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sábado, 26 de novembro de 2011

Entre Teerã de 1979 e Berlim de 1989

                                      Roger Cohen, The New York Times - O Estado de S.Paulo







 

A questão fundamental do Egito resume-se ao seguinte: estamos testemunhando uma nova Teerã de 1979 ou uma Berlim de 1989? Será esse um grande levante contra a ditadura, cujo objetivo - a liberdade democrática - será usurpado pelos islâmicos organizados, como ocorreu na Revolução Iraniana? Ou será o fim do Parque Jurássico árabe no qual, do Iêmen à Tunísia, antigos déspotas perpetuam-se no governo, e o início de um florescimento democrático capaz de transformar o mundo, como ocorreu com o colapso do império soviético?

Se, como acredito, a última hipótese se concretizar, é crucial esclarecê-la. E isso envolve um presidente americano, Barack Obama, ainda inexperiente, reunindo toda a habilidade diplomática que os EUA mostraram em 1989 - e até mesmo inspirando-se em 1947, no Plano Marshall - para respaldar a nascente democracia egípcia e árabe.

Também implica Israel procurar uma fração da coragem que Anwar Sadat demonstrou em sua visita a Jerusalém em 1977: a coragem de deixar de lado o refrão da segurança, que vê em cada adversário democrático de Hosni Mubarak um jihadista em potencial, e apelar para as forças modernizadoras do mundo árabe que conhecem a esterilidade da guerra.

Israel e seus partidários conservadores abraçaram a analogia do Irã. Acima de tudo, eles veem no despertar egípcio uma ameaça. O primeiro-ministro Binyamin Netanyahu assim se expressou: "O que tememos é que, se ocorrer uma rápida mudança, o que ocorrerá - como já aconteceu no Irã - será a ascensão de um regime opressivo. Esse regime esmagará todos os direitos humanos, não permitirá a democracia ou a liberdade e se converterá numa ameaça à paz".

Os intelectuais árabes têm uma visão oposta, expressa de maneira mais clara por Rami Khouri, da Universidade Americana de Beirute: "Estamos testemunhando o momento histórico épico do nascimento de conceitos que durante muito tempo foram negados ao árabe comum: o direito de definirmos nós mesmos nossos governos, de afirmarmos nossos valores nacionais, de criarmos nossos sistemas de governança".

Os EUA tentaram o caminho intermediário, da "transição ordenada". A secretária de Estado Hillary Clinton reiterou as palavras de Netanyahu com algumas variações: "As revoluções derrubaram os ditadores em nome da democracia, mas esse processo foi sequestrado pelos novos autocratas".

Israel deveria aplaudir o despertar árabe. Foi a negação desses direitos pelos déspotas da região que deu à retórica populista iraniana tanta ressonância nas ruas árabes. Nada provocará o declínio da influência iraniana tão rapidamente quanto a democracia árabe.

Há uma segunda razão para Israel encontrar esperança na Praça Tahrir: são os indivíduos que se dão conta de que sua existência não tem sentido - a situação fundamental dos árabes hoje - os mais propensos a ver na morte jihadista a solução de tudo.

Agora, se Obama aderir ao momento de 1989 e não ao de 1979, como provavelmente fará, terá de pressionar os aliados do Golfo. E garantir que a democracia egípcia atenda às expectativas mediante a elaboração de um Plano Marshall financiado pelo petróleo em benefício de um mundo árabe democrático. Quanto a Netanyahu, deveria emular Sadat e ir ao Cairo abraçar o próximo presidente do Egito eleito democraticamente. Ainda não chegamos lá, mas esse é o momento para pensar grande e mostrar coragem. Não se trata apenas do momento 1989 do mundo árabe. É o momento de Obama. / TRADUÇÃO DE ANNA CAPOVILLA

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