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sábado, 7 de abril de 2012

Duas Opiniões Sobre o Oriente Médio (T. L. Friedman)


Pelo preço de uma, duas opiniões sobre Oriente Médio
Além de se opor pacificamente à ocupação israelense, palestinos deveriam exibir mapa de um acordo para dois Estados e construir um modelo democrático de despertar árabe.

É COLUNISTA, THOMAS L.FRIEDMAN, THE NEW YORK TIMES, É COLUNISTA, THOMAS L.FRIEDMAN, THE NEW YORK TIMES - O Estado de S.Paulo

     Há tanta coisa ocorrendo no Oriente Médio que ficou impossível captar tudo com uma opinião. Portanto, aí vão duas pelo preço de uma.
     Opinião um: O jornal israelense Haaretz reportou na semana passada que o líder palestino preso Marwan Barghouti "emitiu uma declaração incomum de sua cela. Ele conclamou seu povo a iniciar um levante popular contra Israel, interromper as negociações e a coordenação de segurança e boicotar (Israel). Barghouti recomendou que seu povo optasse por uma oposição não violenta". Barghouti, como observou o Haaretz, "é o líder mais autêntico que a Fatah produziu, e pode liderar seu povo para um acordo... Se Israel tivesse desejado um acordo com os palestinos, ele já o teria soltado da prisão". Tive a oportunidade de conhecer Barghouti antes de suas cinco condenações à prisão perpétua por envolvimento na morte de israelenses.
     Seu apelo à resistência não violenta é digno de nota e o mais recente de uma série de chamados aos palestinos - provenientes de toda parte - para que promovam seu próprio despertar árabe, mas para fazê-lo sem violência, com desobediência civil ou boicotes a Israel, assentamentos israelenses ou produtos israelenses.
     Posso perceber, com certeza, a eficácia de uma resistência não violenta dos palestinos à ocupação israelense da Cisjordânia, com uma condição: que eles acompanhem quaisquer boicotes, manifestações ou greves de fome com um mapa detalhado do acordo final de dois Estados que buscam. Apenas pedir "o fim da ocupação" não basta.
     Os palestinos precisam somar cada boicote, greve de fome ou pedra que atiram em Israel a um mapa delineando como, em nome da paz, eles aceitariam receber de volta 95% da Cisjordânia e todos os bairros árabes de Jerusalém Oriental e trocariam os outros 5% por terras dentro do Israel pré-1967. Um acordo como esse permitiria a permanência de cerca de 75% dos colonos judeus na Cisjordânia e ainda devolveria aos palestinos 100% da terra.
     Se os palestinos se engajarem na desobediência civil não violenta na Cisjordânia com uma mão e carregarem um mapa de um acordo razoável de dois Estados na outra, estarão adotando a única estratégia que encerrará a ocupação israelense: fazer os israelenses se sentirem moralmente inseguros, mas estrategicamente seguros. A lei férrea do processo de paz é que quem fizer a maioria silenciosa israelense se sentir moralmente insegura sobre a ocupação, mas estrategicamente segura em Israel, vence.
     Após a ida de Anwar Sadat a Jerusalém, os israelenses souberam que não havia maneira de eles moralmente poderem conservar o Sinai e estrategicamente eles não sentiram mais a necessidade disso. A primeira intifada, que se resumiu a atirar pedras, levou os palestinos a Oslo. A segunda intifada, centrada em atentados suicidas a restaurantes em Tel-Aviv, rendeu-lhes um muro cercando a Cisjordânia.
     Os israelenses sentiram-se estrategicamente inseguros o suficiente para trancafiar todos os palestinos numa grande prisão. Hoje, nada faz os israelenses mais estrategicamente inseguros e moralmente seguros do que o insano bombardeio de Israel pelo Hamas desde Gaza, mesmo depois de Israel ter se retirado unilateralmente dali.
     Uma desobediência civil palestina intensa e paralisante na Cisjordânia, combinada com o delineamento de um acordo que a maioria dos israelenses possa aceitar, é precisamente o que faria os israelenses se sentirem moralmente inseguros, mas estrategicamente seguros, e reviver o campo da paz israelense. Essa é a única estratégia palestina que o premiê Binyamin Netanyahu teme, mas que ele tem certeza de que os palestinos jamais adotarão. Ele pensa que não é da cultura deles. Será que eles poderão surpreendê-lo?
     Opinião dois: um dos clichês mais corriqueiros sobre o Oriente Médio de hoje é que, como o despertar árabe não se centrou na questão israelense-palestina, isso prova que esse conflito não é tão importante assim. Isso faz pensar que o foco deveria se concentrar, em tempo integral, no Irã. O fato é que o despertar árabe tornou um acordo de paz israelense-palestino mais urgente do que nunca por duas razões.
     Primeiro, agora está claro que as autocracias árabes estão sendo substituídas por partidos islâmicos populistas. E, no Egito, em particular, já está claro que a questão chave na eleição será o tratado de paz com Israel. Nesse contexto, se a violência palestino-israelense eclodir na Cisjordânia, não haverá anteparo - o papel jogado pelo ex-presidente Hosni Mubarak - para impedir que as chamas se espalhem diretamente para a rua egípcia.
     De mais a mais, com a ascensão de islâmicos na Tunísia, Líbia, Egito e Síria, israelenses e palestinos têm um incentivo maior do que nunca para criar um modelo alternativo na Cisjordânia - uma Cingapura - para mostrar que, juntos, podem dar origem a um Estado palestino onde muçulmanos árabes e cristãos, homens e mulheres, podem prosperar num contexto democrático, de livre mercado, secular, mas religiosamente respeitoso ao lado de um Estado judeu.
     Essa é a melhor liderança palestina com a qual Israel poderia se associar. Uma razão para o mundo árabe ter estagnado enquanto a Ásia prosperava é que os árabes não tinham bons modelos locais para seguir - como Taiwan seguiu o Japão ou Hong Kong. Promover um tal modelo - que ficaria em contraste diário com modelos islâmicos capengas em Gaza e alhures - seria um ativo enorme e duradouro para Israel e ajudaria a moldar o mundo em sua volta. / TRADUÇÃO DE CELSO PACIORNIK
Fonte: O Estado de São Paulo 
Obs.  A Charge que ilustra foi adicionada por mim e não faz parte do artigo.

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