Se o epicentro
da crise atual fosse a China, e não a Europa, os efeitos no Brasil estariam
sendo mais intensos. A muito propagada noção de que o recente crescimento do
Brasil foi impulsionado pela ascensão da China e seu apetite por commodities,
setor em que o Brasil apresenta muitas vantagens comparativas, certamente
jogaria contra o Brasil caso a economia da China desaquecesse mais
drasticamente.
Nós devemos,
porém, observar que, apesar de a China ter se tornado o maior parceiro
comercial do Brasil – e o comércio exterior do Brasil é cada vez mais
“sino-dependente” – também é verdade que as exportações para esse país
representam apenas cerca de 1,5% do PIB (Produto Interno Bruto) do Brasil. Na
realidade, as exportações totais do Brasil respondem por apenas 10% do PIB
brasileiro.
A crise global
para o Brasil é, portanto, menos um problema relacionado a comércio e mais a
investimento.
'Brasilmania'
Um dos efeitos
colaterais sentidos no Brasil à medida que a crise global se aprofunda é a
forte depreciação da moeda brasileira nas últimas semanas. E o enfraquecimento
do real pode proferir um golpe doloroso à autoestima do país.
O Brasil chegou
ao fim de 2011 como a sexta maior economia do mundo. Ultrapassou a Grã-Bretanha
em termos de PIB medido em dólares. De acordo com o FMI (Fundo Monetário
Internacional), o PIB anual do Brasil em dezembro de 2011 era de US$ 2,5
trilhões.
Apesar de a
fatia da economia mundial que cabe ao Brasil ter permanecido essencialmente
inalterada nos últimos 10 anos (um pouco menos de 3%), uma “Brasilmania”, tanto
doméstica quanto no exterior, fez com que muitos acreditassem que o PIB do
Brasil estava destinado a um ascensão irresistível e sem escalas. Segundo essas
projeções entusiasmadas, o Brasil superaria a França até 2015 e se tornaria a
quinta maior economia do mundo.
Para economista,
maior desafio das autoridades brasileiras é aumentar a taxa de investimento no
país
Curiosamente, as
altas taxas domésticas de juros no Brasil – corretamente consideradas um dos
vilões que historicamente impediam que a economia florescesse completamente –
na verdade ajudaram a abastecer a ilusão de um alto PIB medido em dólar, assim
como a de um real sobrevalorizado.
Com a baixa taxa
de retorno para capitais financeiros ao redor do planeta, especialmente depois
da recessão de 2008, as sedutoras taxas de juros do Brasil atraíram ainda mais
investimento de curto prazo, o que deu musculatura ao real e fez o PIB
brasileiro em dólar avançar.
Com a crescente
incerteza no cenário internacional, o capital financeiro busca destinos mais
seguros. Companhias ao redor do globo se tornam menos propensas a estabelecer
operações no Brasil para tirar vantagem de oportunidades relacionadas ao
aproveitamento do conteúdo local.
Considere esse
cenário pouco provável - e indesejável: se o Real se desvalorizar para o nível
de R$ 2,20 contra o dólar e o Brasil crescer 3%, em dezembro de 2012, o PIB
brasileiro atingirá R$ 4,24 trilhões, mas medido em dólares isso será apenas
US$ 1,93 trilhão.
Da sexta para a
nona economia
Caso isso
aconteça, o Brasil será superado pela Grã-Bretanha, pela Itália e pela Rússia e
voltará a ser a nona economia do mundo. Claro que essas economias também estão
sendo afetadas pela crise e a posição delas no ranking pode cair. Mas esse
cenário mostra como são superficiais as análises que levam o Brasil a se vangloriar
por ser a "sexta economia do mundo".
Seja lá o que
aconteça com a taxa de câmbio ou com a zona do euro, o Brasil deve se preocupar
mais com o descompasso entre seu grande potencial e sua baixa capacidade de
competir globalmente. Nos últimos 25 anos a produtividade brasileira cresceu a
apenas 0,2% ao ano, enquanto a da China aumentou 4%.
O Brasil deve
aumentar sua taxa de poupança doméstica e investimentos, como porcentagem do
PIB, e direcionar mais recursos para educação, ciência e tecnologia - as
ferramentas indispensáveis para promover uma prosperidade sustentável.
Fonte: BBC Brasil http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2012/05/120525_troyjo.shtml
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