A Turquia está
realizando as manobras militares Anatolian Eagle. Estes exercícios são anuais e
ocorrem há quase 30 anos. Mas é a primeira vez que navios da Marinha turca
estão envolvidos em manobras no Mar Mediterrâneo. Ancara não esconde que isso é
uma resposta às manobras Noble Dina, realizadas conjuntamente por EUA, Grécia e
Israel na mesma região.
Oficialmente, os exercícios Noble Dina
foram conduzidos para proteger os campos de gás descobertos na zona econômica
de Israel e Chipre. Durante os exercícios de combates aéreos e manobras contra
submarinos, formalmente, não foi designado um inimigo. No entanto, a orientação
anti-turca dos exercícios é clara, dizem peritos. Afinal, eles terminaram mesmo
na fronteira turca. E, só há uma semana, um navio da Marinha turca permaneceu
durante várias horas nas águas territoriais da Grécia.
Algo assim era inimaginável ainda dois
anos atrás, quando a Turquia realizou exercícios conjuntos com Washington e Tel
Aviv. No entanto, após o incidente com o ferry turco da Flotilha da Liberdade,
que foi atacado pela guarda costeira israelense, Ancara rompeu relações com
Israel, diz o orientalista e professor da Universidade de Relações
Internacionais de Moscou, Serguei Drujilovsky:
"Em geral, quanto à deterioração das
relações com Israel, isso está acontecendo há vários anos após a entrada das
tropas israelenses no setor de Gaza e especialmente após o incidente com a “Flotilha
da Liberdade”. Israel resolveu a situação com forças militares e acabou matando
nove turcos."
As relações bilaterais se agravaram ainda
mais por causa das ambições políticas de Ancara. Durante a Primavera Árabe no
ano passado, a Turquia queria ser um árbitro, a potência principal na região do
Oriente Médio. Nestas condições, a cooperação com Israel cria problemas, pensa
o diretor do Centro de Estudos Orientais da Academia Diplomática do Ministério
dos Negócios Estrangeiros, Andrei Volodin:
"A Turquia está tentando expandir sua
influência sobre toda a região do Oriente Médio e África do Norte. Ou seja, o
problema é a notória política do neootomanismo perseguida por Erdogan. Tal
papel, claro, é possível para a Turquia, quando ela for ideologicamente capaz
de se dissociar de Israel."
As disputas sobre os campos de gás perto
de Chipre e Israel catalisaram o confronto político. A empresa americana de
energia Noble já realizou perfurações experimentais ao largo da costa da
República de Chipre. A Turquia opõe-se a tais trabalhos até que seja resolvido
a disputa territorial na ilha. Ao mesmo tempo, Ancara declara que, por sua vez,
vai começar a desenvolver os campos de gás nas águas territoriais da República
Turca de Chipre do Norte.
Nesta situação, há outro fato que também é
interessante. Os participantes das manobras Noble Dina – a Grécia e os EUA –
são membros da OTAN. Bem como Turquia. De facto, dois membros da Aliança
parecem estar de costas voltadas. No entanto, ainda é demasiado cedo para falar
de um sério agravamento das relações. O mais provável é que as autoridades
turcas usem a aliança em seus interesses regionais, pensa Andrei Volodin:
"Não se compreende minimamente que
missão é que a OTAN está cumprindo agora, quando a linha geral da geopolítica
se está movendo para a região Ásia-Pacífico. Não acho que a Turquia se vá
retirar da OTAN, porque está completamente consciente de que se a OTAN ajudar a
resolver qualquer problema na Turquia, a organização deve ser usada."
Especialistas notam que as manobras no
Mediterrâneo são um ponto de viragem no desenvolvimento de toda a região. Até
ao momento, tendo em conta a situação na Síria e no Irã, nem a Turquia nem
Israel estavam interessadas em levar o conflito a escalar abertamente. No
entanto, no futuro, esse confronto pode se tornar realidade.
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