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sexta-feira, 6 de abril de 2012

Manobras turcas em zona de interesse especial



     A Turquia está realizando as manobras militares Anatolian Eagle. Estes exercícios são anuais e ocorrem há quase 30 anos. Mas é a primeira vez que navios da Marinha turca estão envolvidos em manobras no Mar Mediterrâneo. Ancara não esconde que isso é uma resposta às manobras Noble Dina, realizadas conjuntamente por EUA, Grécia e Israel na mesma região.
     Oficialmente, os exercícios Noble Dina foram conduzidos para proteger os campos de gás descobertos na zona econômica de Israel e Chipre. Durante os exercícios de combates aéreos e manobras contra submarinos, formalmente, não foi designado um inimigo. No entanto, a orientação anti-turca dos exercícios é clara, dizem peritos. Afinal, eles terminaram mesmo na fronteira turca. E, só há uma semana, um navio da Marinha turca permaneceu durante várias horas nas águas territoriais da Grécia.
     Algo assim era inimaginável ainda dois anos atrás, quando a Turquia realizou exercícios conjuntos com Washington e Tel Aviv. No entanto, após o incidente com o ferry turco da Flotilha da Liberdade, que foi atacado pela guarda costeira israelense, Ancara rompeu relações com Israel, diz o orientalista e professor da Universidade de Relações Internacionais de Moscou, Serguei Drujilovsky:
     "Em geral, quanto à deterioração das relações com Israel, isso está acontecendo há vários anos após a entrada das tropas israelenses no setor de Gaza e especialmente após o incidente com a “Flotilha da Liberdade”. Israel resolveu a situação com forças militares e acabou matando nove turcos."
     As relações bilaterais se agravaram ainda mais por causa das ambições políticas de Ancara. Durante a Primavera Árabe no ano passado, a Turquia queria ser um árbitro, a potência principal na região do Oriente Médio. Nestas condições, a cooperação com Israel cria problemas, pensa o diretor do Centro de Estudos Orientais da Academia Diplomática do Ministério dos Negócios Estrangeiros, Andrei Volodin:
     "A Turquia está tentando expandir sua influência sobre toda a região do Oriente Médio e África do Norte. Ou seja, o problema é a notória política do neootomanismo perseguida por Erdogan. Tal papel, claro, é possível para a Turquia, quando ela for ideologicamente capaz de se dissociar de Israel."
     As disputas sobre os campos de gás perto de Chipre e Israel catalisaram o confronto político. A empresa americana de energia Noble já realizou perfurações experimentais ao largo da costa da República de Chipre. A Turquia opõe-se a tais trabalhos até que seja resolvido a disputa territorial na ilha. Ao mesmo tempo, Ancara declara que, por sua vez, vai começar a desenvolver os campos de gás nas águas territoriais da República Turca de Chipre do Norte.
     Nesta situação, há outro fato que também é interessante. Os participantes das manobras Noble Dina – a Grécia e os EUA – são membros da OTAN. Bem como Turquia. De facto, dois membros da Aliança parecem estar de costas voltadas. No entanto, ainda é demasiado cedo para falar de um sério agravamento das relações. O mais provável é que as autoridades turcas usem a aliança em seus interesses regionais, pensa Andrei Volodin:
     "Não se compreende minimamente que missão é que a OTAN está cumprindo agora, quando a linha geral da geopolítica se está movendo para a região Ásia-Pacífico. Não acho que a Turquia se vá retirar da OTAN, porque está completamente consciente de que se a OTAN ajudar a resolver qualquer problema na Turquia, a organização deve ser usada."
     Especialistas notam que as manobras no Mediterrâneo são um ponto de viragem no desenvolvimento de toda a região. Até ao momento, tendo em conta a situação na Síria e no Irã, nem a Turquia nem Israel estavam interessadas em levar o conflito a escalar abertamente. No entanto, no futuro, esse confronto pode se tornar realidade.

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