeganistão pelos Estados Unidos, que já dura dez anos, e as nossas tentativas intermitentes de construir lá um novo país, foram um desastre. No início a campanha do Afeganistão ficou carente de recursos, tendo ocupado um segundo plano em relação ao mal planejado e mal aconselhado ataque ao Iraque. Quando, finalmente, o Afeganistão tornou-se uma prioridade, o momento para alcançar o sucesso já havia passado.
Atualmente o conflito afegão transformou-se em uma guerra contra os pashtuns – uma etnia que talvez seja o povo mais guerreiro do mundo, que não pôde ser dominado por dois impérios que invadiram aquela região antes de nós. Não poderia haver um lugar pior para se lutar, ou um povo capaz de resistir mais à imposição da nossa vontade. As tribos pashtuns levantaram-se há séculos diante da conclamação à jihad, e exibem uma habilidade ímpar para combater forças estrangeiras.
Apesar de a pesada campanha de propaganda sugerir o contrário, a verdade é que a operação para subjugar o Taleban foi um fracasso. A campanha de contra-insurgência – a proteção do povo e a conquista do seu apoio – jamais decolou de fato. A nossa estratégia parece ser a seguinte: se nós pudermos matar uma quantidade suficiente de pashtuns, de alguma forma eles concordarão em se render.
É verdade que as tribos e os clãs pashtuns tradicionalmente mostram-se dispostos a trocar de lealdade quando os incentivos oferecidos são suficientemente atraentes, de forma que a ideia de conquistar o apoio de alguns grupos que neste momento estão lutando contra nós não pode ser totalmente descartada.
Mas até o momento essa estratégia simplesmente não funcionou, e o general David Petraeus caiu na mesma armadilha em que muitos generais antes dele caíram: o general acreditou que aquilo que ele aprendeu em outra campanha, a guerra no Iraque, poderia ser reproduzido no próximo conflito – a guerra no Afeganistão.
Os nossos aliados britânicos cometeram o mesmo erro, acreditando que aquilo que deu resultados para que se chegasse à paz na Irlanda do Norte poderia ser aplicado ao Afeganistão.
No que diz respeito ao primeiro conflito, se algum dia já houve uma guerra de intelectuais, esta guerra foi a do Iraque. Teóricos neoconservadores, que nada sabiam sobre o Iraque, acreditavam que o poder transformador da democracia seria capaz de mudar o Oriente Médio – fazendo com que os árabes ficassem se parecendo mais com norte-americanos.
Mas o que aconteceu foi que o Iraque tornou-se mais parecido com o resto do Oriente Médio e, embora a violência tenha diminuído, o país está muito longe da normalidade. Nenhuma das questões subjacentes, o equilíbrio de poder entre sunitas e xiitas, o que fazer quanto às relações entre o Curdistão e o resto do país, foram resolvidas.
E, no decorrer desse processo, a guerra do Iraque fortaleceu bastante o Irã, e a reação do primeiro-ministro iraquiano Nuri Kamal al-Maliki de apoiar Bashir al-Assad, da Síria, a pedido do Irã, fala por si própria.
O período Bush-Cheney foi marcado por uma notável abolição das liberdades civis em nome da luta contra o terrorismo, e a trajetória moral descendente rumo à tortura demonstrou com que facilidade o medo é capaz de arrastar até mesmo uma democracia moderna para o lado escuro.
Embora a Al Qaeda tenha tido um sucesso notável em estabelecer ligações entre tantos redutos de ressentimentos muçulmanos espalhados pelo mundo, com o domínio das técnicas da Internet, o fato é que a maioria dos muçulmanos preferiria não viver sob o regime wahhabista extremista pregado pela Al Qaeda. As ideias de Bin Laden sobre a sua fé estão para o islamismo assim como as ideias de Pol Pot estão para o socialismo.
Mas a ascensão de atitudes antimuçulmanas lamentáveis e contraproducentes tanto na Europa quanto nos Estados Unidos após os atentados de 11 de setembro demonstra que Bin Laden não foi inteiramente

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