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quarta-feira, 23 de novembro de 2011

FORÇAS (DES)ARMADAS BRASILEIRAS II - Relatório sigiloso da Defesa comprova sucateamento do setor militar no País

Documento sigiloso produzido pelos comandos militares sobre a situação da defesa nacional repassado ao Palácio do Planalto nos últimos dias mostra um sucateamento dos equipamentos das três Forças. Segundo os militares, os dados esvaziam as pretensões brasileiras de obter uma cadeira permanente no Conselho de Segurança das Nações Unidas, além de inibir a participação do País em missões especiais da ONU.

De acordo com a planilha obtida pelo Estado, a Marinha, que em março mantinha em operação apenas dois de seus 23 jatos A-4, não tem hoje condições de fazer decolar um avião sequer do porta-aviões São Paulo.

Com boa parte do material nas mãos de mecânicos, a situação da Marinha se distancia do discurso oficial, cuja missão seria zelar pela área do pré-sal, apelidada de Amazônia Azul.

Segundo o balanço, que mostrou uma piora em relação ao último levantamento, realizado em março, a situação da flotilha também não é confortável. Apenas metade dos navios chamados de guerra está em operação. Das 100 embarcações, incluídas corvetas, fragatas e patrulhas, apenas 53 estão navegando. Dos cinco submarinos, apenas dois ainda operam. Das viaturas sobre lagartas (com esteiras), como as usadas pelos Fuzileiros Navais para subir os morros do Rio de Janeiro, apenas 28 das 74 estão em operação.

O Ministério da Defesa mantém os dados sob sigilo. A presidente Dilma Rousseff já foi informada das dificuldade que as Forças estão enfrentando e a expectativa, pelo menos da Aeronáutica, é de que a partir do ano que vem o governo retome as discussões em relação à compra dos novos 36 caças brasileiros já que os atuais deixam de voar em 2014.

Queixas. Já afinado com a caserna, o ministro da Defesa, Celso Amorim, que está há apenas três meses no cargo, queixou-se dos baixos investimentos do Brasil no setor e pediu apoio dos parlamentares para a modernização das Forças Armadas.

Segundo ele, proporcionalmente ao Produto Interno Bruto (PIB), o Brasil é um dos países que menos investem em defesa entre os integrantes dos Brics, grupo que integra Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul.

O orçamento atual da defesa no País representa 1,39% do PIB, enquanto a Índia investe nesta área 2,8% de seu PIB, e a China, 2,2%.

Na Força Aérea Brasileira (FAB), a situação não é diferente. Dos 219 caças que a Força dispõe, há apenas 72 em operação, o que corresponde a 32%. Em março, eram 85 caças em funcionamento.

Dos 81 helicópteros que a Aeronáutica possui, apenas 22 estão voando, o que corresponde a 27% do total. Em março, eram 27 helicópteros em operação. No caso dos aviões de transporte de tropa, dos 174 que a FAB possui, 67 estão em operação, ou seja, 38%. Em março, 100 aviões deste tipo estavam voando. Aviões de instrução e treinamento caíram de 74 para 49 em funcionamento.

Reforço. Nos bastidores, os militares reclamam e pedem reforço orçamentário. Apontam que quase 90% dos aviões da FAB têm mais de 15 anos de uso, enquanto numa força operacional o recomendável é que, no máximo 50% das aeronaves podem ter mais do que 10 anos de uso. As nove baterias antiaéreas do País estão fora de uso.

O Exército também enfrenta problemas com seus helicópteros. Dos 78 que possui, exatamente a metade está parada. Em relação aos blindados, 40% deles estão parados.

A Força terrestre apresenta apenas um número grandioso: 5.318 viaturas sobre rodas. No entanto, essas são na maior parte carros oficiais para transporte de oficiais de alta patente, jipe e caminhões ultrapassados.

A situação é tão precária que todas as 23 aeronaves a jato da Marinha estão nas oficinas da Embraer. Mas só 12 sairão de lá para missões. As outras 11 serão "canibalizadas" para fornecer peças para aos "sobreviventes".

FAB tem de cortar 25 mil horas de voo dos pilotos

Na Aeronáutica, costuma-se dizer que o piloto brasileiro é o melhor do mundo no transporte de autoridades. Há um esquadrão, o Grupo de Transporte Especial (GTE), especializado no leva e traz constante de ministros e integrantes do primeiro escalão. Mas, fora daí, está cada vez mais difícil alçar voo. O corte feito no orçamento da Força obrigou o comandante Juniti Saito a determinar a redução de 25 mil horas de voo dos pilotos este ano.

Os pilotos da FAB, este ano, voarão no máximo 170 mil horas, 15% menos do que costumavam fazer durante os anos de 2010, 2009 e 2008, quando o volume foi entre 190 mil e 200 mil horas de voo por ano.

De acordo com informações obtidas pelo Estado, o corte destas 25 mil horas de voo irá reduzir a capacidade operacional dos pilotos. Os mais preservados são os militares que operam as aeronaves que atendem a Presidência da República e os aviões do GTE. Mas, mesmo neste caso, houve uma redução de número de horas de voo executadas já que a própria presidente Dilma Rousseff diminuiu a quantidade de viagens, comparada ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Evasão. Este tipo de corte desestimula os militares que, além de se queixarem dos baixos salários, são tentados pelas companhias aéreas. Segundo a Agência Nacional de Aviação, o transporte de passageiro vem crescendo, em média, 20% ao ano.

Mas o problema de evasão não é só na FAB. Em recente entrevista, o ministro Celso Amorim informou que o problema salarial está levando à evasão de militares no Exército, na Marinha e na Aeronáutica.

Levantamento feito pelo deputado Jair Bolsonaro (PP-RJ) aponta que, de 2009 para 2010, só no caso de oficiais da Força Aérea, a evasão mais que dobrou, passando de 27 para 54 oficiais que deixaram a FAB. Este ano, 26 oficiais partiram para a vida civil somente no primeiro semestre.

Computando os dados das três Forças, a evasão cresceu 25%. O número de oficiais que deixou o Exército, a Marinha e a Aeronáutica de 2009 para 2010 pulou de 180 para 224. Este ano, a evasão já chega a 115.

O próprio ministro da Defesa fala que existe hoje, nas Forças Armadas, uma "insatisfação por níveis salariais". Amorim disse também que não há previsão, no entanto, de recomposição salarial da categoria.

Planalto desbloqueia verbas para reduzir tensão na caserna

Para diminuir a tensão na caserna, o Palácio do Planalto descontingenciou cerca de R$ 2,2 bilhões dos R$ 4 bilhões cortados no início do ano, quando foi anunciada tesourada de R$ 50 bilhões do Orçamento de todo o governo.

A liberação, segundo informou o ministro da Defesa, Celso Amorim, a um grupo de militares, foi considerada generosa e até acima da expectativa. O descontingenciamento permitiu a manutenção, pelo menos, de investimentos em programas estratégicos, como o do submarino nuclear.

Desde a posse do ex-ministro Nelson Jobim, em julho de 2007, os militares vêm comemorando o aumento do orçamento das três Forças.

Embalado pela Estratégia Nacional de Defesa, de 2007 para 2011, as despesas de investimento e custeio das Forças Armadas cresceram 140%, ante a variação da inflação em torno de 30%, no mesmo período. Ainda assim, as Forças enfrentam graves problemas de operacionalidade, com o sucateamento dos equipamentos.

Em 2007, o projeto de lei orçamentária previa R$ 5 bilhões para investimento e custeio nas três Forças. Em 2008 pulou para R$ 7,77 bilhões; em 2009 foi a R$ 10,05 bilhões; em 2010. a R$ 12 bilhões, e deve alcançar R$ 12,9 bilhões este ano. Para 2012 o projeto de lei orçamentária pede R$ 14,4 bilhões.

Se for computado só o valor dos recursos destinados a investimentos, a Aeronáutica deverá ter recebido, ao fim deste ano, R$ 4,7 bilhões; a Marinha, R$ 4,47 bilhões, e o Exército, R$ 3,73 bilhões. Para reaparelhamento e adequação dos meios na Marinha a previsão é de que sejam destinados, ao fim de 2011, R$ 2,7 bilhões. Programas considerados prioritários estão sendo poupados dos cortes e contingenciamentos.

Fonte: Estadão

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