Devido à sua relevância geopolítica e
geoestratégica, interligando o subcontinente indiano ao Mar Mediterrâneo, seria
virtualmente inevitável o spillover da guerra contra o Irã, deflagrada por
Israel com ou sem a participação dos Estados Unidos, devido às suas implicações
religiosas e sectárias. Embora o número de xiitas, entre os muçulmanos,
represente de 10% a 11%, contra mais ou menos 90% de sunitas, eles constituem a
maioria da população do Irã, Azerbaijão, Iraque, Bahrain, minorias
qualitativamente importantes em praticamente todos países do Oriente Médio e
adjacências. Estão concentrados em áreas estrategicamente importantes para o
Irã [1].
Na Arábia Saudita, em uma população de
19,4 milhões, os xiitas, cerca de 1,5 milhão a 2 milhões de habitantes, representam
cerca 10%, mas estão concentrados em al-Qatif e al-Awamiyah, na Província
Oriental, a mais rica em petróleo, onde representam 1/3 dos moradores e vivem
institucionalmente discriminados, nas piores condições econômicas, proibidos de
construir suas mesquitas etc [2]. As tensões são antigas. Desde 2011, a
população xiita começou a protestar, com mais intensidade, e a insurgir-se, mas
as manifestações pacíficas foram reprimidas brutalmente pelas tropas do rei
Abdullah. Tanto nas manifestações de 24 de novembro de 2011 quanto em 24 de
janeiro de 2012, diversos civis, que protestavam, pacificamente, foram mortos e
milhares, presos [3]. E a mídia internacional nenhuma relevância deu a esses
fatos.
Entretanto, os xiitas, concentrados em
al-Qatif e al-Awamiyah, na Província Oriental, configuram um punhal apontado
para o coração petrolífero do país, de onde os Estados Unidos importam cerca de
12% dos 19 milhões de barris que consumiam, a cada 24 horas, em 2011 [4]. Nos
primeiros meses de 2012, diversas manifestações de protestos contra a monarquia
wahhabista e os Estados Unidos ocorreram ao longo dos portos da Arábia
Saudista, envolvendo Qatif (al-Qatif), Rabiyia (al-Rabeeya) e Awamiyah
(al-Awamia), porto este por onde fluem mais de 2 milhões de barris de petróleo
todos os dias [5].
No caso de guerra contra o Irã, os xiitas
certamente voltariam a rebelar-se e atacar os campos petrolíferos lá
existentes, assim como as instalações dos Estados Unidos e das companhias
norteamericanas, como aconteceu em 25 de junho de 1956, quando um atentado
terrorista explodiu as Khobar Towers, perto da companhia Saudi Aramco, na
cidade de Dhahran, matando 19 soldados e civis americanos. A estabilidade e a
integridade geográfica da Arábia Saudita estariam ameaçadas, inclusive pela
secessão da Província Oriental, região de fundamental importância, não apenas
econômica, mas também geopolítica e estratégica, pois está situada à margem do
Golfo Pérsico e sua capital, Dammam, ligada a Bahrain pela ponte de Manama.
Os xiitas compõem cerca de 70% da
população de Bahrain, estimada (2011) em 1.214.705 habitantes (cerca de 517.368
são trabalhadores estrangeiros) e poderiam, provavelmente, aproveitar as
circunstâncias para também se rebelar contra o regime do emir sunita,
auto-proclamado rei 2002, Hamad bin Isa al Khalifa, como o fizeram em 2011 e
foram sangrentamente reprimidos pelas tropas da Arábia Saudita e dos Emirados
Árabes Unidos, que atravessaram a ponte de Manama sob a égide do Gulf
Cooperation Council (GCC), a fim de sufocar as manifestações e proteger as
“instalações estratégicas” lá existentes. A população xiita vive econômica e
politicamente marginalizada. E suas manifestações, exigindo reformas
democráticas, sob a liderança do clérigo Sheik Isa Qassim, não cessaram,
reproduziram-se em março de 2012, assustando a elite sunita e a monarquia
Wahhabi da Arábia Saudita.
Bahrain é um pequeno país insular, de 692
km², um arquipélago de trinta e cinco ilhas e ilhotas, no Golfo Pérsico, mas,
embora sua produção atual de petróleo seja diminuta, da ordem aproximada de
239,900 bbl/d (2009 est.), tem fundamental importância geopolítica e
estratégica para a Arábia Saudita e, principalmente, para os Estados Unidos. A
5ª Frota está estacionada na base naval de Manama, com 40 navios e 30.000
efetivos, e o aeroporto de Muharaq e a base aérea Sheik Isa são usados pela
Força Aérea americana para as operações no Golgo Pérsico, no Mar Vermelho, no
Mar Árabe e no Estreito de Hormuz. A presença militar dos Estados Unidos
legitima a autocracia sunita da família al Khalifa. E se a maioria xiita
assumir ou assumisse o poder em Bahrain certamente contaria com o respaldo da
população da Província Oriental, que também se insurgiria na Arábia Saudita e
certamente teria o suporte do Iraque e do Irã.
A guerra sectária espraiar-se-ia, também,
ao Líbano, à Jordânia, recrudesceria no Iraque e na Síria, bem como na Líbia e
no Iêmen, e poderia atingiria Qatar, onde os Estados Unidos construíram
instalações do US Central Command (USCENTCOM) e US Army Forces Central Command
(ARCENT), em Sayliyah, aquartelando duas brigadas e mais de 11.000 soldados. Na
Base Aérea de Al Udeid, localizada a oeste de Doha, estão instalados o United
States Central Command (USCC) e United State Air Force Central Command (USAFCC),
bem como hospedada a 379th Air Expeditionary Wing da USAF e No. 83
Expeditionary Air Group RAF. De um modo ou de outro, a guerra sectária afetaria
e envolveria as tropas dos Estados Unidos, dado que há décadas apóiam Israel e
os regimes ditatoriais da região, inclusive a monarquia Wahhabi, absolutista e
corrupta, da Arábia Saudita, e o resultado seria o incremento do
anti-americanismo e o maior fortalecimento de al-Qa’ida.
O desastre econômico
Cerca de 64% das reservas mundiais de
petróleo (o Irã é o quarto maior exportador) estão situadas no Oriente Médio,
que supre 70% das necessidades mundiais de petróleo, e a rota do Golfo Pérsico,
atravessando o Estreito de Hormuz, até o Golfo de Oman é vital para o economia
mundial, uma vez que por aí passam 40% do transporte marítimo global de
petróleo e a guerra inevitavelmente interromperia o fluxo de 15 Mb/d do cru
para a Europa e os Estados Unidos, bem para como a China, Japão e Coréia do
Sul, entre outros países. O Estreito de Hormuz seria diretamente afetado e, em
conseqüência, o transporte de óleo, ainda que o Irã não o bloqueasse
militarmente.
Desde o início de 2012, o preço do
petróleo tipo Brent aumentou em cerca de 10% e chegou a US$ 125,98, em março,
devido à instabilidade no Oriente Médio. O Irã exporta 2,5 milhões de barris de
petróleo por dia, e a Opep não tem possibilidade de compensar esse volume, no
caso de um ataque de Israel ao Irã. E a guerra entre os dois países, além de
massacrar, possivelmente, milhares de árabes e israelenses, bem como
norteamericanos, elevaria o preço do gás e do petróleo a um nível inimaginável,
catapultado para uma cifra superior a US$ 250, ou mesmo chegar US$ 500 o
barril, interrompendo o comércio e causando um cataclismo na economia mundial,
já abalada e deprimida, desde 2007-2008, pela crise do sistema financeiro, a
partir do colapso do Lehman Brothers e outras corporações, e não superada nem
nos Estados Unidos nem na Europa, até 2012. Os voláteis mercados financeiros
entrariam em completo pânico, com outro golpe, muito mais profundo, que
atrasaria ainda mais a recuperação do crescimento econômico dos Estados Unidos
e, sobretudo, da União Européia.
O ex-presidente George W. Bush, em 2003,
solicitou US$ 87 bilhões para a reconstrução do Iraque e do Afeganistão. Entretanto,
desde então, os Estados Unidos estão a gastar cerca de US$ 2 trilhões por ano,
nas duas guerras, e menos de 5% do total foi usado para a reconstrução [6]. Só
em 2011, a campanha na Líbia custou para cada contribuinte norteamericano cerca
de US$ 2 milhões por dia [7]. E, ao fim do ano, os Estados Unidos haviam
gastado em torno de US$ 1 bilhão, fornecendo à OTAN mísseis, aviões de
monitoramento, drones e toda sorte de munição para derrubar o regime de Muammar
Kaddafi e levar o país ao caos [8].
Uma conflagração, abrangendo todo o
Oriente Médio, envolveria necessariamente os Estados Unidos, cuja dívida
pública, em 11 de março de 2012, havia alcançado um montante de mais de US$
15,5 trilhões, maior que o PIB, estimado em US$ 15,04 trilhões (2011) [9], e
continuava a crescer cerca de US$ 4,01 bilhão por dia [10]. E seus gastos na
região, que já somam trilhões de dólares, cresceriam de maneira
insuportavelmente esmagadora.
Em 2002, o presidente George W. Bush
(2001-2005 e 2005-2009) acusou o Irã de constituir com o Iraque e a Coréia do
Norte o “eixo do mal”. E ordenou que o U.S. Strategic Command, apoiado pela
Força Aérea, elaborasse planos para bombardear o Irã. Porém, dentro do
Pentágono, generais e almirantes advertiram que o bombardeio do Irã provavelmente
não destruiria todas as suas instalações nucleares e poderia produzir sérias
conseqüências econômicas, políticas e militares para os Estados Unidos [11]. A
comunidade de inteligência não havia encontrado evidência específica de
atividades clandestinas ou de instalações ocultas e que os planos de guerra não
eram seguros de acertá-las. E o presidente George W. Bush recuou, mas atacou o
Iraque e o general Collin Powell, então secretário de Estado, até compareceu à
reunião do Conselho de Segurança da ONU, em 6 de fevereiro e em 7 de março de
2003, para provar que Saddam Hussein possuía armas químicas e nucleares e era
necessário urgentemente atacá-lo e derrubar seu regime. O presidente George W.
Bush e o general Collin Powel mentiram. O Iraque não possuía nenhuma arma
nuclear nem química.
Um oficial de alta patente do Pentágono
comentou com o notável jornalista americano Seymour M. Hersh que a experiência
no Iraque fora profundamente falha (deeply flawed) e havia afetado a avaliação
do Irã. E acrescentou que “we
built this big monster with Iraq, and there was nothing there. This is
son of Iraq” [12]. Os Estados Unidos perderam a credibilidade e, nove anos
depois de atacar e invadir o Iraque, onde perderam cerca de 4.486 soldados,
tiveram 33.184 seriamente feridos e mataram entre 106.000 e 115.00 iraquianos
[13], o presidente Barack Obama teve de retirar suas tropas, até 31 de dezembro
de 2011, deixando quase todo o país arruinado, 470.000 pessoas vivendo em 382
acampamentos, em áreas inseguras, às quais faltam empregos e serviços básicos,
conforme os dados da United Nations High Commissioner for Refugees (UNHCR)
[14]. E ainda cerca de um milhão de iraquianos estão deslocados, por diversas
regiões, e milhares vivem em condições miseráveis, incapazes de voltar às suas
áreas de origem por causa da insegurança da situação ou da destruição de seus
lares e falta de serviços básicos [15].
A situação no Afeganistão, de onde os
Estados Unidos e seus aliados da OTAN estavam a planejar a retirada as tropas
até o fim de 2014, não é muito diferente. Em março de 2012, o país continuava
inseguro, em meio à uma situação econômica e politicamente instável, com um
governo corrupto e incompetente, em meio graves problemas sociais - 1/3 da
população desnutrida, menos de 1/4 com água limpa, desemprego- e 2,7 milhões de
afegãos refugiados na região e cerca de 3 milhões no resto do mundo [16]. As
forças dos Estados Unidos/OTAN haviam destruído casas, culturas e
infra-estruturas e prosseguia o deslocamento de pessoas, cerca de 350.000,
dentro do Afeganistão.
Em 16 de outubro de 2011, o ministro da
Agricultura, Mohammad Asif Rahimi, revelou que mais de 30% da população afegã
vivia abaixo da linha de pobreza e que era necessário investir na agricultura
cerca de US% 1 bilhão por ano para evitar a crise de fome [17]. Dez anos de
ocupação pelas tropas dos Estados Undos/OTAN fizeram do Afeganistão um dos
países mais pobres, instáveis e inseguros do mundo [18].
Conforme o relatório “Costs of War”,
preparado por acadêmicos, participantes do Eisenhower Research Project do
Watson Institute for International Studies, da Brown University, as guerras no
Afeganistão, Iraque e Paquistão, em dez anos, mataram 225.000 pessoas,
incluindo homens e mulheres militares, mercenários das empresas privadas
militares e civis. Só no Afeganistão foram mortos 137.000 civis, e mais 35.600
civis mortos no Paquistão. Até agosto de 2011 haviam morrido 5.998 soldados
americanos, 43.184 foram declarados oficialmente feridos, no Afeganistão e no
Iraque, e 54.592 requereram sair do teatro das Operations Enduring Freedom,
Iraqi Freedom, New Dawn, por motivos médicos. E os custos financeiros
situavam-se entre US$ 3.2 e US$ 4 trilhões, incluindo assistência médica e
auxílio aos que estão ou estarão mutilados. Há muitos outros custos que não
puderam ser quantificados, mas as guerras contra o terror, empreendidas pelos
Estados Unidos, foram quase totalmente financiadas por empréstimos, juros de
US$ 185 bilhões já pagos ou a pagar, e outro US$ 1 trilhão pode aumentar através
de 2020 [19]. Isto significa que de 3% a 4% do custo anual das duas guerras, no
valor total de US$1.27 trilhão, foi financiado com cartão de crédito, segundo
Joseph Lazzaro [20].
Com duas guerras perdidas, no Iraque e no
Afeganistão, do qual ainda busca uma retirada mais ou menos honrosas para as
suas tropas, o presidente Barack Obama parece consciente do problema tanto
econômico quanto militar. E não quer fazer uma aventura, especialmente em um
ano eleitoral, embora não se possa desconsiderar o grau de “instabilidade e
imaturidade” da opinião pública, nos Estados Unidos, i.e., do “seu potencial de
histeria” conforme observou, há alguns anos passados, o inesquecível cientista
político americano Brady Tyson [21]. A comunidade de inteligência dos Estados Unidos
não está convencida de que o Irã pretenda realmente construir armas nucleares e
a National Intelligence Estimate (NIE) de 2011 confirmou as conclusões de 2007
e 2010, segundo as quais o programa o programa foi paralisado desde 2003 [22].
Contudo, não descartou a possibilidade de que seja capaz de produzir bastante
urânio enriquecido (HEU), que tanto serve para uso civil (geração de energia
nuclear), quanto para uso militar (produção de armas atômicas).
O general James R. Clapper Jr., diretor da
National Intelligence dos Estados Unidos, declarou que os especialistas
americanos crêem que o Irã está a preservar a opção de produzir armamento
nuclear, contudo nçao havia nenhuma evidência de que tomara essa decisão ou
estivesse disposto a levar adiante esse propósito. O general David H. Petraeus,
diretor da CIA, bem como o secretário de Defesa, Leon E. Panetta, e o general
Martin E. Dempsey, chefe do Estado Maior Conjunto das Forças Armadas, fizeram a
mesma avaliação em suas entrevistas na televisão [23]. E o Ayatollah Ali
Khamenei, líder dos (principistas), que venceram as eleições para o Parlamento
(Majlis Shora Eslami) de março de 2012, e Supremo Guardião de suas leis
religiosas (Velayat-e Faqih), reiterou que o Irã não estava em busca de armas
“nucleares” e estocá-las é algo “inútil e perigoso” [24].
As contradições em
Israel
Mais da metade da população de Israel é
contrária a atacar o Irã, segundo pesquisa divulgada pelo diário israelense
Ha'aretz, e acha que, se fosse necessário, não deveria fazê-lo sozinho [25].
Mas o governo do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, do Likud, está
estreitamente aliado ao partido Ysrael Beitenu, sob a liderança de Avigdor
Liebermen, ministro dos Assuntos Estrangeiros, de ultra-direita, que passou a
influenciar grande parte da população de Israel. De 1989, com a desintegração
do Bloco Socialista, até 2011, cerca de 1 milhão de russos de origem judaica
haviam emigrado para Israel, passando a constituir 1/6 da população judaica
(cerca de 6 milhões), a maioria dos quais de direita, ainda com a mentalidade
da guerra fria.
Por outro lado, os ultra-ordotoxos
sionistas, fundamentalistas, predominam entre os 350.000 a 400.000 colonos que
expandem seus assentamentos na bíblica Judéia e Samaria, i.e., na Banda
Ocidental ou Cisjordânia, os territórios ocupados por Israel na guerra de 1967.
Eles almejam retomar toda a Palestina ou Canaã, a Terra Prometida, a Terra de
Israel (Eretz Yisrael), e influenciam cada vez mais a IDF. Contudo, conquanto
ainda existam 256 Kibbutzim (16 religiosos), com cerca de 106.000 habitantes e
localizados em áreas periféricas, como Arava, o sonho de Israel como sociedade
igualitária já se desvaneceu.
O
Adva - 2009-10 Annual Social Report demonstrou que quase 40% dos israelenses
“find it difficult or very difficult to live on their current income.” [26]
O diário Ha’aretz calculou que os 500 israelenses mais ricos possuem um
montante US$ 75 bilhões, num país cujo PIB é de apenas US$ 205 bilhões enquanto
as 20 famílias mais ricas controlam quase a metade do mercado de ações [27]. E
a fortuna conjunta desses mais ricos é 25% maior do que o orçamento de Israel
em 2011 [28]. São eles o principal suporte do governo da coalizão dos partidos
Likud-Ysrael Beitenu, de extrema direita. E as massivas demonstrações de
protesto, que culminaram, em setembro de 2011, com a marcha de 430.000 pessoas
(a maior na história de Israel), em Tel Aviv, evidenciaram que as principais
contradições no país não são apenas étnicas ou religiosas, mas também sociais.
Mais de 60 anos após sua constituição,
Israel apresenta enorme nível de desigualdade, com uma economia inteiramente
dependente dos Estados Unidos, dos quais recebem, desde 1985, US$ 3 bilhões por
ano [29], a maior parte como ajuda militar, embora não cubra todas as despesas
do orçamento militar, avaliado no mínimo em US$ 13 bilhões ou, aproximadamente,
7-8% do PIB, um dos mais altos do mundo [30]. O custo dos Estados Unidos, com a
instabilidade no Oriente Médio, cujo epicentro é o conflito Israel-Palestina,
alcançou um total de quase US$ 3 trilhões, em dólares de 2002, maior do que o
custo com a guerra no Vietnã [31].
Tudo indica que a retórica de Benjamin
Netanyahu, ávido por atacar o Irã, seja para pressionar o presidente Barack
Obama a conceder armamentos ainda mais sofisticados e avançados a Israel, ao
competir com os extremistas do Partido Republicano. O presidente George W.
Bush, durante sua administração, recusou-se a vender-lhe bombas de penetração
profunda (bunker-penetrating bombs) e aviões de reabastecimento, em
conseqüência das estimativas de que Israel pudesse usá-los para atacar as instalações
nucleares do Irã [32].
Entretanto, o Prêmio Nobel da Paz,
presidente Barack Obama, atendeu às solicitações do primeiro-ministro Benjamin
Netanyahu e autorizou o secretário de Defesa, Leon Panetta, a negociar com o
ministro de Defesa de Israel, Ehud Barak, a venda de aviões de reabastecimento
e de bombas de penetração profunda (GBU-28 bunker-piercing) [33]. O Ma’ariv
Israeli News Service informou que o fornecimento de tais armas a Israel visou
um acordo com o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu no sentido de que ele
retardasse o ataque ao Irã até 2013 [34]. Contudo, fontes políticas de Israel
informam que a maioria do gabinete é a favor de um ataque militar ao Irã, mesmo
sem a aprovação dos Estados Unidos e o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, no
Knesset (Parlamento), fez um discurso bem explícito e resoluto, declarando que
não hesitaria em tomar qualquer iniciativa, mesmo sem o acordo do presidente
Barack Obama, e citou como precedente o primeiro-ministro Menahem Begin
(1977–1983), que mandou bombardear o reator do Iraque, contra a orientação de
Washington e a opinião de Yitzhak Hofi, do Mossad, e Yehoshua Saguy, chefe da
inteligência da IDF [35]. E, preparando a opinião pública para a guerra, acusou
o Irã como a “força dominante”, por trás dos ataques de Gaza, declarando que os
“grupos de terror” estão sob o seu guarda-chuva e que os israelenses poderiam
imaginar o que aconteceria se estivessem armados com bombas nucleares.
Conforme percebeu Aluf Benn, editor-chefe
do diário israelense Ha’aretz, o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, desde
que retornou da visita a Washington, no início de março de 2012, empenhou-se,
com um warmonger, em preparar a opinião pública para a guerra contra o Irã,
tentando convencê-la de que a ameaça a Israel é tangível e existencial e deve
ser suprimida para evitar um "second Holocaust" [36]. Não é crível
que o Irã viesse a atacar Israel com ogivas atômicas, se as produzisse. Um
ataque dessa natureza massacraria também a população palestina, dentro e fora de
Israel, e grande parte da população do Líbano. O “second Holocaust” a que o
primeiro-ministro Benjamin Netanyahu demagogicamente se referiu não seria
somente de judeus, mas igualmente de árabes, cristãos, muçulmanos (inclusive
xiitas), na Palestina e adjacências, bem como de parte da população do Irã, uma
vez que Israel retaliaria da mesma forma.
Entretanto, embora para conter as pressões
do lobby judaico nos Estados Unidos e dos candidatos extremistas do Partido
Republicano, continuasse a afirmar que todas as opções estão sobre a meses,
inclusive o “componente militar”, para impedir que o Irã adquira armas
nucleares, o presidente Barack Obama deseja evitar um confronto armado e
insiste na solução do impasse por meios diplomáticos, em meio ao endurecimento
de sanções e operações encobertas de sabotagem e assassinatos [37], a guerra
nas sombras. Não há alternativa, porquanto, em caso de um ataque aéreo ao Irã,
o cenário será o do Apocalipse, quando o quarto Anjo tocou a trombeta e foram
soltos os quatros Anjos, que estavam acorrentados à beira do Eufrates e se
conservavam para a hora, o dia, o mês e o ano da matança da terça parte dos
homens; eram 200 milhões de soldados e os cavalos, que montavam, encouraçados
com uma chama sulfurosa azul, tinham crina como juba de leão, de suas narinas
saíam fogo, enxofre e fumaça e uma terça parte dos homens foi morta por esses
três flagelos, que lhes saíam das narinas.[38]
(*) Luiz Alberto Moniz Bandeira é
cientista político e historiador, professor titular de história da política exterior
do Brasil (aposentado) da Universidade de Brasília e autor de mais de 20 obras,
entre as quais Formação do Império Americano (Da guerra contra a Espanha à
guerra no Iraque).
NOTAS
[1]
Bradley, John R. After the Arab Spring – How Islamists Hijacked the Middle East
Revolts. Nova York: Palgrave –Mcmillan, 2012, pp. 95-97.
[2] Scott
Malcomson. “Bahrain: The Widening Gulf”. The New York Times, March 16, 2011
[3] Jafria
News.
http://jafrianews.com/2012/01/25/saudi-forces-fire-on-peaceful-shia-protesters-in-qatif/
[4]
Alexander Cockburn. “Trouble in the Kingdom”. CounterPunch Diary - Weekend
Edition October 7-9, 2011 .
http://www.counterpunch.org/2011/10/07/trouble-in-the-kingdom/
[5]
http://www.lonelyplanet.com/maps/middle-east/saudi-arabia/
[6] Frum,
Darvid & Perle, Richard. An End to Evil. How To Win The War On Terror. Nova
York: Ballantine Books, 2004, pp. 122-123.
Richard foi assistente do secretário de Defesa, Donald
Rumsfend, durante o governo do presidente George W. Bush.
[7] “Allies
meet in Abu Dhabi to discuss post Gaddafi future” Dayly Mail, 9 June 2011 -
http://www.dailymail.co.uk/news/article-2001778/Libya-war-costs-US-taxpayers-2m-day-Gaddafi.html
[8] John
Barry. “America’s Secret Libya War”. The Daily Best. Aug 30, 2011.
[9] CIA –
World Factbook -
https://www.cia.gov/library/publications/the-world-factbook/geos/us.html
[10] U.S.
National Debt Clock - The Outstanding Public Debt as of 11 Mar 2012 at 05:59:13
PM GMT - http://www.brillig.com/debt_clock/
[11]
Seymour M. Hersh. “The military’s problem with the President’s Iran policy”,
The New Yorker. July 10, 2006.
[12] Ibid.
[13] Iraq
Body Count. http://www.iraqbodycount.org/
[14] 2012
UNHCR country operations profile – Iraq -
http://www.unhcr.org/pages/49e486426.html
[15] Ibid.
[16] 2012
UNHCR country operations profile – Afghanistan -
http://www.unhcr.org/cgi-bin/texis/vtx/page?page=49e486eb6
[17]
GHANIZADA. “Above 30% of Afghan population facing poverty: Officials” KHAAMA
PRESS | Afghan Online Newspaper. - Sun Oct 16, 10:57 pm
http://www.khaama.com/above-30-afghan-population-facing-poverty-officials-786
[18]
“Afghanistan’s Most Vulnerable | The Poverty of War”. Afghanistan 101, Friday,
February 24, 2012.
http://afghanistan101.blogspot.com/2012/02/afghanistans-most-vulnerable-poverty-of.html
[19] ‘Costs
of War’ Project - Estimated cost of post-9/11 wars: 225,000 lives, up to $4
trillion. Brown University - June 29, 2011
http://news.brown.edu/pressreleases/2011/06/warcosts
[20] Joseph
Lazzaro. “Afghanistan War: The Cost of War”. International Businesses Times,
Nov. 3 2011.
http://www.ibtimes.com/articles/243110/20111103/cost-war-afghanistan-iraq.htm
[21] Brady Tyson. "O sistema Interamericano depois de
São Domingos" in Poltica Externa Independente, Rio de Janeiro, Editora
Civilização Brasileira, Ano I, nº 3, Janeiro 1966, pp. 83-108
[22] Josh
Rogin. “Exclusive: New National Intelligence Estimate on Iran complete. Foreign
Policy, Tuesday, February 15, 2011”.
[23] James
Risen & Mark Mazzetti. “U.S. Agencies See No Move by Iran to Build a Bomb”.
The New York Times. February 24, 2012.
[24] M K
Bhadrakumar, “Obama gets Iran right, finally”. Asia Times, Mar 6, 2012.
[25]
Ha’aretz poll: Most of the public opposes an Israeli strike on Iran“Support for
Netanyahu's Likud party is at all-time high, but Israelis still skeptical
regarding attack on Iran's nuclear facilities without U.S. backing.” Ha’aretz,
08.03.12
[26]
Clement Daly. “Workers deserve one-state solution” The Eastern Echo October 5,
2011
[27] Nathan
Lipson & Rony Gabay – “And the rich grew richer”
Ha’aretz,
07.06.11.
[28] Ibid.
[29] Jeremy
M. Sharp (Specialist in Middle Eastern Affairs). U.S. Foreig Aid to Israel.
Congressional Research Center, September 16, 2010.
[30] Ibid.
[31] Thomas
R. Stauffer, Ph.D. The Costs to American Taxpayers of the Israeli-Palestinian
Conflict: $3 Trillion. The Council for National Interest. Sunday, 31 July 2011
15:14
http://www.councilforthenationalinterest.org/addingupthecosts/3trillion
[32] Barak
Ravid – “Netanyahu asked Panetta to approve sale of bunker-busting bombs, U.S.
official says”. Ha’aretz, March 07, 2012.
[33] Ibid.
[34]
Michael Kelley. “US Offers Israel Advanced Weapons In Exchange For Not
Attacking Iran”. Business Insider – Military & Defense. March 08, 2012. AFP
– “US 'offered Israel new arms to delay Iran attack'.”
08.03.2012http://news.yahoo.com/us-offered-israel-arms-delay-iran-attack-005157280.html
[35] Ben
Caspit. “Assessment: Security Cabinet Majority Is Pro Attack”. Ma’ariv, , 15
March 2012. Dan Margalit. “ The Prime Minister’S Verbal Poker Is Beginning To
Be Successful”. Israel Hayom, 15 March 2012.
[36] Aluf
Benn. “Netanyahu is preparing Israeli public opinion for a war on Iran” . Ha’aretz,
15.03.12
[37] Cerca de cinco cientistas nucleares iraniano foram
assassinados desde 2007, ou pela CIA ou pelo Massad, que financia os
terroristas sunitas da Majahidin-e Khalq Organization (MOC ou MeK), adversários
do regime xiita no Irã.
[38]
Offenbarung des Johannes (Apokalipse), 9 Kapitel . Das Neuen Testament, pp.
330-331, in Die Heilige Schrift des Alten und Neuen Testament. –Aschaffenburg:
Paul Pattloch Verlag, 1965.
FONTE: Carta Maior http://www.cartamaior.com.br/templates/materiaMostrar.cfm?materia_id=19778
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