Fonte da imagem http://blogdocarlosmaia.blogspot.com.br/2012/03/argentinacristina-kirchner-defende.html
Ariel Palacios,
correspondente em Buenos Aires
BUENOS AIRES -
"A estratégia do governo da presidente Cristina Kirchner para reaver as
Ilhas Malvinas aprofunda o ressentimento dos ilhéus com a Argentina. Sua
posição é cada vez mais rígida e desprovida de alternativas. É um beco sem
saída". A frase é de Vicente Palermo, sociólogo e cientista político, pesquisador
do Conselho Nacional de Investigações Científicas e Técnicas (Conicet), membro
da Associação Brasileira de Ciência Política e autor de "Sal nas
Feridas", obra que analisa o simbolismo das Malvinas na sociedade
argentina. A seguir, entrevista concedida ao Estado por Palermo, que integra um
recém-criado grupo de 17 intelectuais de prestígio que pedem uma revisão da
política da presidente Cristina sobre o disputado arquipélago.
Estado: Nas
escolas, desde a primária, semanalmente as crianças aprendem que 'as Malvinas
são argentinas'. Qual é o peso simbólico das ilhas hoje no imaginário coletivo
argentino?
Vicente Palermo:
Antes de 1982, a coisa era muito mais "light", pois não havia
ocorrido a guerra. Mas a derrota no conflito do Atlântico Sul deixou uma marca
dura no ego. E isso provocou a ideia de uma perda, que talvez seja definitiva.
Acho que o argentino médio atual não destina muita atenção ao tema, felizmente,
apesar das convicções nacionalistas do governo. Mas muitos argentinos
consideram que os direitos de nosso país sobre as Ilhas Malvinas são
inquestionáveis e a presença britânica no arquipélago é colonialismo.
Estado: Diversos
historiadores afirmam que a junta militar, em caso de sucesso nas Malvinas,
tinha planos para uma guerra com o Chile....
Vicente Palermo:
Sim, com certeza, o próximo alvo teria sido o Chile. Vários setores muito
importantes pensavam que nossa capacidade militar era elevada...
Estado: Quais as
chances de a Argentina recuperar as ilhas?
Vicente Palermo:
Considero que fica cada vez mais complicada uma eventual recuperação das ilhas.
A estratégia atual de pressão não favorece. Se o governo pretende recuperar as
ilhas desse jeito, está perdido. Os kelpers se aferrarão mais ainda aos
britânicos. E estes, por seu lado, também afirmam-se mais em sua posição de não
entregar as ilhas e seus habitantes. Mas se o governo não puder conseguir as
Malvinas, a segunda opção é a de definir os britânicos como os inimigos
permanentes.
Estado: O
respaldo dos países latino-americanos nos esforços do governo argentino para
reaver as ilhas possui um efeito prático?
Vicente Palermo:
Não terá efeito prático na negociação com a Grã-Bretanha. Acontece que a faixa
de negociação de Buenos Aires com Londres é muito estreita. Ou melhor: a
Argentina simplesmente não coloca nada na mesa de negociações e somente diz que
quer a soberania plena das Ilhas Malvinas. E, por isso, Londres não vai ceder.
Além disso, essas pressões sobre a Grã-Bretanha complicam as relações dos
outros países sul-americanos com o governo de Londres. E a ideia de uma
“soberania compartilhada” parece inverossímil.
Estado: O
governo Kirchner argumenta que os ilhéus não contam nestas negociações porque
são uma comunidade "transplantada".
Vicente Palermo:
Existem dois artifícios entre os preferidos da ortodoxia argentina quando o
assunto são os ilhéus. O primeiro é um jogo de números que pergunta qual a
relevância de 3 mil pessoas diante de 40 milhões (população da Argentina). Mas
acho que mais importante do que isso é que os ilhéus possuem identidade.
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