Após a aprovação, por unanimidade, no
Conselho dos Direitos Humanos da ONU de uma missão internacional independente
para investigar as consequências das colônias israelenses no território
palestino, o governo de Israel mostra-se irritado.
Construção de novas habitações no
assentamento judaico de Glio, em Jerusalém Oriental, em outubro de 2011. Foto:
Menahem Kahana/AFP
A resolução, apresentada pelos palestinos
para avaliar direitos civis, políticos e econômicos nestas regiões, foi vista
como “hipócrita” pelo primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu.
Os
Estados Unidos, único país a votar contra a medida, se disseram
“profundamente incomodados com a predisposição do Conselho contra Israel” e que
esses “passos não fazem nada para promover uma paz justa e duradoura.”
Resta saber, na visão de EUA e Israel,
quais passos levariam a uma “paz duradoura”, uma vez que o “esforço” destes
países em construí-la parece inócuo.
O governo israelense declarou em janeiro
que a ocupação dos territórios palestinos terminará apenas com negociações de
paz. Por outro lado, as conversas estão paradas há quase dois meses, mesmo com
alerta da ONU de que a situação na área se complica a cada dia.
A interrupção nas conversas ocorre, em
grande parte, pelo projeto de assentamentos de Israel, que continua a adentrar
em território palestino. Um movimento condenado pela comunidade internacional.
Mais de 310 mil colonos israelenses vivem
na Cisjordânia e outros 200 mil em bairros de Jerusalém Oriental, ocupada e
anexada por Israel desde 1967.
Após a decisão do conselho, o Ministério
do Exterior israelense disse em comunicado: “Os palestinos devem entender que
não podem ter as coisas de dois jeitos: não podem aproveitar cooperação com
Israel e ao mesmo tempo iniciar batalhas políticas em fóruns internacionais. A
escolha deles de alimentar o confronto e provocação, ao invés do compromisso e
reconciliação, é nada além de uma estratégia destrutiva que a comunidade
internacional deveria rejeitar firmemente.”
Uma declaração contraditória, visto que o
país também aceitou o “caminho do confronto e da provocação” ao retaliar a
Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco)
com um corte de 2 milhões de dólares em doação ao órgão da ONU. Isso ocorreu
após a Palestina ser aceita como membro pelo organismo no final do último ano.
Os EUA fizeram o mesmo: cortaram 70
milhões de dólares anuais, ou 22% do orçamento da Unesco, em doações ao órgão.
Neste cenário, o embaixador palestino na
ONU, Ibrahim Khraishisaid, disse que os assentamentos deveriam ser condenados
por violação dos direitos humanos. “Não queremos isolar Israel, mas quando
vemos que o país não parou de pegar nossas terras, devemos agir. Se isso
continuar, como vamos ser capazes de aplicar uma solução com dois Estados?”
Netanyahu criticou
fortemente a criação da missão da ONU para investigar colônias israelenses. Foto http://www.maggiesnotebook.com/wp-content/uploads/2011/05/Benjamin_Netanyahu_38.jpg
Um ponto de vista abraçado pelo jornal
israelense Haaretz, que condena em editorial a política de assentamentos. O
diário aponta que o governo de Netanyahu está enganando a comunidade
internacional, “pois ao invés de promover negociações para uma solução em dois
Estados com a Palestina, ignora o consenso internacional, leis internas e seus
próprios comprometimentos com os EUA.”
Prova disto, seria uma decisão da Corte
Suprema Israelense de quinta-feira 23. A instância declarou que uma lei a
definir que colonizadores podem ganhar a custódia de terra agriculturável
provando o cultivo na terra por mais de 10 anos não era suficiente. Para
conseguir um terreno em área de colonização, é preciso fazê-lo de forma
honesta, disse.
FONTE: Carta Capital http://www.cartacapital.com.br/internacional/a-hipocrisia-e-tambem-israelense/
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