Publicado em 16/03/2015 às 19:59 -
Atualizado em 17/03/2015 às 11:13
Em 2013, quando Hou Minjun, comandante da unidade blindada do 27º
Exército Chinês, recebeu ordens para conduzir suas tropas numa viagem de
nove dias durante um exercício de treinamento na Mongólia Interior, ele
perdeu mais de metade de seu poderio militar nesse treinamento.
Nas primeiras 48 horas do exercício militar, Hou viu todos os 40
tanques de seu batalhão quebrarem, um após o outro. Apenas 15 tanques
puderam ser reparados e continuar a marcha de 145 quilômetros, como
relatado por um serviço de notícias do Exército de Libertação Popular
(ELP).
Apesar de ter sido uma simulação em situação de não-combate, o
batalhão perdeu praticamente todo os seus equipamentos numa experiência
que Hou, que serve o exército há 32 anos, descreveu como “dolorosa”.
Esse fiasco durante um exercício militar é um indicativo dos desafios
que os militares da China enfrentam. O regime chinês esforça-se para
modernizar e implementar amplas mudanças nas suas forças armadas, no
entanto, de acordo com especialistas e relatórios, os problemas na
qualidade da formação de seus soldados e nos equipamentos no ELP
persistem.
Tanques obsoletos e incompatíveis
A malfadada experiência de Hou nesse exercício militar não é de
surpreender. Dos milhares de tanques atualmente em serviço no ELP, a
esmagadora maioria são variantes do T-55, um projeto soviético produzido
pela primeira vez pouco depois da Segunda Guerra Mundial. Melhorias e
modernizações têm prolongado a vida útil desse tanque outrora de
sucesso, mas que, depois de mais de 60 anos de serviço, simplesmente não
se encaixa mais num projeto de estabelecer um arsenal militar moderno.
De modo especial após a Guerra do Golfo de 1991, em que aeronaves e
blindados americanos destruíram milhares de tanques soviéticos e alguns
outros construídos na China, o ELP têm se esforçado para realizar novas
aquisições e projetar tanques mais atualizados, como o ZTZ-99, que
incorpora filosofias de design tanto ocidentais como soviéticas, para,
com isso, tentar acompanhar os avanços na área militar.
Mas, isso não é suficiente. De acordo com um relatório de fevereiro
postado no “War on the Rocks”, um blog americano de análise militar, as
modernizações das forças blindadas do ELP podem se tornar um problema,
pois estão longe de serem abrangente. Porque esse novo tanque é
incorporado gota a gota, as divisões blindadas do ELP trabalham com
“várias gerações sob o mesmo teto”, parafraseando um provérbio chinês. O
ritmo lento e incerto das atualizações das força armadas chinesas levam
a frequentes revisões nos planos estratégicos de preparação do ELP para
uma eventual batalha real. Isso, combinado com a qualidade geral da
formação dos soldados do ELP, é um sério problema para a China numa
situação de um conflito moderno.
Problemas com o motor
A força aérea é um campo no qual o regime chinês tem colocado
bastante atenção, com resultados mistos. Os aviões do ELP, assim como
seus tanques, são modelos muito antigos, como os localmente produzidos
caças J-7 e J-8. A China adicionou à sua força aérea centenas de caças
de quarta geração – isto é, projetados a partir do final da Guerra Fria
– aos seus arsenais.
Um exemplo disso é o jato interceptor J-11, uma cópia chinesa do caça
soviético Su-27sk, este de superioridade aérea. Desde de 1992, o ELP
passou a produzir localmente o J-11, mas equipados com motores
fornecidos pela Rússia.
Após o colapso da União Soviética, o regime chinês tenta ansiosamente
comprado armamentos modernos do governo russo. Esta parceria tem dado
apenas alguns frutos. O Kremlin, cauteloso com a propensão chinesa a
roubar e fazer engenharia reversa de tecnologia estrangeira, tende
guardar seus segredos cuidadosamente, levando a várias negócios
infrutíferos e abortados às expensas do ELP.
Na esperança de se livrar da dependência dos motores russos,
essenciais para uma moderna força aérea do ELP, os militares chineses
tentam a décadas produzir seus próprios motores para adaptá-los ao jato
J-11 e também ao localmente projetado jato J-10, que também foi
otimizado para utilizar motores russos.
O motor a jato chinês WS-10, há muito tempo em desenvolvimento como
alternativa local para equipar o J-11 do ELP, tem consiste desempenho
duvidoso. De acordo com um relatório publicado em globalsecurity.org, em
2007, os militares chineses estavam insatisfeito com o motor e, em 2009
um oficial chinês disse que havia problemas fundamentais de projeto.
Em 2010, o Washington Post noticiou que, de acordo com especialistas
russos e chineses, a manutenção do motor WS-10A precisa ser realizada
com apenas 30 horas de voo, em comparação com 400 horas para os motores
de procedência russos, ou seja, muito abaixo dos padrões internacionais.
Em 2013, as forças navais do ELP começaram a contar com alguns poucos
jatos J-15, uma aeronave para porta-aviões, que, assim como o J-11,
também deriva da família de caças soviéticos Su-27. Os primeiros modelos
desse jato foram equipados com motores russos, mas, em 2010, foi
anunciado que um motor produzido na china, o WS-10H, seria usado em seu
lugar. A partir de 2012, no entanto, esses motores passaram a ser um dos
pontos fracos dessa aeronave.
Se esse recente motor chinês já atingiu ou não as expectativas, isso
ainda não está claro. Independentemente disso, um motor aceitável para a
4ª geração da família Su-27 não é adequado para o J-20, um jato chinês
supostamente de 5ª geração, que pretende se igualar ao jato americano
F-22 Raptor.
De acordo com um artigo publicado no blog “War is Boring” e
intitulado “As forças armadas chinesas são um dragão de papel”, o J-20
não estará em operação até 2021, no mínimo.
A hercúlea tarefa de treinar recrutas chineses
Os soldados chineses ainda não têm know-how suficiente para usar
esses novos armamentos de modo apropriado e eficaz. Leva bastante tempo e
esforço para treinar soldados. Requer competência para desenvolver
táticas e estratégias eficazes. Um recente relatório intitulado “A
incompleta transformação das forças armadas chinesas”, publicado pela
RAND Corporation, analisou as deficiências dos soldados de diversos
setores do ELP, inclusive o segundo Corpo de Artilharia, que controla as
armas nucleares da China.
De acordo com um relatório publicado pelo think tank (grupo de
reflexão) Project 2049 Institute, o pessoal da 2ª artilharia chinesa
tentou, no verão de 2012, realizar um exercício militar de 15 dias em um
abrigo subterrâneo com uma complexa rede subterrânea, mas não eles
puderam aguentar até o fim. No meio do treinamento, o pessoal ficou tão
perturbado psicologicamente que tropas do sexo feminino do ELP, “tropa
de desempenho cultural”, tiveram de ser levada para animá-los.
Teorizando que homens jovens não eram adequados para longa
permanência e longos deslocamentos em subterrâneos, a 2ª Artilharia
tentou uma versão de curta duração de três dias desse exercício, dessa
vez com as mulheres. Os resultados foram ainda mais decepcionante. Já no
segundo dia, uma parcela considerável delas teve que receber
aconselhamento psicológico e, algumas, até se recusaram a comer.
A qualidade e eficácia dos exercícios de treinamento de ELP são
assunto de críticas frequentes e dirigida aos oficiais chineses. No
geral, o ELP é frequentemente pressionado para realizar exercícios
militares em ambientes e situações realistas que revelariam fraquezas em
sua doutrina militar e forneceriam aos estrategista militares
informações valiosas para melhorarias.
O ELP enfrenta um obstáculo sistêmico, que reside na natureza de
origem, ou seja, o seu papel como o braço armado do Partido Comunista
Chinês.
Sob a liderança do partido
Para manter todas as “armas” sob o controle do Partido Comunista
Chinês, o ELP é subordinado ao Partido e mantido longe da supervisão
civil chinesa. A ideologia comunista permeia todos os níveis do ELP. De
acordo com um relatório do site de notícias Sinodefense, os oficiais
gastam mais de um terço do tempo engajados em “trabalhos políticos”, um
termo para reuniões ideológicas, sessões de estudo, e doutrinação. Todos
os oficiais de carreira chineses são membros do Partido Comunista e
todas as unidades maiores que pelotão são supervisionados por um oficial
político para, assim, assegurar que a disciplina do Partido será
mantida. Nos níveis mais altos da ELP, as principais decisões são
tomadas por comitês políticos.
A natureza fortemente politizada do ELP bem como o fato de o Partido
Comunista manter o ELP isolado das agências civis contribuem para a
corrupção grave que há em sua organização. Assim como o Partido, o ELP
opera em grande parte acima da lei e negócios ilícitos são comuns entre
os oficiais chineses.
Recentes esforços anticorrupção dos atuais líderes do regime chinês
ter punido milhares de militares por seus vícios. O oficial superior
mais proeminente a cair sob essa investigação é Xu Caihou,
ex-vice-presidente da Comissão Militar Central e diretor do Departamento
de Política Geral.
Apesar da posição de destaque que ele ocupou desde o início da década
de 2000, Xu nunca comandou uma unidade militar específica. Ele passou
toda a sua carreira no Departamento Político Geral. Entre as acusações
levantadas contra ele, está a de ter aceitado subornos em troca de
favorecer promoções. Durante a investigação, descobriram que esse
general possuía enorme quantidade de dinheiro vivo e pedras preciosas.
https://www.epochtimes.com.br/armas-da-china-real-guerra/#.WZQEslGQzIU
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