O Egito não corre o risco de voltar a ser
uma ditadura como nos tempos de Hosni Mubarak. O perigo, hoje, é o governo da
Irmandade Muçulmana, liderado pelo presidente Mohammad Morsi, aderir a uma
espécie de chavismo islâmico, no qual tentará impor as suas ideias ao restante
da população por meio das urnas.
O plebiscito sobre a Constituição pode até
parecer democrático. Afinal, a população que irá votar para decidir se aceita
ou não a proposta de uma assembleia constituinte controlada pela Irmandade e
pelos ainda mais radicais salafistas, sem a participação de figuras liberais e
também da minoria religiosa cristã copta, que corresponde a cerca de 10% da
população.
Mas o texto é um retrocesso na questão das
mulheres, dos cristãos e mesmo de liberdades civis quando comparada aos tempos
de Mubarak. Seria uma legislação inaceitável em qualquer país do Ocidente. A
base para as leis será a Sharia, adotada apenas em regimes radicais do Golfo
Pérsico, como a Arábia Saudita, mas não em nações árabes mais modernas como o
Líbano e a Tunísia.
Teoricamente, podem afirmar que, se
população não quiser, simplesmente votará contra. O problema, porém, é que a
Irmandade Muçulmana adiantou o máximo possível a votação e possui uma máquina
eleitoral para o dia da votação comparável à do Partido Democrata nas recentes
eleições presidenciais dos EUA.
O grupo do presidente Morsi tem uma
logística avançada para conseguir levar a sua base para votar. Também
implementou uma sofisticada máquina de propaganda. Os adversários da oposição,
por sua vez, ainda não conseguiram se organizar e são desunidos.
Desta forma, parece provável que Morsi
conseguirá aprovar a Constituição que conduz o Egito para um viés mais
conservador. Uma das últimas alternativas dos opositores seria, com os
protestos, convencer o novo governo a postergar a votação com o temor de
deterioração da situação no país e aumento da violência.
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