O Estado de
S.Paulo
WASHINGTON - A
última rodada de negociações com o Irã sobre a questão nuclear terminou num
impasse e as perspectivas não são nada animadoras quanto a um eventual avanço
na reunião da próxima semana em Moscou.
Neste momento,
dois fatores fundamentais determinam a estratégia de negociação de Washington.
O primeiro é o obstrucionismo do Congresso e o limitado espaço de manobra do
presidente Barack Obama num ano eleitoral. O segundo são as expectativas
exageradas sobre o resultado que as atuais sanções contra o Irã possam
alcançar. Ambos terão de ser abandonados para que as conversações tenham
sucesso.
Obama necessita
de um constante esforço diplomático para acalmar os mercados petrolíferos em
razão das próximas eleições. Entretanto, justamente por isso, ele não tem muita
possibilidade de oferecer aos iranianos algum alívio em matéria de sanções em
troca de concessões no programa nuclear.
O Congresso
americano tenta por todos os meios impossibilitar um acordo impondo limites
inviáveis, estabelecendo objetivos inatingíveis - e privando o Executivo da
liberdade de barganhar.
Pouco antes das
conversações que se realizaram em Bagdá, no mês passado, o Congresso aprovou
uma resolução que endossava a condição estabelecida pelo primeiro-ministro
israelense, Binyamin Netanyahu, sobre a questão nuclear (o Irã não deverá ter
capacidade para enriquecer urânio), em contraposição à condição preferida pelo
Pentágono e pelo presidente (o Irã não pode ter uma arma nuclear). O problema é
que o limite estabelecido por Netanyahu não é viável e não deixa nenhuma margem
para negociar.
Então, em 2010,
mais uma vez a política nacional e as atividades do Congresso acabaram fazendo
com que o governo Obama rejeitasse um avanço nessa área intermediado por Brasil
e Turquia, pelo qual o estoque de urânio do Irã deveria ser reduzido pela
metade e o país não teria a possibilidade de enriquecer o urânio a níveis
elevados.
Em Bagdá, o
Congresso conseguiu retirar dos negociadores americanos o poder de oferecer
concessões ao Irã. Os iranianos estavam concentrados no que pudessem conseguir,
Obama teve de se concentrar no que não poderia dar.
Em nome da paz,
é preciso que o Congresso abandone o obstrucionismo. As sanções contra o Irã
devem ser utilizadas para promover as negociações e obter concessões nucleares
concretas, verificáveis e importantes dos iranianos na questão nuclear.
Embargo. O
segundo problema com que se defronta a estratégia de Obama é uma exagerada
confiança nos resultados concretos que as sanções possam de fato apresentar.
Aparentemente, alguns membros do governo americano acham que o embargo do
petróleo iraniano poderá derrubar o regime dos mulás. Convencido de que esses
resultados estão próximos, o governo de Washington parece hipnotizado por suas
sanções e parece duvidar da utilidade de usá-las como moeda de troca.
Consequentemente, há uma crescente resistência a retirá-las, quaisquer que
sejam as concessões que Teerã possa oferecer. Seria um grave erro.
Já vimos essa
armadilha antes. Sempre que uma das partes acredita ser a dona do jogo, o
desejo de cumprir o compromisso diminui, e o desejo de colocar em xeque o outro
lado aumenta. Mas se não negociamos quando estamos fracos (porque somos fracos)
e não negociamos quando estamos fortes (porque não precisamos), então quando é
que vamos negociar?
Além disso, o
histórico dos embargos não corrobora a ideia de que essa pressão possa depor a
autoridade clerical em Teerã e conduzir à democracia.
Dos 35 países
que realizaram a transição do autoritarismo para a democracia desde 1955, apenas
um o fez sob a pressão de um embargo: a África do Sul. Vinte países sofreram
sanções limitadas, e os 14 restantes encontraram o caminho da democracia sem
nenhuma sanção.
Dos dez estados
que sofreram embargos, apenas um se democratizou e desistiu de seu programa
nuclear: a África do Sul. Os outros se tornaram mais antidemocráticos,
reacionários e muitas vezes mais perigosos. É a direção oposta à que desejamos
para o Irã.
Se o Irã
concordar em Moscou em aceitar a exigência americana de parar com o enriquecimento
de urânio no nível de 20%, isso efetivamente obstruirá qualquer atalho que os
iranianos possam usar para chegar à bomba. O Congresso precisa conceder a Obama
o espaço político para obter um "sim" como resposta.
O Congresso dos
Estados Unidos precisa se decidir. Ele quer impedir que o Irã construa uma
bomba nuclear ou quer continuar com as sanções? Se continuar assim, não terá
nem uma coisa nem outra. / TRADUÇÃO DE ANNA CAPOVILLA
Fonte: O Estado de São Paulo http://www.estadao.com.br/noticias/impresso,deem-a-obama-uma-chance-na-questao-do-ira-,886579,0.htm
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