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domingo, 13 de novembro de 2011

Irã e Israel: a supremacia regional e o papel do programa nuclear‏

O Irã vê o seu programa nuclear como a última linha de defesa contra o Ocidente, diz o professor iraniano Mehdi Khalaji, pesquisador no Washington Institute for Near East Policy, em entrevista ao jornal israelense Haaretz. Khalaji não acredita em um ataque israelense contra o Irã e tampouco que o Irã possa usar uma arma nuclear contra Israel. O objetivo central do regime de Teerã, defende, é assegurar supremacia regional.

Avi Issacharoff e Amos Harel - Haaretz
Não há qualquer chance real de se impedir o programa nuclear iraniano por meio da escalada de sanções ou de acordos firmados, disse um especialista iraniano ao Haaretz, dias após a Agência Internacional de Energia Atômica ter publicado um informe indicando que Teerã estava buscando desenvolver armas nucleares.
Mehdi Khalaji, pesquisador sênior no Washington Institute for Near East Policy disse que o regime iraniano considerava seu programa nuclear como a última ferramenta para preservar sua sobrevivência, de modo que o a pressão do Ocidente não poderia dissuadir Teerã de movimentos futuros.
Khalaji é considerado um dos grandes intelectuais do Irã, também por causa de sua origem social. Ele nasceu e cresceu na cidade de Qom, o maior centro para a formação acadêmica superior do muçulmano xiita. Ele estudou teologia e legislação xiita por 14 anos num dos maiores seminários de Qom, uma cidade que ainda serve de residência para o pai de Khalaji, um clérigo xiita supremo, ou Ayatollah. Em 2000, Khalji deixou o Irã e foi para a França, e depois se mudou para os Estados Unidos.
Falando com o Haaretz, o pesquisador disse que o supremo líder iraniano Ali Khamenei acredita que o Ocidente está tentando depor o regime islâmico de Teerã, chegando ao ponto de considerar a oferta de acordo do presidente Barack Obama uma fraude.
No entanto, acrescentou, a liderança iraniana também estaria desconfiada que outras nações estariam trabalhando para minar o seu regime, inclusive a Arábia Saudita, a Turquia, o Paquistão e até a China e a Rússia. Para ele,
o Irã está muito isolado, o que leva os seus dirigentes a acreditarem que um programa nuclear seria a única maneira de prevenir um ataque futuro. Essa desconfiança, disse Khalaji, não deve ser afastada tão cedo, o que parece condenar qualquer tentativa de acordo.
Quando perguntado se o Irã usaria uma arma nuclear contra Israel, uma vez tendo desenvolvido alguma, Khalaji disse que não achava que alguém no Irã estivesse pensando em usar uma bomba nuclear, e que o único objetivo do regime é obter supremacia regional. O uso de armas nucleares seria um movimento suicida da república islâmica, acrescentou.
Quanto a um possível ataque israelense, Khalaji disse que o regime iraniano não considerava uma opção viável, acrescentando que Teerã sabe que o preço potencial de um movimento desses dissuadiria quem quer que estivesse envolvido de apoiá-lo.
Ele disse ainda que o fato de o assunto ter sido amplamente discutido na mídia indicaria que, nem Israel, nem nenhum de seus aliados potenciais, estavam na verdade considerando um movimento como esse.
Quando perguntado pela reação do Irã a um possível ataque, Khalaji avaliou que um ataque iria unir os cidadãos iranianos em torno do regime, mas observou que as consequências diretas de um ataque militar eram difíceis de prever.
O pesquisador iraniano também afastou a hipótese de que o Irã inicie um ataque preventivo, ao dizer que a doutrina militar do país estabelece que Teerã tentará impedir o conflito armado em solo iraniano, escolhendo travar sua guerra contra o Ocidente fora dali: no Afeganistão, no Iraque, no Líbano e nos territórios palestinos.
O regime iraniano é ameaçado tanto pela guerra como pela paz, assinalou, sustentando que essa era a razão pela qual Khamenei buscava manter uma tensão que nem era de guerra nem de paz. Khalaji também disse que achava que as tensões recentes entre Khamenei e o presidente Mahmoud Ahmadinejad não teriam efeitos sobre o passos do programa nuclear do Irã, visto que Khamenei teria controle total sobre o mesmo. No entanto, acrescentou, há quem, na elite política do Irã defenda que o país não precisa desenvolver armas nucleares.
Quando perguntado sobre quem, na sua opinião, sucederia Khamenei como líder supremo, Khalaji lembrou que Khamenei comanda o Irã usando a Guarda Revolucionária do país e que essa a situação só deve mudar após o fim de seu reinado. Neste caso, ele acredita que os oficiais da Guarda Revolucionária escolheriam um líder espiritual mais fraco e passariam a comandar efetivamente o país.
Khalaji também se referiu ao desaparecimento da oposição política do Irã, desde as grandes revoltas de 2009, dizendo que o sentimento anti-governo estava de fato em alta. Porém, acrescentou, os descontentes não tem uma estrutura de rede verdadeira e levará um tempo ainda antes de uma oposição real vir à tona. Para ele, Khamenei tornou o Irã uma “ditadura clássica”, um regime que o povo iraniano já teria mostrado disposição em depor.
Tradução: Katarina Peixoto
http://www.cartamaior.com.br/templates/materiaMostrar.cfm?materia_id=18948

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