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segunda-feira, 26 de março de 2012

A hipocrisia é também israelense


    Após a aprovação, por unanimidade, no Conselho dos Direitos Humanos da ONU de uma missão internacional independente para investigar as consequências das colônias israelenses no território palestino, o governo de Israel mostra-se irritado.
    Construção de novas habitações no assentamento judaico de Glio, em Jerusalém Oriental, em outubro de 2011. Foto: Menahem Kahana/AFP
     A resolução, apresentada pelos palestinos para avaliar direitos civis, políticos e econômicos nestas regiões, foi vista como “hipócrita” pelo primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu.
    Os Estados Unidos, único país a votar contra a medida, se disseram “profundamente incomodados com a predisposição do Conselho contra Israel” e que esses “passos não fazem nada para promover uma paz justa e duradoura.”
     Resta saber, na visão de EUA e Israel, quais passos levariam a uma “paz duradoura”, uma vez que o “esforço” destes países em construí-la parece inócuo.
     O governo israelense declarou em janeiro que a ocupação dos territórios palestinos terminará apenas com negociações de paz. Por outro lado, as conversas estão paradas há quase dois meses, mesmo com alerta da ONU de que a situação na área se complica a cada dia.
     A interrupção nas conversas ocorre, em grande parte, pelo projeto de assentamentos de Israel, que continua a adentrar em território palestino. Um movimento condenado pela comunidade internacional.
     Mais de 310 mil colonos israelenses vivem na Cisjordânia e outros 200 mil em bairros de Jerusalém Oriental, ocupada e anexada por Israel desde 1967.
     Após a decisão do conselho, o Ministério do Exterior israelense disse em comunicado: “Os palestinos devem entender que não podem ter as coisas de dois jeitos: não podem aproveitar cooperação com Israel e ao mesmo tempo iniciar batalhas políticas em fóruns internacionais. A escolha deles de alimentar o confronto e provocação, ao invés do compromisso e reconciliação, é nada além de uma estratégia destrutiva que a comunidade internacional deveria rejeitar firmemente.”
     Uma declaração contraditória, visto que o país também aceitou o “caminho do confronto e da provocação” ao retaliar a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) com um corte de 2 milhões de dólares em doação ao órgão da ONU. Isso ocorreu após a Palestina ser aceita como membro pelo organismo no final do último ano.
     Os EUA fizeram o mesmo: cortaram 70 milhões de dólares anuais, ou 22% do orçamento da Unesco, em doações ao órgão.
     Neste cenário, o embaixador palestino na ONU, Ibrahim Khraishisaid, disse que os assentamentos deveriam ser condenados por violação dos direitos humanos. “Não queremos isolar Israel, mas quando vemos que o país não parou de pegar nossas terras, devemos agir. Se isso continuar, como vamos ser capazes de aplicar uma solução com dois Estados?”
  Netanyahu criticou fortemente a criação da missão da ONU para investigar colônias israelenses. Foto http://www.maggiesnotebook.com/wp-content/uploads/2011/05/Benjamin_Netanyahu_38.jpg
     
     Um ponto de vista abraçado pelo jornal israelense Haaretz, que condena em editorial a política de assentamentos. O diário aponta que o governo de Netanyahu está enganando a comunidade internacional, “pois ao invés de promover negociações para uma solução em dois Estados com a Palestina, ignora o consenso internacional, leis internas e seus próprios comprometimentos com os EUA.”
     Prova disto, seria uma decisão da Corte Suprema Israelense de quinta-feira 23. A instância declarou que uma lei a definir que colonizadores podem ganhar a custódia de terra agriculturável provando o cultivo na terra por mais de 10 anos não era suficiente. Para conseguir um terreno em área de colonização, é preciso fazê-lo de forma honesta, disse.

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