Cinquenta milhões
de egípcios estão habilitados para votar nesta quarta (23) e quinta-feira (24).
Há dois candidatos favoritos entre os 13 candidatos: Amr Moussa, ex-líder da
Liga Árabe, e o islamista moderado Abdel-Mon'em Aboul Fotouh. Se junta militar
realmente deixar o poder, Irmandade Muçulmana pode iniciar a sua era
hegemônica. Movimento 6 de Abril, criado na internet e que ganhou a Praça
Tahrir, enfrenta o desafio de se reinventar.
Caio Sarack
São Paulo – Com eleições marcadas para
esta quarta (23) e quinta-feira (24), o Egito tenta pôr um ponto final ao
período de instabilidade da era pós-Hosni Mubarak. A junta militar que governa
o país anunciou que suas forças trabalharão para garantir eleições limpas aos
50 milhões de eleitores habilitados a votar.
Concorrerão, nesta que pode ser a primeira
eleição presidencial democrática egípcia, 13 candidatos. Dois são favoritos -
Amr Moussa, ex-líder da Liga Árabe, e o islamista moderado Abdel-Mon'em Aboul
Fotouh.
Mas há dúvidas sobre o sucesso das
eleições. Questiona-se a transparência do processo eleitoral e até se junta
militar deixará o poder quando um dos candidatos for proclamado vencedor. O
professor de filosofia da Universidade de São Paulo (USP) Vladimir Safatle
visitou o Egito no início do ano e recorda-se que a Irmandade Mulçumana, um dos
movimentos sociais e políticos mais fortes do país, tentou fechar um acordo com
os militares para as eleições.
“O acordo seria ao modo turco, com um
partido islâmico moderado no poder e os militares como moderadores. Mas isso
não deu certo”, disse ele à Carta Maior.
Esse cenário de incerteza política ajudou
a pôr foco em outro grupo social egípcio importante, o Movimento 6 de Abril.
Formado por jovens que se envolveram nos protestos da Praça Tahrir, o “6 de
Abril” se caracteriza pela diversidade “de contextos, idades e tendências”,
como seus próprios militantes o descrevem em sua página na internet. Está
reunido desde 2008 e age em apoio aos trabalhadores e suas greves.
Por sua característica difusa e
horizontal, é pouco provável que o movimento tenha uma influência decisiva em
prol de um único candidato. Como explica Safatle, é a flexibilidade ideológica
que permite ao grupo crescer. Entretanto, o 6 de Abril já possui força para
atuar sobre seus dois grandes alvos: a queda do governo militar e a superação
do déficit democrático do país.
Ainda que ao menos o primeiro objetivo
possa estar próximo, o pesquisador brasileiro Aldo Cordeiro Sauda, que vive no
Egito, alerta que o futuro ainda é incerto, justamente pela falta de coesão
política dos jovens egípcios. Isso abriria espaço para que militares e grupos muçulmanos dividissem as rédeas do país.
“A organização política na sociedade
egípcia ainda é frágil, as movimentações de protesto ainda são germinais no que
diz respeito à mobilização e cultura política. O processo das movimentações por
si vai demandar proposições alternativas, mas sem organização, sem clareza
político-ideológica, é mais complicado. Outros hábitos, como machismo e a
religião, por exemplo, vão se apropriando destas demandas”, adverte Sauda à
Carta Maior.
O risco, nesse caso, será a apropriação
das conquistas de mobilização pelo grupo que é mais organizado, ou seja a
Irmandade Mulçumana. “Do ponto de vista político seria uma catástrofe, porque
ficariam no poder por 20, 30 anos”, concorda Safatle.
Um desfecho desse tipo tornaria ainda mais
difícil a transformação do Egito em termos de cultura democrática. “É uma
sociedade em que se for cristão você não pode ser governador do Estado, nem
reitor de uma universidade. Onde pelo menos 70% das mulheres têm que usar o
véu”, diz o professor da USP.
Fonte: Carta Maior http://www.cartamaior.com.br/templates/materiaMostrar.cfm?materia_id=20195
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