Pelo preço de
uma, duas opiniões sobre Oriente Médio
Além de se opor
pacificamente à ocupação israelense, palestinos deveriam exibir mapa de um
acordo para dois Estados e construir um modelo democrático de despertar árabe.
É COLUNISTA, THOMAS L.FRIEDMAN, THE NEW YORK TIMES, É
COLUNISTA, THOMAS L.FRIEDMAN, THE NEW YORK TIMES - O Estado de S.Paulo
Há tanta coisa
ocorrendo no Oriente Médio que ficou impossível captar tudo com uma opinião.
Portanto, aí vão duas pelo preço de uma.
Opinião um: O jornal israelense Haaretz
reportou na semana passada que o líder palestino preso Marwan Barghouti
"emitiu uma declaração incomum de sua cela. Ele conclamou seu povo a
iniciar um levante popular contra Israel, interromper as negociações e a
coordenação de segurança e boicotar (Israel). Barghouti recomendou que seu povo
optasse por uma oposição não violenta". Barghouti, como observou o
Haaretz, "é o líder mais autêntico que a Fatah produziu, e pode liderar
seu povo para um acordo... Se Israel tivesse desejado um acordo com os
palestinos, ele já o teria soltado da prisão". Tive a oportunidade de
conhecer Barghouti antes de suas cinco condenações à prisão perpétua por
envolvimento na morte de israelenses.
Seu apelo à resistência não violenta é
digno de nota e o mais recente de uma série de chamados aos palestinos -
provenientes de toda parte - para que promovam seu próprio despertar árabe, mas
para fazê-lo sem violência, com desobediência civil ou boicotes a Israel,
assentamentos israelenses ou produtos israelenses.
Posso
perceber, com certeza, a eficácia de uma resistência não violenta dos
palestinos à ocupação israelense da Cisjordânia, com uma condição: que eles
acompanhem quaisquer boicotes, manifestações ou greves de fome com um mapa
detalhado do acordo final de dois Estados que buscam. Apenas pedir "o fim
da ocupação" não basta.
Os palestinos precisam somar cada boicote,
greve de fome ou pedra que atiram em Israel a um mapa delineando como, em nome
da paz, eles aceitariam receber de volta 95% da Cisjordânia e todos os bairros
árabes de Jerusalém Oriental e trocariam os outros 5% por terras dentro do
Israel pré-1967. Um acordo como esse permitiria a permanência de cerca de 75%
dos colonos judeus na Cisjordânia e ainda devolveria aos palestinos 100% da
terra.
Se os palestinos se engajarem na
desobediência civil não violenta na Cisjordânia com uma mão e carregarem um
mapa de um acordo razoável de dois Estados na outra, estarão adotando a única
estratégia que encerrará a ocupação israelense: fazer os israelenses se
sentirem moralmente inseguros, mas estrategicamente seguros. A lei férrea do
processo de paz é que quem fizer a maioria silenciosa israelense se sentir
moralmente insegura sobre a ocupação, mas estrategicamente segura em Israel,
vence.
Após a ida de Anwar Sadat a Jerusalém, os
israelenses souberam que não havia maneira de eles moralmente poderem conservar
o Sinai e estrategicamente eles não sentiram mais a necessidade disso. A
primeira intifada, que se resumiu a atirar pedras, levou os palestinos a Oslo.
A segunda intifada, centrada em atentados suicidas a restaurantes em Tel-Aviv,
rendeu-lhes um muro cercando a Cisjordânia.
Os israelenses sentiram-se
estrategicamente inseguros o suficiente para trancafiar todos os palestinos
numa grande prisão. Hoje, nada faz os israelenses mais estrategicamente
inseguros e moralmente seguros do que o insano bombardeio de Israel pelo Hamas
desde Gaza, mesmo depois de Israel ter se retirado unilateralmente dali.
Uma desobediência civil palestina intensa
e paralisante na Cisjordânia, combinada com o delineamento de um acordo que a
maioria dos israelenses possa aceitar, é precisamente o que faria os
israelenses se sentirem moralmente inseguros, mas estrategicamente seguros, e
reviver o campo da paz israelense. Essa é a única estratégia palestina que o
premiê Binyamin Netanyahu teme, mas que ele tem certeza de que os palestinos
jamais adotarão. Ele pensa que não é da cultura deles. Será que eles poderão
surpreendê-lo?
Opinião dois: um dos clichês mais corriqueiros
sobre o Oriente Médio de hoje é que, como o despertar árabe não se centrou na
questão israelense-palestina, isso prova que esse conflito não é tão importante
assim. Isso faz pensar que o foco deveria se concentrar, em tempo integral, no
Irã. O fato é que o despertar árabe tornou um acordo de paz
israelense-palestino mais urgente do que nunca por duas razões.
Primeiro, agora está claro que as
autocracias árabes estão sendo substituídas por partidos islâmicos populistas.
E, no Egito, em particular, já está claro que a questão chave na eleição será o
tratado de paz com Israel. Nesse contexto, se a violência palestino-israelense
eclodir na Cisjordânia, não haverá anteparo - o papel jogado pelo ex-presidente
Hosni Mubarak - para impedir que as chamas se espalhem diretamente para a rua
egípcia.
De mais a mais, com a ascensão de
islâmicos na Tunísia, Líbia, Egito e Síria, israelenses e palestinos têm um
incentivo maior do que nunca para criar um modelo alternativo na Cisjordânia -
uma Cingapura - para mostrar que, juntos, podem dar origem a um Estado
palestino onde muçulmanos árabes e cristãos, homens e mulheres, podem prosperar
num contexto democrático, de livre mercado, secular, mas religiosamente
respeitoso ao lado de um Estado judeu.
Essa é a melhor liderança palestina com a
qual Israel poderia se associar. Uma razão para o mundo árabe ter estagnado
enquanto a Ásia prosperava é que os árabes não tinham bons modelos locais para
seguir - como Taiwan seguiu o Japão ou Hong Kong. Promover um tal modelo - que
ficaria em contraste diário com modelos islâmicos capengas em Gaza e alhures -
seria um ativo enorme e duradouro para Israel e ajudaria a moldar o mundo em
sua volta. / TRADUÇÃO DE CELSO PACIORNIK
Fonte: O Estado de São Paulo
Obs. A Charge que ilustra foi adicionada por mim e não faz parte do artigo.
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