É
COLUNISTA, ESCRITOR, ROGER, COHEN, THE NEW YORK TIMES, É COLUNISTA, ESCRITOR,
ROGER, COHEN, THE NEW YORK TIMES - O Estado de S.Paulo
Jeffrey Goldberg, da revista The
Atlantic, tem sido talvez a voz mais vigorosa, influente e informada a
transmitir a opinião de que o primeiro-ministro israelense, Binyamin Netanyahu,
enxerga a liderança iraniana como um "culto messiânico apocalíptico"
e pretende bombardear o Irã para deter seu programa nuclear.
Numa matéria que ganhou a capa da Atlantic
em setembro de 2010, ele previu que Israel atacaria o Irã com uma centena de
aviões no primeiro semestre de 2011. Este mês, depois que Netanyahu se reuniu
com o presidente Barack Obama, ele escreveu para a Bloomberg que as palavras de
Obama - "Garanto a segurança de Israel" - significaram alguma coisa,
mas não foram "suficientes para deter Netanyahu".
Então ocorreu a virada. Goldberg escreveu
outro artigo complementar para a Bloomberg dizendo que "Netanyahu poderia
estar blefando". Tudo que o premiê israelense estava mobilizando eram
"grandes saraivadas de palavras embebidas de dramaticidade que
profetizavam uma catástrofe". As variações de Goldberg, vindas de um
jornalista que entrevistou tanto Netanyahu quanto Obama a respeito do Irã, são
dignas de nota.
Nunca acreditei que, mesmo sem o apoio dos
EUA, Netanyahu se arriscaria a atacar o Irã - cujo intermitente programa
nuclear ainda está um pouco distante da capacidade de criar uma bomba, que dirá
produzi-la. A análise da relação custo-benefício não justificaria tal rumo: não
é preciso ser Meir Dagan, ex-chefão do Mossad, para perceber isso.
Dar início a um conflito regional,
enfurecer os EUA, isolar a república islâmica durante toda uma geração, e levar
o Estado moderno de Israel a uma guerra contra a Pérsia pela primeira vez para
conseguir como resultado um atraso de poucos anos no zigue-zague nuclear do
enfraquecido Irã? Os israelenses não são mais loucos do que os iranianos.
Por outro lado, parece evidente que, se um
dia o Irã afastar-se de sua zona de conforto, expulsar os inspetores da Agência
Internacional de Energia Atômica (AIEA) que monitoram suas operações de
enriquecimento de urânio, combinar os elementos de suas pesquisas nucleares e
balísticas e acelerar a busca pela bomba, o país enfrentaria um ataque conjunto
por parte de Israel e dos EUA. Nenhum dos dois pode permitir uma mudança tão
decisiva na equação estratégica do Oriente Médio. Obama fala sério quando diz
que a contenção de um Irã nuclear não é uma opção.
Neste sentido, todo o debate envolvendo o
Irã - com suas "linhas vermelhas" que avançam e recuam, suas
cambiantes "zonas de imunidade", suas ameaças e contra ameaças, suas
metáforas péssimas e símiles ainda piores - é falso. Sabemos aquilo que pode
dar início a uma guerra e aquilo que não levará a esse resultado. Ao menos,
deveríamos saber.
Como os EUA aprenderam na última década,
erros podem ocorrer sob a forma de escolhas irracionais impulsionadas pela
política. Agora, depois do acúmulo de sanções ocidentais, e depois que os
árabes fizeram mais do que o Ocidente para enfraquecer a república islâmica ao
exigir que fé e democracia caminhem juntas, as negociações serão retomadas no
dia 13 entre Irã, EUA, Rússia, China, Grã-Bretanha, França e Alemanha. Já vimos
antes este péssimo filme. Se não queremos uma reprise do seu final (ou falta de
final), vale a pena a tentativa de pensar grande.
Minha visão da psicologia iraniana, com
base nas cinco semanas que passei no país em duas visitas ocorridas em 2009 e
na atenta observação que mantive desde então, inclui estes elementos. O
programa nuclear é o equivalente moderno da nacionalização da indústria do
petróleo anunciada pelo primeiro-ministro Mohammed Mossadegh- uma afirmação do
orgulho persa contra a tutela do Ocidente, afirmação cuja determinação e força
de vontade dos iranianos não permitirão que termine numa humilhação como a
queda de Mossadegh no golpe orquestrado por britânicos e americanos em 1953.
Influência. Trata-se de uma jogada pela
ampliação da influência regional, de um protesto contra o tratamento
diferenciado (Israel, Paquistão e Índia têm armas nucleares), uma pedra de
toque nacionalista para um cansado regime revolucionário e uma proteção
calculada - o líder supremo, aiatolá Ali Khamenei, é o "guardião da
revolução" e deve equilibrar afirmação e preservação, levando ao
comportamento limítrofe que mantém o Irã a poucos passos do limiar que, segundo
seus cálculos, daria início a uma guerra.
É difícil passar por Teerã sem que alguém
arregace uma manga da camisa, mostre uma cicatriz apavorante e diga
"Estados Unidos". Os ferimentos foram causados pelos ataques com gás
durante o conflito entre Irã e Iraque, no qual o Ocidente forneceu armas
químicas a Saddam Hussein. A geração de jovens oficiais que combateram na
guerra entre 1980 e 1988 está agora no comando no Irã.
A guerra teve seu impacto sobre eles. Como
observou John Limbert, um americano que foi mantido refém no Irã, o país enxerga
os EUA como um país "beligerante, farisaico, imoral e sem Deus,
materialista, calculista, intimidador, explorador, arrogante e dado a
interferências". Os EUA, por sua vez, enxergam o Irã como um país
"indigno de confiança, falso, fanático, violento e incompreensível".
Este é o marco zero das negociações que
estão prestes a começar. É o que temos depois de 30 anos de perigosa recusa em
manter a comunicação.
Haverá uma maneira de superar este
impasse? Talvez não: Khamenei é um personagem brejneviano de ideias imutáveis,
em cuja visão de mundo os EUA são o grande satã. Mas talvez haja uma saída, se
concessões reais forem feitas por ambos os lados e a questão nuclear não for
tratada isoladamente.
A pergunta fundamental que o Ocidente
precisa responder é como satisfazer o orgulho do Irã e afastá-lo dos
ressentimentos históricos ao mesmo tempo em que se limita as atividades de
enriquecimento nuclear do país a níveis baixos e rigorosamente inspecionados,
distantes do necessário para a fabricação de armas (acho difícil uma solução
que não permita certo nível de enriquecimento). A pergunta fundamental para a
republica islâmica é se ela será capaz de se abrir para o Ocidente e preservar
seu sistema, um risco que a China decidiu correr há 40 anos - saindo vitoriosa.
Tudo o mais não passa de "grandes saraivadas de palavras". / TRADUÇÃO
DE AUGUSTO CALIL
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