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quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

Com novos cortes militares, americanos serão incapazes de enfrentar dois conflitos terrestres

Por Elisabeth Bumiller e Thom Shanker, do New York Times*


     O secretário da Defesa americano, Leon Panetta, deve revelar nesta semana sua estratégia para guiar o Pentágono no corte de centenas de bilhões de dólares de seu orçamento. Isso deve revelar a visão do governo de Barack Obama sobre as forças militares de que os EUA necessitam contra as ameaças do século 21.
     Em uma mudança de doutrina provocada pelo aperto fiscal e por um acordo que evitou que um calote dos EUA, Panetta deve delinear planos para reduzir cautelosamente as forças militares. Deixará claro que o Pentágono não manterá a capacidade de travar duas guerras terrestres simultaneamente. Ele dirá que as forças militares serão capazes de combater e vencer um grande conflito, podendo também “prejudicar” as ambições de um segundo adversário em outra parte do mundo enquanto conduzem outras operações menores – como dar ajuda de emergência em catástrofes ou implementar uma zona de exclusão aérea.
     Enquanto isso, autoridades do Pentágono decidem sobre cortes potenciais em virtualmente cada área dos gastos militares: arsenal nuclear, navios de guerra, aviões de combate, salários, aposentadoria e planos de saúde. Com o fim da guerra no Iraque e a retirada do Afeganistão, Panetta está avaliando em que medida reduzir as forças terrestres.
     Existe um entendimento amplo de esquerda, direita e centro de que um corte de US$ 450 bilhões ao longo de uma década – a soma que a Casa Branca e o Pentágono acertaram – é aceitável. Isso representa cerca de 8% da orçamento básico do Pentágono. Mas há debates sobre um corte adicional total de US$ 500 bilhões.
     Panetta e os falcões da Defesa dizem que uma redução de US$ 1 trilhão, cerca de 17% do orçamento básico do Pentágono, seria ruinosa para a segurança nacional. Os democratas e alguns republicanos dizem que seria dolorosa, mas manejável. Eles acrescentam que houve cortes militares mais radicais após a Guerra Fria e as guerras na Coreia e no Vietnã.
     “Se permitirmos a continuação da tendência atual, vamos transformar o Departamento de Defesa em uma companhia previdenciária que ocasionalmente mata um terrorista”, disse Arnold L. Punaro, membro de um grupo de consultoria do Pentágono, o Defense Business Board, que defendeu mudanças no sistema de aposentadoria militar.
     Os cortes iminentes inevitavelmente forçarão decisões sobre o escopo e o futuro das forças militares americanas. Se, por exemplo, o Pentágono economizar US$ 7 bilhões em uma década reduzindo o número de porta-aviões de 11 para 10, haveria forças suficientes no Pacífico para se contrapor a uma crescente ousadia da China? Se o Pentágono economizar cerca de US$ 150 milhões nos próximos 10 anos reduzindo o Exército de 570 mil para 483 mil soldados, os EUA estariam preparados para uma guerra terrestre prolongada e desgastante na Ásia? E que tal economizar mais de US$ 100 bilhões e aposentar militares em idade economicamente ativos? Isso não quebraria uma promessa aos que arriscaram suas vidas pelo país?
     Os cálculos excluem os custos das guerras no Iraque e Afeganistão, que cairão na próxima década. Mesmo após o fim das guerras e os cortes de US$ 1 trilhão na próxima década, o orçamento anual do Pentágono, hoje em US$ 530 bilhões, encolheria para US$ 472 bilhões em 2013, o tamanho aproximado do orçamento de 2007.
     Tal como está, o Pentágono gasta US$ 181 bilhões por ano, quase um terço de seu orçamento básico, em despesas com pessoal militar: US$ 107 bilhões em salários e pensões, US$ 50 bilhões em assistência médica e US$ 24 bilhões em pagamento de aposentados. Um analista independente, Todd Harrison, calculou que se os custos com o pessoal militar continuarem a subir no ritmo da última década, em 2039 todo o orçamento da Defesa seria consumido por gastos com pessoal. Algumas propostas pedem o estabelecimento de tetos para o aumento de salários militares, que tiveram aumentos de dois dígitos desde o 11 de Setembro.
     Em nenhum outro ponto a questão de equilibrar orçamento e estratégia é mais desafiadora que na decisão do tamanho das forças de combate terrestres. O chefe do Estado-maior do Exército, general Ray Odierno, ex-comandante no Iraque, assinala que o Exército tinha 480 mil pessoas uniformizadas antes dos ataques de 11 de Setembro, e esse número era supostamente capaz de travar duas guerras ao mesmo tempo. Mas o Exército se mostrou pequeno demais para sustentar as guerras no Afeganistão e no Iraque, e foi aumentado para 570 mil. O Exército deve cair para 520 mil soldados a partir do início de 2015. A realidade é que os EUA podem não ser capazes de travar duas guerras simultaneamente.
     O tamanho das forças militares é determinado não só para vencer guerras, mas também para dissuadir adversários de iniciar hostilidades. Isso salienta a lógica americana de manter uma presença de combate em bases no exterior e realizar patrulhamentos aéreos e marítimos regulares por todo o globo. Embora a manutenção no dia a dia das ogivas nucleares americanas seja relativamente barata, as três pernas da tríade de ataque nuclear – submarinos, aviões bombardeiros e mísseis baseados em terra – estão chegando ao fim de sua vida útil praticamente ao mesmo tempo.

*SÃO JORNALISTAS

TRADUÇÃO DE CELSO PACIORNIK

FONTE: http://blogs.estadao.com.br/radar-global/visao-global-uma-guerra-por-vez-para-os-eua/

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