Por Ana Flor
BRASÍLIA, 4 Mai (Reuters) - A
decisão do governo de forçar a queda nas taxas de juros no país -contexto no
qual se insere o anúncio na mudança dos rendimentos da caderneta de poupança na
quinta-feira- faz parte de uma estratégia política para criar uma nova marca da
gestão da presidente Dilma Rousseff no campo econômico.
Segundo fontes do governo, o alvo
dos juros bancários, tema de grande apelo entre a classe média, passou a ser
considerado na medida em que a meta de crescimento de 5 por cento em 2012 ficou
cada vez mais distante.
Além disso, no Planalto os bancos
passaram a ser vistos como instituições que pouco colaboraram para a queda dos
juros implantada pelo Banco Central desde agosto.
"É uma briga que a
presidente achou por bem comprar, porque traria benefícios ao país no longo
prazo", disse à Reuters uma das fontes.
Assessores do governo buscavam
uma nova marca para a gestão Dilma desde o final do ano passado. O Brasil Sem
Miséria, símbolo inicial e que, segundo assessores não será abandonado, atingiu
pouco a classe média e ainda trazia a forte memória do governo Lula e o Bolsa Família.
No início do ano, a presidente
discutiu com seus conselheiros dar maior status para a área de tecnologia e
inovação, fazendo do programa Ciência Sem Fronteiras, que levará 100 mil
estudantes ao exterior, uma marca do segundo ano de mandato, revelou um
assessor.
Mas, além do alcance limitado do
programa, pesquisas mostravam que está na economia o fator preponderante para o
bem-estar da população e onde está calcada a aprovação recorde do governo, que
bateu em 64 por cento em abril, segundo pesquisa Datafolha.
Lula esteve entre os entusiastas
da ideia de o governo usar seu capital político e alta aprovação para promover
uma mudança estrutural na economia que abrisse espaço para os juros caírem
--permitindo que Dilma cumprisse promessa de campanha feita no início de 2010,
quando disse que gostaria de baixar a taxa real de juros básica para
"perto de 3 por cento, mas sem fazer mágica".
POUPANÇA
A equipe da presidente tem
explorado uma faceta revelada ainda na campanha presidencial, quando pesquisas
identificaram que eleitores viam em Dilma uma mulher ousada e corajosa.
Os bons resultados da imagem da
presidente que "faxina" colaboradores envolvidos em denúncias, ou que
não negocia no "toma lá, dá cá" do Congresso, deram o aval para que
novas medidas de risco, como a mudança na poupança, entrassem nos planos.
A nova medida fez com que Dilma
acabasse por modificar regras que seu antecessor desejou mexer, no final de
governo, mas desistiu por achar o custo político muito alto.
Em 2009, já com Guido Mantega na
Fazenda, Lula planejou enviar ao Congresso um projeto que taxava depósitos
acima de 50 mil reais com Imposto de Renda. Desistiu, entre outros motivos,
para garantir a eleição de Dilma.
Desta vez, a avaliação foi de que
valia a pena pagar os custos políticos ou eleitorais de uma medida à primeira
vista impopular.
Mas o governo tomou mais
precauções do que de costume. O núcleo econômico fechou a proposta, mas fez o
anúncio a partir de encontros em que ouviu políticos, empresários e
sindicalistas, além da imprensa.
Viu-se, nos últimos dois dias, a
presidente tomar mais cuidados do que costuma ter ao escolher seus ministros,
trocar líderes ou diretores de estatais: consultou integrantes de governo,
chamou líderes aliados, fez um agrado aos sindicatos indicando Brizola Neto
como ministro do Trabalho e buscou apoio do empresariado, historicamente
crítico dos juros altos.
O ministro da Fazenda trabalhou
em outra trincheira: chamou um número pequeno de jornalistas para explicar as
medidas, em sinal de que o governo queria evitar a repercussão negativa ou
"desinformada", como classificou outra fonte do governo.
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