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segunda-feira, 3 de maio de 2010

CPGS - ABM - START - QSP ...

Parece uma sopa de letras, mas não é tão inofensiva.


Estas siglas se interligam para prover os EUA de uma plataforma multimodal de nova geração onde armas convencionais com poder de penetração geográfica de alto desempenho, e com uma precisão muito maior, permitirão suprir com armamentos convencionais aquilo que hoje é obtido com artefatos nucleares. Nesta concepção, vetores capazes de penetrar em profundidade global e altíssimas atitudes em territórios hostis ou potencialmente hostis, fariam com o uso de explosivos convencionais o serviço que dependeria atualmente de explosivos nucleares, com todos os seus problemas: a condenação moral ao uso destes armamentos e a contaminação dos alvos.

Veículos tripulados, como caças ou bombardeiros, ou não, como os “Predator” ou mísseis de cruzeiro do tipo Tomahawk, poderiam cruzar o espaço aéreo de países inimigos sem serem abatidos, ou se fosse o espaço de uma aliado, sem que ele soubesse ou fosse necessariamente envolvido.

O primeiro, CPGS, se refere ao denominado Conventional Prompt Global Strike, citado pelo Departamento de Estado em 9 de abril deste ano. O Programa de Ataque Global Imediato Convencional permitiria contornar as restrições recém estabelecidas no START, pois ele pertence a uma outra categoria de armas. Neste programa, armas convencionais avançadas e de longo alcance como as portadoras de tecnologia hipersônica, proporcionariam velocidade e alcance de um míssil balístico internacional a uma ogiva convencional.


Já o QSP é o Programa Quiet Supersonic Platform. Este programa pretende desenvolver um bombardeiro de alta velocidade e performance de longo alcance com grande carga e eficiência. A aeronave deverá cruzar em capacidade hipersônica (sem estrondo sônico perceptível no solo) evitando problemas com países amigos ou neutros sobrevoados durante seu voo. Neste projeto, outra vantagem adicionada é o tempo de reação que ele permitiria. Segundo o site Sistemas de Armas, “Para cruzar 13 mil km será (sic) necessário quatro horas contra quinze voando subsônico. A capacidade de sobrevivência é aumentada pela combinação de velocidade, altitude e furtividade para operar de dia contra as piores defesas como o caça F-22. Isto elimina a ameaça de mísseis SAM e caças em busca visual. Também diminui o alcance dos mísseis SAM e ar-ar. Um ataque por trás é praticamente impossível. É possível até deixar de ser furtivo para diminuir custos. A velocidade também aumenta a energia das armas que podem ser lançadas de logo alcance e aumentar a capacidade de sobrevivência. “ É o que se pode ver hoje Afeganistão e o uso dos já antigos B-52: operando em altíssimas altitudes, transportam suas cargas e bombardeiam sem oposição.

A busca por um bombardeiro de novo tipo está associada com a necessidade de se adequar a força de bombardeiros a novas realidades. Os B-52 devem voar ate 2044, e os B-2 podem vir a ter sua carreira interrompida em virtude de quedas ou se reduzirem a uma frota pequena. Enquanto isso, os B1 Lancer, intermediários entre a capacidade de transporte dos B-52 e a furtividade e alcance do B-2, deve ser retirado de serviço até 2020.

Assim, o recente encontro bilateral em Washington, nos dias 12 e 13 de março, quando Estados Unidos e Rússia reuniram-se para assinar o novo START ou Tratado de Redução de Armas Nucleares, embutia não só novos limites de redução dos arsenais atômicos, mas também uma nova doutrina militar norte-americana acerca do assunto.

Por meio de um acordo entre os norte-americanos e seus aliados, os países dotados de tecnologia nuclear mas que não são confiáveis, como o Irã ou a Coreia do Norte, seriam objeto de cerceamentos. Entre eles está uma revisão do TNP – o Tratado de Não-proliferação Nuclear – que faculta a investigadores da AIEA (Agência Internacional de Energia Atômica), da ONU, inspeções aleatórias e não agendadas nos países membros do tratado. Sua intenção seria monitorar os programas nucleares nacionais de forma garantir que os países que usam a energia nuclear para fins pacíficos, não desviem material radioativo para algum tipo de programa militar secreto. Neste caso, os EUA acenam com uma garantia de não reagir com armas de destruição em massa, mesmo se atacado, se o país agressor for signatário do TNP.

Assim, se o Irã ou a Coreia do Norte aderissem ao protocolo adicional do TNP, a comunidade internacional poderia monitorar seus programas nucleares e, ao mesmo tempo, os Estados Unidos se comprometeriam a não retaliar com armas nucleares em caso de guerra.

Para a Coreia do Norte isso permitiria manter seu arsenal atual embora sem ampliá-lo, e ao Irã, continuar seu programa nuclear que reiteradamente Teerã alega ser com objetivos pacíficos de geração de energia.

Mas segundo um artigo do jornalista Antonio Luiz M. Coelho da Costa, na revista Carta Capital em 16/04/2010, e chamado de “Economia de Bombas” o acordo americano-russo envolve uma tentativa de manter a hegemonia norte-americana sem o uso de armas nucleares. Assim, a garantia de retaliar com armas atômicas não seria apenas um gesto de “grandeza humana”, mas sim a constatação de que em breve isso simplesmente não será mais necessário com o CPGS.

Pelo novo START as ogivas serão desativadas, MAS NÃO DESTRUÍDAS, o que permitiria sua reativação posterior de forma mais ou menos rápida. Por sinal o presidente Lula menosprezou o acordo e por isso foi alvo, por sua vez, de críticas do ex-presidente Fernando Henrique que viu no tratado uma avanço significativo...

Pelo START anterior, a doutrina nuclear norte-americana reservava uma retaliação nuclear apenas (sic) para as grandes potências nucleares; mas esta nova doutrina generaliza a retaliação.

E o jornalista prossegue: “ A tese iraniana de “energia nuclear para todos, armas nucleares para ninguém”, é defensável. Em troca de promessas que podem ser abandonadas em horas, espera-se que outros países joguem fora muitos anos de pesquisa e investimento necessários para desenvolver a capacidade de produzir combustível nuclear por conta própria – a única violação de que o Irã pôde, até agora, ser acusado com provas. “

O desenvolvimento do CPGS e o desenvolvimento de armas convencionais com penetração em profundidade e alta furtividade compensariam a aparente renúncia pelo uso de armamentos atômicos. Com menos risco de contaminação com resíduos nucleares, os EUA ampliariam sua capacidade convencional de ataque. E para acomodar as eventuais ressalvas russas ou chinesas, as autoridades de Washington acenam com garantias de monitoramento por parte deles sobre tais armamentos. Mesmo porque a administração Obama parece reconhecer o status quo russo sobre a Europa oriental, e se houve concessões lá, devem ocorrer contrapartidas em outros locais.

“A Rússia tem interesse aparente em congelar as relações de força, pois seu prestígio internacional depende em grande parte do arsenal herdado da União Soviética. Sob outros aspectos, é hoje uma média potência tentando recuperar algo do peso que perdeu em termos econômicos e ainda mais em capacidade de inovação independente desde o colapso do socialismo. O Reino Unido é militarmente um apêndice do Pentágono desde os anos 50, a França abriu mão da sua relativa autonomia estratégica com o fim do gaullismo e a União Europeia como um todo, enfraquecida por divisões internas, não tem perspectiva de se tornar um poder militar global em futuro previsível.
Restam Índia e Paquistão que, embora donas de arsenais de alcance limitado, se impuseram como potências nucleares contra a vontade das forças ocidentais. E a China, que não é pouca coisa. Terceira potência nuclear, tem mísseis de alcance mundial, um vasto exército convencional, capacidade tecnológica ascendente (produz hoje quatro vezes mais artigos científicos que a Rússia) e uma economia em crescimento explosivo cujas necessidades de insumos e de mercados obrigam o governo de Pequim, queira ou não, a ampliar sua dimensão geopolítica, inclusive do ponto de vista militar.”

A integração de sistemas de disparo terrestres, aéreos, navais e -agora – espaciais, permitiriam os EUA uma vantagem militar assimétrica, desde que sua capacidade de tornar ativo o CPGS se efetive. E esta assimetria se daria pela operacionalização de outro programa: o escudo antimísseis ou ABM. Pelo primeiro eles deterão uma enorme capacidade ofensiva, e pelo segundo poderiam impedir um ataque ou uma retaliação.

Se um míssil de qualquer tipo for lançado contra os EUA, sua detecção poderia ocasionar uma interceptação ainda sobre o território do país lançador ou de um outro país “vítima”, de tal forma que eventuais resíduos da destruição cairiam sobre o territórios de outros!
Mísseis balísticos intercontinentais, mísseis lançados por aeronaves, mísseis de cruzeiro e bombardeiros de alta penetração e velocidade (hipersônicos) seriam apoiados por uma rede de alianças cobrindo desde o Oriente Médio até a Ásia para conter ameaças regionais latentes, capazes de eventualmente reescrever a conjuntura geopolítica internacional.

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