Gilles Lapouge -
O Estado de S.Paulo
Uma questão que ocupava de maneira
obsessiva a diplomacia ocidental desapareceu há alguns meses dos radares: já
não se fala mais dos progressos realizados pelo Irã para se dotar de uma arma
nuclear.
Paralelamente, não se evocam mais os
bombardeios que Israel, ou os Estados Unidos, poderiam realizar para erradicar
as instalações nas quais engenheiros e operários estariam preparando uma bomba
atômica iraniana.
Esse silêncio tem razões políticas: os
dois países aptos a lançar uma ação militar, Israel e Estados Unidos, estavam
indisponíveis. Os Estados Unidos tinham a eleição presidencial de 6 de novembro
e Israel vai votar no dia 21 para definir se o atual governo se mantém.
Isso não significa que Teerã tenha
acalmado seus ardores. A Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA),
ligada à Organização das Nações Unidas, diz o contrário: "O programa
iraniano não vai parar. Cada mês, este país instala duas novas cascatas de
centrífugas".
Depois que essas duas disputas eleitorais
ficarem definitivamente para trás, é bem provável que o perigo nuclear iraniano
volte à baila. Mas o problema poderá mudar de figura.
Até o ano passado, Israel estava
impaciente para agir, para lançar bombas e Barack Obama temperava esses
arroubos militares, chegando a "repreender" o primeiro-ministro
israelense, Binyamin Netanyahu, que não gostou nem um pouco.
Hoje, Israel se sente um pouco
ultrapassado pelos acontecimentos. A verdade é que o Irã enterrou seus sítios
nucleares tão profundamente no subsolo que a aviação israelense já não será
capaz de destruí-las.
Somente a aviação americana tem meios
militares suficientemente poderosos para realizar semelhante operação.
Barack Obama não tem escapatória. O que
ele vai decidir? É verdade que ele prometeu que não deixaria o Irã dominar a
arma nuclear. Mas ele fez essa promessa a contragosto. Aliás, ele também
declarou que encerraria a "década de guerra" da era Bush.
O presidente americano disse também que
tal operação poderia provocar uma escalada dos preços do petróleo e, com toda
certeza, uma explosão do mapa político desse Oriente Médio instável. Sabe-se
também que o Irã construiu meios de defesa antiaéreos formidáveis ao redor de
seus sítios nucleares.
No entanto, embora os israelenses
reconheçam que não têm a capacidade para realizar a operação sozinhos, eles
continuam decididos a pressionar de todas as formas os Estados Unidos.
O período que se abrirá após as eleições
israelenses do dia 21 será propício. Seja qual for o resultado (Netanyahu ou
não), o futuro gabinete israelense será composto de "falcões".
Israel fará de tudo então para arrastar os
Estados Unidos para uma ação militar. Mas a maioria dos ministros israelenses
não confia em Obama e desconfia que ele prefere contemporizar.
Netanyahu e seus ministros têm adotado um
discurso de viés alarmista. Eles argumentam que é preciso agir muito rápido
contra o Irã: "O ponto de máximo perigo será atingido no dia em que os
iranianos dispuserem da quantidade de urânio para fabricar uma arma atômica, ou
seja, 250 quilos de urânio enriquecido a 20%, e eles estão fabricando
regularmente 15 quilos por mês. Um simples cálculo permite concluir que restam
aos americanos e ao Ocidente aproximadamente seis meses para agir".
Esses cálculos, esse prazo de seis meses,
circulam em Israel há algumas semanas. E constata-se que foram retomados, sem
citar sua origem, por alguns meios de comunicação importantes do Ocidente, como
se Israel tivesse conseguido impor aos ocidentais, conscientemente ou não, seu
próprio calendário. / TRADUÇÃO DE CELSO PACIORNIK
http://www.estadao.com.br/noticias/impresso,o-arsenal-do-ira-,982508,0.htm
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