Via Estadão : http://blogs.estadao.com.br/gustavo-chacra/
Faz quatro anos que
Israel lançou uma ampla operação na Faixa de Gaza para tentar conter o
lançamento de foguetes do Hamas e outras organizações palestinas contra o sul
do território israelense. Depois de três semanas de bombardeios e invasão
terrestre, cerca de 1.300 palestinos e 13 israelenses morreram. Eu cobri este
conflito para o Estadão.
Agora, o premiê de
Israel, Benjamin Netanyahu, cogita levar adiante uma nova ofensiva para conter
o lançamento de foguetes. Obviamente, é uma repetição do cenário da virada do
ano de 2008 para 2009. O resultado tende a ser parecido, com o agravante de o
Hamas ter alguns foguetes com capacidade de atingir Tel Aviv e aumentar as
baixas israelenses.
Israel ainda precisará
lidar com o apoio do governo do Egito ao Hamas. As fronteiras não ficarão
fechadas. O aliado Hosni Mubarak foi derrubado do poder nos protestos da praça
Tahrir e a atual administração da
Irmandade Muçulmana no Cairo não fechará a passagem de Rafah como fez o ditador
há quatro anos.
Neste momento, os israelenses
possuem problemas mais graves. Primeiro, a guerra civil na Síria. Bashar al
Assad e seu pai Hafez mantiveram a segurança nas colinas do Golã por mais de 30
anos. Esta estabilidade acabou. O aliado rei Abdullah da Jordânia corre o risco
de cair em protestos pró-democracia. O Sinai aos poucos se transforma em um
oásis de militantes de organizações inspiradas pela Al Qaeda. O Hezbollah, no
Líbano, ainda é a mais poderosa milícia do mundo. Para completar, há a questão
iraniana.
Já o Hamas demonstra mais
uma vez uma inabilidade total. Consegue, como sempre, deteriorar a imagem dos
palestinos. Exatamente no mês em que o presidente Mahmoud Abbas, do Fatah,
decide ir à ONU buscar o reconhecimento do Estado com o status de não-membro da
organização em votação na Assembleia Geral, a organização responsável pelo
controle de Gaza decide armar mais um conflito contra os israelenses.
A Cisjordânia, com
todos os seus problemas, evoluiu bastante ao longo dos últimos quatro anos.
Gaza regrediu na história. Se os palestinos quiserem ter um Estado, devem se
inspirar em Ramallah, não em Gaza.
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Acrescentaria alguns aspectos.
a)A eliminação do líder do Hamas se foi pertinente do ponto de vista militar, do ponto de vista político entendo não ter sido. Ele exercia uma liderança de fato entre a militância e defendia a trégua com Israel;
b)Aumentar o atrito com os palestinos é conveniente porque reforça a unidade interna num momento em que as eleições estão se aproximando e arrastam os EUA para uma reafirmação de sua aliança com Tel Aviv;
c)A deterioração geral das condições anteriores favoráveis tanto no Egito como na Síria, podem vir a arrastar os iranianos para algum envolvimento. A atualização desta condição de fortaleza sitiada dá ao governo de Israel meios para atrair apoio moral para sua autodefesa e até, no limite, um ataque ao Irã.
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