Criada à
direita, Aliança do Pacífico rivaliza com o ‘esquerdista’ Mercosul
Novo bloco quer
integrar a América Latina com bases liberais e sem burocracias do Mercosul.
Há cerca de um mês, a criação de um bloco
de integração na América Latina passou quase despercebida no Brasil, mas
aparentemente não entre os líderes do Mercosul. A entrada da Venezuela no
mercado sul-americano é apontada como uma reação à Aliança do Pacífico. Formado
por Chile, Peru, Colômbia e México, o acordo prevê a integração das economias
dos países do oceano Pacífico para que seus integrantes enfrentem a
concorrência asiática e se transformem no motor do crescimento latinoamericano.
Uma proposta que imporá desafios ao projeto de expansão do Mercosul, como a
solução de problemas internos de seus membros, mas sem inicialmente ameaça-lo.
A Aliança
do Pacífico aposta na diversificação de suas relações comerciais para
conter o avanço chinês na região, ao mesmo tempo que aproveita os benefícios da
demanda asiática por commodities. Todo esse fluxo de comércio comporia uma área
de livre circulação de bens, serviços, capitais e pessoas, em um projeto
semelhante ao Mercosul. A principal diferença apontada pelos líderes dos países
do novo bloco, no entanto, seria a busca por uma integração rápida. Algo que
tornaria o mecanismo mais atraente, embora ele já seja visto como a iniciativa
“mais importante” e ambiciosa da região pelo economista Roberto Teixeira da
Costa, presidente da Câmara de Arbitragem da Bolsa de Valores de São Paulo.
Para ele, o plano acerta ao explorar a ligação com Pacífico, que coloca o bloco
na rota preferida das Américas com a Ásia, logo, em vantagem ao Mercosul na
concorrência pelo mercado asiático.
O
novo bloco, que reúne 40% do PIB da América Latina, 55% de todas suas
exportações e um mercado de 206 milhões de consumidores, possui planos
ambiciosos na relação entre seus membros. O projeto foca na consolidação de
novos investimentos, principalmente em uma maior integração energética e de
infraestrutura, e mais comércio intrarregional (com colaboração alfandegária).
A Colômbia seria o referencial para as exportações da produção geral, por
possuir tratados de livre comércio com EUA, Canadá e China, por exemplo. Um
fator que pode levar esses itens aos mercados citados em melhores condições de
preço que os do Mercosul.
A Aliança também ataca à burocracia,
apresentando o Mercado Comum Sul-americano como um exemplo a ser ignorado. O
grupo pretende avançar de forma mais rápida sem impedimentos ideológicos em
temas comerciais e de integração, abominando itens como barreiras protecionistas.
O discurso é totalmente liberalizante, seja nas tarifas, comércio eletrônico,
cooperação aduaneira ou investimentos. E mostra também uma divisão ideológica
entre os governos dos países da América do Sul. Enquanto o Mercosul vive um
momento de líderes de esquerda – com a exceção do Paraguai após a deposição de
Fernando Lugo -, a Aliança do Pacífico reúne os países mais neoliberais da
América Latina. A exceção fica com o presidente do Peru, Ollanta Humala, da
esquerda. Mas o mandatário está preso ao bloco, proposto pelo ex-presidente
Alan García, que conduziu reformas liberais no país andino.
O projeto pretende ter grande envergadura
regional e abocanhar novos membros. Um discurso que começa a rivalizar com os
planos de integração do Mercosul. O novo ministro da Fazenda do Paraguai
declarou na última semana que a suspensão do país do mercado comum
sul-americano empurra o governo paraguaio a buscar alianças com outros países e
blocos, que incluem os EUA e países da Aliança do Pacífico. Mas para Giorgio
Romano Schutte, coordenador do curso de Relações Internacionais da Universidade
Federal do ABC (UFABC), essa ameaça poderia ser contornada com os países de
ambos os blocos realizando acordos econômicos mais flexíveis por meio da Unasul
(União de Nações Sul-Americanas), embora sempre em alerta ao eventual avanço da
Aliança. “Se a AP entrar na América do Sul, seria um cenário que a diplomacia
brasileira deve atuar.”
Apesar dessa pressão, o Mercosul não deve
sentir-se ameaçado. Alguns elementos da formação da Aliança indicam possíveis
dificuldades de integração dos países do novo bloco. Entre eles, a heterogeneidade
dos interesses comerciais de seus integrantes. Tullo Vigevani, professor da
Universidade Estadual Paulista (Unesp) e especialista em Mercosul, destaca que
o fato de México, Colômbia, Chile e Peru estarem ligados por tratados de área
de livre comércio com os EUA coloca a possibilidade de uma integração regional
e produtiva, como se pretende no Mercosul, difícil de se deslumbrar. Até porque
os países da aliança também possuem acordos com o Mercosul.
Para o analista, o Mercosul tem mais
chances de seguir consolidar uma integração regional. Isso dependeria, no
entanto, de uma solução por parte dos governos dos países do bloco para suas
dificuldades regionais e de desenvolvimento interno, que tendem a sinalizar com
medidas protecionistas. “Isso não é bom para uma integração, a não ser que se
pensasse em um regional desenvolvimentismo.
Fonte: Carta Capital http://www.cartacapital.com.br/internacional/criada-a-direita-alianca-do-pacifico-rivaliza-com-o-esquerdista-mercosul/
Nenhum comentário:
Postar um comentário