Os Estados Unidos e a Al Qaeda estão do mesmo lado na Síria. Não que seja o
errado. Mas não deixa de ser irônico que Washington e a rede terrorista
compartam os mesmos interesses no conflito que opõe Bashar al Assad e a
oposição.
Esta será a terceira vez que os EUA e os integrantes da rede terrorista
adotam a mesma posição. A primeira, claro, foi no Afeganistão, nos anos 1980. Na
época, o nome Al Qaeda ainda não existia. Diante de um governo aliado da União
Soviética, os americanos treinaram e armaram os mujahedin e integrantes do
Taleban. Uma década mais tarde, o Taleban, tratando as mulheres como lixo, dava
guarida à Al Qaeda, composta por mujahedins como Bin Laden, que estiveram
ligados ao 11 de Setembro.
Em 1991, os EUA lançaram uma guerra para expulsar as forças de Saddam Hussein
do Kuwait. George Bush, o pai, evitou os erros de Ronald Reagan e não derrubou o
regime e tampouco aceitou o apoio dos mujahedin, que eram inimigos radicais do
regime de Bagdá. Uma década mais tarde, o ditador iraquiano era um “pato manco”,
como dizem nos EUA, sem poder algum. Mas o Bush filho decidiu derrubá-lo e hoje
o governo é o principal (isso mesmo) aliado de Teerã, maior inimigo dos
americanos.
Desta vez, a administração de Barack Obama quer a queda de Assad. A Al Qaeda,
também, afinal o governo sírio é o mais secular do mundo árabe, sendo tolerante
com homossexuais, drogas, bebidas e proibindo, até pouco tempo atrás, que
mulheres cobrissem a cabeça com o véu em prédios públicos. A rede terrorista
estaria por trás de atentados contra o regime em Damasco e Aleppo. Cada vez
mais, membros das milícias opositores se aliam aos herdeiros de Bin Laden. Seu
sucessor, Ayman al Zawahiri, declarou apoio à oposição em Homs.
Mas, insisto, a Al Qaeda estar apoiando os opositores não significa que o
movimento anti-Assad esteja errado. Apenas serve de advertência para os EUA. Na
Líbia, bandeiras da rede terrorista são hasteadas em instituições
governamentais. As armas também aos poucos passam para simpatizantes da
organização de Bin Laden, que ocuparam o espaço de um regime derrubado
justamente pela OTAN.
Na verdade, o maior inimigo dos EUA é o Irã. E, da Al Qaeda, também.
FONTE Estadão On Line http://blogs.estadao.com.br/gustavo-chacra/
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