O início de outubro foi marcado por nova
espiral de contraposição na Síria.
Após recuperar do ataque inesperado dos
combatentes da oposição em duas grandes cidades do país Damasco e Aleppo em
julho, as forças governamentais começaram a vencer seus adversários em todo o
país. Em algumas regiões, por exemplo, na capital, isto ocorre com mais êxito.
Mas em Aleppo e nas províncias do norte, o exército sírio tem sérias
dificuldades.
Os combates no norte têm sido
especialmente violentos. Além disso, um poderoso fator que contêm os esforços
das tropas fiéis a Assad é a Turquia. No território turco encontraram asilo
muitos refugiados, entre os quais há civis e adversários armados do líder
sírio. Através da fronteira turco-síria passa uma torrente ininterrupta de armas
para as forças oposicionistas.
Ancara, aproveitando-se do incidente
trágico na região de Akçacale, passou para a táctica de desfechar ataques de
artilharia contra as posições das tropas sírias perto da fronteira. A morte de
cidadãos turcos formalmente dá à Turquia o direito a tal reação, apesar de
Damasco ter admitido oficialmente a culpa e pedido desculpas. Entretanto,
deve-se reconhecer que, dando apoio à oposição armada, a Turquia é responsável
pela escalada da violência na Síria e suas consequências (inclusive os
incidentes com projéteis).
A análise da situação mostra que Ancara
não quer combater com a Síria. Se a direção política turca tivesse a intenção
de se envolver no conflito armado, ela o teria feito em 22 de junho, quando a
defesa antiaérea síria abateu um avião-espião da Força Aérea da Turquia. Por
enquanto, nem mesmo se trata das chamadas operações trans-fronteiriças,
permissão para as quais foi dada pelo parlamento turco.
Até mesmo o incidente com o sequestro do
avião sírio, que realizava um voo de Moscou a Damasco não pode ser classificado
como bloqueio aéreo da Síria. Sua introdução seria de fato declaração de
guerra. O mais provável é que a Turquia simplesmente queira aumentar a pressão
sobre Damasco, inclusive psicológica.
Provavelmente, Ancara por enquanto é
contida por algumas circunstâncias. Em primeiro lugar não está clara a posição
dos EUA. É pouco provável que Washington se decida a envolver-se no conflito
armado no Oriente Médio antes das eleições presidenciais de novembro. Ora, sem
o apoio americano a Turquia não começará operações de combate de envergadura
contra a Síria.
Em segundo lugar, é muito difícil para a
Turquia agora definir sua linha estratégica se não for envolvida no conflito
militar direto com Damasco. O preço da vitória militar não será pequeno e o
resultado é duvidoso. Pois, a julgar pelas ações da oposição armada, em suas
fileiras há muitos elementos radicais, que podem transformar por muito tempo a
região em barril de pólvora, sendo que os dividendos para Ancara serão muito
duvidosos.
Finalmente, a Turquia é obrigada a
considerar a posição do Irã. Teerã já declarou que não ficará de fora em caso
de ataque militar contra a Síria. A direção iraniana, não sem fundamentos,
supõe que o próximo da fila será justamente o Irã. Por isso envida todos os
esforços para apoiar Bashar al-Assad.
A Síria e o Irã já acionaram no mínimo uma
alavanca de pressão sobre a Turquia – a curda. Damasco praticamente concedeu
ampla autonomia às suas províncias curdas. Desse modo, no mapa do Oriente
Médio, além do Curdistão iraquiano autônomo, pode surgir perfeitamente o
Curdistão sírio.
Na própria Turquia agravou-se bruscamente
a contraposição entre o exército turco e os grupos armados curdos. Por
enquanto, não há quaisquer fatos que indiquem diretamente que a Síria ou o Irã
estão por trás disto. O mais provável é que os líderes dos curdos turcos
estejam a reagir à situação geral na região, supondo que em breve pode surgir o
momento propício para atingir seus objetivos.
Nestas condições, é muito duvidoso que a
Turquia queira uma guerra com a Síria, pelo menos neste momento. Mas a situação
pode mudar já em um futuro próximo. O jogo em torno de Damasco, no qual está
envolvida uma série de atores com grandes ambições geopolíticas, está longe de
terminar.
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