A BOMBA E O BOMBARDEIO
Por Ari Shavit, correspondente do NYT e Haaretz.
Se o Irã se tornar nuclear isso mudará
nosso mundo. Uma bomba atômica iraniana forçará Arábia Saudita, Turquia e Egito
a conseguir suas bombas nucleares. Dessa maneira, uma arena nuclear multipolar
se estabelecerá na região mais volátil da Terra.
Cedo ou tarde, esse desenvolvimento sem
precedente produzirá um evento nuclear. O mundo que conhecemos deixará de ser o
mundo que conhecemos após Teerã, Riad, Cairo ou Tel-Aviv se tornarem a
Hiroshima do século 21.
Uma bomba iraniana provocará uma
proliferação nuclear universal. A maior conquista da humanidade de 1945 para cá
foi controlar os armamentos nucleares limitando o número de membros do
exclusivo clube atômico. Esse arranjo injusto criou uma ordem mundial que
garantiu uma relativa paz mundial.
Mas se o Irã se tornar nuclear e o Oriente
Médio também o mesmo ocorrerá com o Terceiro Mundo. Se os aiatolás puderem ter
o brinquedo mortal de Robert Oppenheimer, toda potência emergente na Ásia e na
África terá o direito de tê-lo. A ordem mundial de 60 anos que garantiu a paz
mundial ruirá.
Uma bomba atômica iraniana dará uma
influência avassaladora ao Islã radical. Uma vez nuclear, o ascendente poder
xiita dominará o Iraque, o Golfo Pérsico e os preços internacionais do
petróleo. Ele disseminará o terror, provocará guerras convencionais e
desestabilizará nações árabes moderadas.
Da mesma forma que as ogivas nucleares
iranianas colocarão em risco Israel, elas colocarão em risco a Europa. Pela
primeira vez, centenas de milhões de cidadãos de sociedades livres viverão sob
a sombra do poderio militar de fanáticos religiosos. A união do fundamentalismo
extremo com a arma extrema imbuirá o mundo em que vivemos de um viés infernal.
Se Israel atacar o Irã isso mudará nosso
mundo. Um ataque israelense a instalações nucleares do Irã criará a crise
internacional mais dramática da era pós-Guerra Fria. Se o Estado judeu e a
república xiita se atacarem, o Oriente Médio será abalado. Crescerão as tensões
entre Rússia, China e Índia pró-Irã e Estados Unidos, Grã-Bretanha, França e
Alemanha anti-Irã. À medida que os preços do petróleo subirem fortemente, os
mercados financeiros entrarão em pânico e a economia mundial experimentará um
verdadeiro retrocesso.
Um ataque israelense a instalações
nucleares iranianas desencadeará uma guerra regional cujas consequências
poderiam ser catastróficas. O Irã contra-atacará com tudo que tem: Hezbollah,
Hamas, mísseis, surpresas estratégicas. O Irã bloqueará o Estreito de Ormuz e
convocará todos os muçulmanos a virem em sua ajuda. Embora a maioria dos
regimes árabes seja secretamente favorável a uma operação israelense, as massas
árabes poderão se erguer.
Por todo o mundo, milhões de muçulmanos
verão o ataque ao Irã como um ataque ao próprio orgulho e dignidade. A disputa
religiosa provocada pela ação israelense poderá durar décadas.
Um ataque israelense a instalações
nucleares iranianas poderá arrastar os EUA para a guerra. Israel tem um poder
aéreo limitado. As cidades israelenses estão ameaçadas por 200 mil foguetes. Se
uma contraofensiva liderada pelo Irã colocar Tel-Aviv em chamas e matar
milhares de civis israelenses, os EUA se sentirão obrigados a intervir. Em vez
de iniciar um ataque cirúrgico americano bem planejado e internacionalmente
respaldado ao projeto nuclear do Irã, os EUA ficarão reféns de uma guerra entre
Israel e o Irã que poderá fugir do controle. Após sair do lamaçal iraquiano e
quando tenta sair do deserto afegão, os EUA se verão atolados num conflito
fortemente carregado e muito dispendioso com a República Islâmica.
A questão internacional chave que o
Ocidente vem enfrentando nos primeiros 12 anos do século 21 é o Irã. O desafio
estratégico fundamental da última década foi como evitar duas ameaças: uma
bomba (iraniana) e um bombardeio (israelense). Mas o Ocidente não conseguiu se
colocar à altura do desafio em tempo.
Durante anos, ele cometeu cada erro
possível. Primeiro, o presidente George W. Bush concentrou-se no Iraque e não
no Irã. Depois, o presidente Barack Obama gastou um tempo precioso numa
diplomacia inútil. Grã-Bretanha e França fizeram o melhor que podiam, mas a
União Europeia fez corpo mole na hora de tomar decisões cruciais. As sanções
econômicas que deveriam ter sido ativadas dez anos atrás só foram ativadas no
ano passado.
As sanções paralisantes que deveriam ter
sido impostas em 2005 ainda não o foram. O viés da diplomacia assertiva não foi
seguido a sério quando teria sido eficaz. O viés da solução política criativa
nunca foi realmente explorado. A liderança ocidental não endossou uma terceira
via estratégica dura, consistente, abrangente e engenhosa que pudesse evitar
bomba e bombardeio.
Dentro de nove meses, os iranianos estarão
imunes a um ataque aéreo israelense. Assim, o verão de 2012 (junho a setembro
no Hemisfério Norte) está com ares de verão da última oportunidade. Se nos
próximos meses não forem impostas sanções incapacitantes ao Irã e Israel não
houver obtido garantias substanciais para a sua sobrevivência futura, tudo pode
acontecer. As portas do inferno poderão se abrir. Se o Ocidente não agir em
conjunto neste momento, ele poderá ter de enfrentar, em breve, as consequências
terríveis de sua impotência. / TRADUÇÃO DE CELSO PACIORNIK
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