O serviço de propaganda da Coreia do Norte publicou recentemente no
YouTube um material intitulado "Tempestade de fogo atingirá a sede da
guerra". No vídeo, composto principalmente por registros de desfiles
militares na capital norte-coreana e lançamentos de mísseis, o exército
local ataca o Capitólio e a Casa Branca.
Ao comentar o ataque imaginário, o locutor diz: "A Casa Branca está
na mira de nossos mísseis de longo alcance, enquanto a capital da guerra está
na zona de alcance de nossa bomba atômica".
Segundo especialistas da CNN, porém, a Coreia do Norte não possui armas
nucleares e levará muito tempo para criá-las.
"Os EUA não aceitarão que a Coreia do Norte se torne uma potência
nuclear. Não ficaremos de braços cruzados à espera de que a Coreia do Norte
construa mísseis nucleares e os aponte contra os EUA", disse o porta-voz
da Casa Branca, Jay Carney.
"Anunciamos recentemente a intenção de desenvolver nosso programa
de defesa antimíssil. Isso reflete nossas preocupações a respeito da ameaça por
parte da Coreia do Norte", acrescentou.
Por um lado, a Casa Branca admite que a Coreia do Norte não tem e nem terá
mísseis nucleares porque os EUA não permitirão que isso ocorra. Por outro, os
EUA continuam reforçando seu escudo antimíssil no Extremo Oriente.
Falsa defesa
Isso ocorre, porém, porque desejam se defender da China, e não da Coreia
do Norte. Os lançamentos de mísseis, os testes nucleares e a retórica belicosa
do governo norte-coreano dão
motivos aos EUA para aumentar
sua força antichinesa.
De acordo com especialistas do Instituto Russo de Estudos sobre os EUA
e Canadá, a China possui entre 180 e 200
ogivas nucleares, das quais entre 40 e 50 podem atingir o território
norte-americano (nas regiões do Alasca, Havaí e na costa do Pacífico). Além
disso, a China possui centenas de mísseis de médio alcance.
Da mesma forma a principal frota de submarinos nucleares
norte-americanos se encontra no Pacífico, e não no Atlântico, como durante
Guerra Fria. A base de Bangor aloja oito submarinos porta-mísseis balísticos
norte-americanos, dos quais seis estão em uso.
No total, são 192 lançadores de mísseis balísticos, dos quais 156 estão em uso. Na base de Kings Bay,
há apenas seis submarinos, dos quais quatro estão em uso. Isso equivale a 145
lançadores, dos quais 96 em uso.
Portanto, os EUA possuem cerca 130 mísseis balísticos, com mais de 500
ogivas nucleares e tempo de voo de 10
a 15 minutos, instalados em submarinos, para poder
desarmar a China.
Em caso de perigo, 30 mísseis interceptores estratégicos GBI no Alasca e
seis na Califórnia serão suficientes para interceptar as poucas ogivas chinesas
que escaparem da destruição
durante um ataque por
parte dos EUA.
Os mísseis de médio e curto alcance chineses serão combatidos pelos
mísseis Patriot PAC-3, que estão sendo vendidos pelos EUA ao Japão, Coreia do
Sul e Taiwan, e pelos mísseis SM-2 e SM-3 instalados em navios.
Em 2010, dos 21 navios equipados com o sistema Aegis, 18 estavam no
Oceano Pacífico. Além disso, o secretário de Defesa dos EUA, Chuck
Hagel,
anunciou no dia 16 de março que os EUA instalarão mais 14 sistemas
antimíssil no Alasca e mais um radar no Japão, além de examinar a
possibilidade de criar
em seu território o terceiro conjunto de mísseis armazenados em
depósitos.
Combatendo mísses norte-coreanos inexistentes
A China é o principal patrocinador político e econômico da Coreia do
Norte. Mesmo assim, não conseguiu dissuadir o governo norte-coreano de realizar
testes de mísseis: o enviado especial da China na Coreia do Norte teve seu
pedido de audiência negado.
O gesto pouco amistoso em relação a Pequim demonstrou quão
importante foi para o governo norte-coreano realizar os testes e, aparentemente, reforçar a posição de seu jovem
líder.
Como resultado, a China aprovou as sanções da ONU contra a Coreia do
Norte. Pelo visto, é a única maneira possível de chamar o governo norte-coreano à razão.
Por outro lado, a atual situação pode estimular um estreitamento na
cooperação entre Moscou e Pequim contra os EUA em matéria de defesa antimíssil.
Já em maio do ano passado, durante a cúpula da SCO (do inglês,
Organização de Cooperação de Xangai) em Pequim, Rússia, China e os demais
integrantes da organização condenaram os planos dos EUA de instalar um escudo
antimíssil na Europa e na Ásia.
A Rússia encara o escudo antimíssil norte-americano na Europa como a
principal ameaça a sua segurança nacional. A China também duvida que a
instalação de elementos terrestres e navais do escudo antimíssil
norte-americano no Japão, Taiwan, Coreia do Sul e Filipinas se deva unicamente
às preocupações dos EUA com o programa nuclear da Coreia do Norte.
"O aumento unilateral e ilimitado do potencial do escudo antimíssil
por um Estado ou grupo de Estados pode prejudicar a segurança internacional e a
estabilidade estratégica", diz a Declaração dos
Chefes de Estado da SCO aprovada em Pequim. Talvez seja tempo de Moscou e Pequim
adotarem fórmulas mais concretas.
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