Invasão por terra, mar e terra. Combates de ruas entre tropas da IDF e Hamas. Dezenas de militares e civis sequestrados e levados para a Faixa de Gaza. Temor de uma segunda frente ao norte, com o Hezbolah. 75 mil reservistas convocados. Infiltração massiva e perda de controle soberano inédito em Israel.
Condenação internacional, "congelado" acordo de paz entre Arábia Saudita e Israel.
Mais de 2000 foguetes lançados contra Israel. Retaliações já deixam quase dois mil mortos e feridos em Gaza.
EUA teriam autorizado Israel a usar os estoques de armas norte-americanas pré estocadas no país.
"Estamos em Guerra" disse Netthanyahu.
Em Israel as cifras de baixas subiram de 40 para 100 mortos.
Relatos de combates de rua em várias localidades inclusive em Jerusalém.
Drones, parapentes, botes, paragliders, SUVs e carros de passeio teriam sido usados para a Infiltração inicial. Drones com granadas sendo usados para atingir soldados, tanques, veículos militares etc.
Civis baleados a esmo após a Infiltração inicial e os atacantes que rapidamente se espalharam pela maior área possível para produzir o máximo de dano e confusão.
Imagens de um tanque danificado e um soldado é arrastado para fora.
Relatos de pessoas cercadas em "quartos de pânico" enquanto combates ocorrem no lado de fora.
13 33h cerca de 298 mortos em território israelense.
50 anos do início da guerra de 1973, do Yom Kipur.
Os ataques lembram a ofensiva do Tet, de 1968 - ataques urbanos do vietcong contra as tropas do Vietnã do Sul e norte-americanos para estabelecer a situação de que seus inimigos não estavam vencendo.
Postos militares tomados e alambrados derrubados com escavadeiras abrindo brechas de infiltração.
Crescem relatos de mulheres desaparecidas nas redes sociais.
Passaram-se 15 anos do ataque às desaparecidas torres gêmeas e ao Pentágono. Encerrou-se no Ocidente o ciclo de otimismo aberto pelo fim da Guerra Fria
e pela falta de resistência eficaz e de alternativas aparentes à
globalização neoliberal imposta pelo consenso e hegemonia de Washington.
Os Estados Unidos e o mundo capitalista foram bruscamente despertados
dos devaneios hoje quase esquecidos do “fim da história” de Francis
Fukuyama, do “mundo plano” de Thomas Friedman e da “nova economia” dos
analistas de Wall Street.
O poder e a mídia desistiram de ninar o público com o conto de fadas
no qual a humanidade se casa com o livre-comércio e vive feliz para
sempre. Em seu lugar, passaram a contar uma interminável história de
terror na qual bichos-papões de burca e turbante se escondem atrás de
cada árvore e cada esquina para devorar crianças malcriadas que
desobedecem aos superiores e falam com estranhos. Uma estética mais
sombria, mas nem por isso mais real ou madura.
A nova narrativa é uma teia igualmente inconsistente de crenças e
diretrizes construídas sobre suposições e fatos escolhidos a dedo e
apresentados sem contexto e proporção. E sua função é igualmente
controlar as massas e desviar sua atenção.
Que os fundamentalistas existem e seus atentados causaram sofrimento a
muitos é um fato, mas sua proporção tem sido sistematicamente
exagerada. Principalmente nos EUA, onde essa vaga ameaça serve de
espantalho contra a imigração e de pretexto à construção de um aparato
de espionagem, intimidação e controle, mas na realidade é muito pequena.
Nos últimos dez anos, morreram em média nove pessoas por ano por
atentados jihadistas, sete das quais em ataques perpetrados por cidadãos
dos próprios EUA. Um número muito menor do que o das mortes causadas
anualmente por crianças de até 3 anos que pegam armas deixadas ao seu
alcance (21), relâmpagos (31), cortadores de grama (69) ou quedas da
cama (737), para não falar de crimes comuns cometidos por estadunidenses
(11.737).
O ciclo do 11 de setembro continua a ser alimentado (Foto: Patrick Sison/AP)
Enquanto restringem liberdades, impõem Estados de exceção e revisam
suas constituições em nome dessa ameaça superdimensionada, Washington e
outras capitais ocidentais mantêm ótimas relações com Estados e
famílias sabidamente patrocinadoras de organizações jihadistas e
insistem em tentar manipulá-las quando lhes parece conveniente a seus
fins, para depois culpar Maomé e o Alcorão pelas consequências.
Os sequestradores dos aviões fizeram contato e receberam assistência
de agentes sauditas nos Estados Unidos. Membros da Casa de Saud
transferiram recursos públicos a Osama bin Laden e aos financiadores dos atentados.
Não está provada a participação institucional e direta da monarquia
saudita, mas o envolvimento de setores do governo e da família real é
evidente. Na sexta-feira 9, a Câmara dos EUA aprovou por rara
unanimidade uma lei para permitir às vítimas do 11 de Setembro
processarem a Arábia Saudita por seus vínculos com o terrorismo.
O presidente Barack Obama pretende vetar a lei, mesmo que o veto
possa ser derrubado por dois terços do Congresso. Os sauditas ameaçam
com a liquidação em massa de títulos dos EUA e com “caos e instabilidade
nas relações internacionais”.
Tanto quanto perder a amizade dos sauditas, a Casa Branca receia que a
lei abra um precedente para que outros países, por sua vez, abram
processos contra os Estados Unidos por sua participação em intervenções
duvidosas pelo mundo. Pois a “Guerra ao Terror” é cada vez mais um cão que corre atrás do próprio rabo.
Sequer a lição mais óbvia do 11 de Setembro foi aprendida. Os líderes
do mundo continuam a cometer os mesmos erros de Ronald Reagan e Bush
pai ao apoiar os mujaheddin do Afeganistão contra seu governo socialista
dos anos 1980.
Ainda menos serviram de aprendizado os erros cometidos por Bush filho ao usar o ataque da Al-Qaeda
e imaginárias armas químicas e projetos nucleares como pretexto para
invadir o Iraque. Mesmo sem desafiar os aliados europeus e comprometer
tropas e recursos dos EUA na mesma escala, o governo de Obama os repetiu
na essência e contribuiu para espalhar ainda mais o caos no Oriente
Médio.
Hillary, como Obama, quer boas relações com cúmplices do jihadismo (Foto: Saul Loeb/AFP)
Apesar da propaganda de Donald Trump, o Estado Islâmico não foi criado por Barack Obama, mas de fato ele e a ex-secretária de Estado Hillary Clinton
quiseram manejá-lo como instrumento do jogo geopolítico contra o
ex-premier iraquiano Nouri al-Maliki, o regime de Bashar al-Assad, o Irã
e a Rússia. Assim como tentaram usar fundamentalistas da Síria, Iêmen e
Líbia.
Sempre estiveram conscientes de que derrubar Muammar Kaddafi
proporcionaria poder e armas aos jihadistas da África. Tanto quanto
George W. Bush e Tony Blair exageraram a suposta ameaça representada por
Saddam Hussein, eles e David Cameron foram cúmplices em mentiras sobre o
ditador líbio. No Reino Unido, o Comitê de Relações Exteriores do
Parlamento publicou na quarta-feira 14 um relatório devastador.
O governo de Cameron “não demonstrou que o regime de Kaddafi representasse
uma ameaça real aos civis, fez uma leitura literal e seletiva dos seus
elementos retóricos e fracassou na identificação das facções islâmicas
radicais dentro da rebelião”, concluíram os legisladores.
Com um cálculo tão frio quanto o dos neoconservadores de Bush, os
democratas avaliaram que os fundamentalistas poderiam ser neutralizados
ou cooptados no momento conveniente e julgaram que a recompensa valia os
riscos. Há pouco tempo, Donald Trump foi com razão vituperado por dizer
em campanha que o “erro” dos EUA no Iraque foi não ter se apossado do
petróleo para pagar os custos da invasão e por suas declarações em 2011,
quando se discutia a ação na Líbia: “A menos que tomemos o petróleo, a
Líbia não me interessa”.
Entretanto, um dos e-mails do instituto democrata Center for
American Progress vazados ao site The Intercept é da presidenta Neera
Tanden, cotada para chefe de gabinete de Hillary. “A Líbia deveria nos
compensar? Temos um déficit gigante. Eles têm um monte de petróleo. A
maioria dos estadunidenses prefere não se envolver com o mundo por causa
desse déficit. Se quisermos continuar a intervir no mundo, gestos como
fazer países ricos em petróleo nos reembolsarem parcialmente não me
parece loucura. Preferimos cortar o Head Start (educação), WIC
(assistência social) ou Medicaid (saúde)? Pois vivemos a política do
déficit, isso acontece e vai acontecer cada vez mais.”
A assessora de Hillary,
Tanden, sugere que países como a Líbia paguem pelo privilégio de ser
bombardeados (Foto: Neilson Barnard/AFP)
Aqui, a diferença entre republicanos e democratas se reduz àquela que
existe entre o cinismo e a hipocrisia: os primeiros sentem menos
necessidade de disfarçar a ganância com pretextos humanitários e
programas sociais.
O mesmo modus operandi se tentou aplicar à Síria, neste caso com menos sucesso por causa da oposição do Irã, do Hezbollah e
da Rússia. A Casa Branca e seus aliados também sabiam que a maior parte
do apoio militar e financeiro aos rebeldes sírios – talvez a metade do
oferecido pelas potências ocidentais e praticamente todo o proveniente
das monarquias árabes e da Turquia – acabaria nas mãos dos extremistas.
Isso
inclui notoriamente a Al-Nusra, ramo sírio da Al-Qaeda de Osama bin
Laden, cuja execução foi tão festejada por Obama e sua então secretária
de Estado em 2011. Recentemente, adotou o novo nome de Jabhat Fatah
Al-Sham e alegou ter-se separado da matriz.
Não mudou de métodos ou de ideologia. A expectativa é parecer mais
palatável e facilitar o trabalho de assessores, consultores e colunistas
prontos a defender o apoio a quaisquer grupos dispostos a criar
problemas para os rivais estratégicos do momento.
Isso inclui o Estado Islâmico. Efraim Inbar, assessor do governo de Benjamin Netanyahu,
conselheiro da Otan e diretor do centro Begin-Sadat de Estudos
Estratégicos (Besa) da Universidade Bar-Ilan de Tel-Aviv, um artigo
intitulado “A Destruição do Estado Islâmico É um Erro Estratégico”.
O argumento é que o “califado” atrai terroristas em potencial e
os mantém ocupados na Síria, além de consumir tropas e recursos do
Hezbollah, do Irã e da Rússia. Seu colapso aumentaria a influência e o
prestígio desses inimigos e liberaria suas forças, assim como a dos
jihadistas sobreviventes, para atacar Israel e o Ocidente. “A
estabilidade só é desejável quando serve a nossos interesses”, admitiu o
estrategista.
Trumpo proclama aos brados que os EUA deveriam saquear o petróleo da Líbia e do Iraque (Foto: Haidar Mohammed Ali/AFP)
Por essa miopia, pagam são só os civis sírios assediados na própria
terra ou em fuga para a Europa, mas o mundo inteiro. O governo turco
julgou poder tirar proveito da crise na Síria e aumentar sua influência com o apoio aos fundamentalistas e acabou por trazer a guerra para dentro de suas fronteiras.
Os governos britânico e francês, ao tentar aumentar sua popularidade e
sua fatia no mercado bélico e petrolífero, criaram a onda de refugiados
que gerou o Brexit e ameaça desintegrar a União Europeia e a cooperação internacional.
Os Estados Unidos estão distantes demais para receber mais do que
respingos ocasionais dessa violência e podem dar-se ao luxo de mais
apostas irresponsáveis para satisfazer lobbies e iludir eleitores.
Mas pagam um preço visível em termos de gastos militares e dívidas
que restringem suas opções de política econômica e outro invisível na
forma de crescentes ressentimentos contra suas ações, apoio popular e
prestígio para quaisquer forças dispostas a enfrentá-los, de potências
como a China e a Rússia a fanáticos como Al-Baghdadi e Ayman
al-Zawahiri. http://www.cartacapital.com.br/revista/919/guerra-ao-terror-licoes-nao-aprendidas
Chris Gunness viu um amigo e o filho morrer no bombardeio feito por Israel contra uma escola da ONU durante a chamada Operação Margem Protetora, realizada em 2014. Ao falar sobre o assunto com a emissora Al Jazeera, ele,
que é porta-voz da UNRWA (Agência das Nações Unidas de Assistência aos
Refugiados da Palestina), irrompeu em lágrimas, em vídeo que viralizou
na internet. O britânico trabalha há oito anos no organismo da ONU para
refugiados palestinos e, em entrevista, disse ter testemunhado a
situação dos palestinos em Gaza passar de “desastrosa para francamente,
completamente desumana”.
A UNRWA foi estabelecida em 1950 para realizar programas de trabalho e
auxílio aos refugiados do conflito árabe-israelense de 1948. Única em
seu compromisso de longa data com um grupo específico de refugiados, a
UNRWA deu apoio a quatro gerações de refugiados palestinos desde sua
origem. A organização atualmente provê assistência e proteção a 5
milhões de refugiados palestinos registrados, espalhados por Gaza,
Cisjordânia, Síria, Líbano e Jordânia. Wikicommons Míssil disparado pelo sistema de defesa anti-aéreo Cúpula de Ferro durante a Operação Margem Protetora, de 2014
Gunness trabalhou para a BBC por 25 anos até que a perda de
seu companheiro o levou a buscar por uma mudança. Integrou-se, então, ao
escritório da UNSCO (Coordenação Especial da ONU para o Processo de Paz
no Oriente Médio) e, a partir daí, abriu caminho para seu cargo na
UNRWA. Ele disse estar plenamente consciente de que a nova tarefa
envolvia um conflito de décadas, mas declarou que “não fazia nenhuma
ideia da mais pura desumanidade na qual as pessoas podem afundar”. Lágrimas virais
Durante a guerra de Gaza em 2014, Gunness irrompeu em lágrimas depois de uma entrevista à Al Jazeera.
Israel havia acabado de bombardear uma escola da ONU, matando 15
pessoas, incluindo um colega dele e seu filho. Sem que Gunness soubesse,
enquanto ele “desmoronava descontroladamente”, a câmera ainda estava
filmando. O vídeo foi transmitido na TV e, dentro de horas, se tornou
viral. Gunness passou a ser a notícia. Veja o momento em que ele começa a chorar:
“Pensei que poderia perder meu emprego”, disse Gunness. Mas, em vez
disso, afirmou, a reação dos colegas da ONU foi “de uma esmagadora
simpatia”. Ele disse ter recebido “e-mails de pessoas do gabinete do
Secretário-Geral dizendo que aquela tinha sido a coisa mais eloquente
que tinham ouvido sobre o conflito fazia um bom tempo”.
Um alto funcionário da UNRWA, disse ele, escreveu: “Não há nada pior do que uma escorregada humanitária... siga em frente”.
Por que ele acha que suas lágrimas tiveram tanta ressonância? “Acho que
demonstraram para muitas pessoas no mundo que existe senso verdadeiro
de ultraje e indignação”, disse ele. “Se autoridades da ONU, e não só
porta-vozes da ONU, perdem contato com a dignidade humana que se insere
no âmago do trabalho que fazemos, então, estão gravemente pobres.” Wikicommons
Milhares de casas foram destruídas durante guerra em 2014
Embora alguns o tenham criticado por causa do choro, ele permanece sem
remorsos: “Se minhas lágrimas atraíram a atenção mundial para as
lágrimas que estavam sendo derramadas em Gaza, então não tenho que pedir
desculpas de modo algum”. 'Completamente desumano'
Nos últimos oito anos de trabalho para a UNRWA, Gunness disse ter
testemunhado a situação dos palestinos em Gaza passar de “desastrosa
para francamente, completamente desumana”.
"Veja o bloqueio de Gaza," disse ele. "No ano 2000, havia 80 mil
pessoas dependendo da UNRWA para se alimentarem. Hoje, há 860 mil. Por
uma questão de opção política, a comunidade internacional decidiu
condenar aproximadamente 1 milhão de pessoas… à indignidade da
dependência de ajuda”.
Ele é um crítico dos governos ocidentais – principais doadores da UNRWA
– por não fazerem o suficiente para pôr fim ao conflito.
“Nós nunca vemos de fato ação política suficientemente robusta para
fazer a diferença”, disse ele. A UNRWA “lida com o impacto do fracasso
político, e é por esse motivo que nós sempre estamos defendendo que seja
adotada ação política”. É a “falta de progresso político, a falta de
ação política o que eu acho tão chocante, e permanece sendo algo que
precisa acontecer se tiver de haver justiça para os palestinos”. Por que Gaza não foi reconstruída?
Atualmente, diz ele, a UNRWA está atravessando a maior crise financeira
de sua história, que limita gravemente o que se é capaz de fazer,
incluindo a reconstrução de Gaza, estimada em quase “meio bilhão de
dólares”. Durante a guerra de Gaza, 140 mil propriedades de refugiados
foram “total ou parcialmente destruídas, ou impactadas pela guerra”.
Passado um ano, somente uma casa foi reconstruída. “Essa “desgraça” leva
a uma “sensação de real desespero em Gaza”.
Mas a reconstrução apenas não vai mudar a situação para quem está em Gaza, diz ele.
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"Mesmo que Gaza fosse reconstruída amanhã de manhã e todo mundo vivesse
em lindas casas, ainda seria preciso levantar o bloqueio. Gaza tem uma
economia exportadora, “tem de receber de volta sua economia porque, sem
ela, haverá continuamente instabilidade e conflito”, disse ele.
O peso financeiro sobre a UNRWA não podia ter vindo num pior momento:
“É tão triste e irônico que a UNRWA tenha tido a pior crise financeira
em sua história em um momento em que se tem extremismo sem precedentes
na região e fluxos de refugiados sem precedentes para a Europa”. Ele
considera que uma “UNRWA com plenos recursos” seria uma grave “ameaça ao
extremismo, e um elemento entre muitas respostas internacionais
distintas que deveríamos estar vendo”. A atual intifada palestina
Desde outubro, a violência israelo-palestina deixou 65 palestinos e
nove israelenses mortos. “Temos uma situação na qual do lado palestino
há um senso de frustração e desespero”, disse ele. Wikicommons
Ruínas em Beit Hanoun, no norte da Faixa de Gaza
Gunness citou “a violência dos colonos, que acontece amplamente com impunidade”, “não ter acesso à mesquita de Al-aqsa”
e o “uso desproporcional da força” pelo Exército israelense como
fatores “que levam os palestinos, especialmente uma nova geração de
palestinos mais jovens, a sentir que não há futuro político”.
O porta-voz enfatizou que nem ele nem a ONU desculpam os ataques de
palestinos com faca, “mas por outro lado, todos eles têm um contexto, e
esse contexto é o aprofundamento da ocupação e a brutalidade que vem com
ela”. A realidade tem “uma nova geração de palestinos mais jovens” que
sentem que não há futuro político”. Permanecendo neutro
Quando questionado sobre ficar neutro no que muitos consideram um
conflito desequilibrado, Gunness disse concordar que “é um conflito
muito desequilibrado, em que você tem um lado jogando pedras e o outro
lado com frequência usando armas”, mas “só podemos fazer esse trabalho
se permanecermos neutros” e a “neutralidade da UNRWA é a prata da
família”. Agência Efe
Palestino lança pedras contra tropas israelenses durante protesto realizado na última sexta-feira (16/11)
Ele fundamenta sua causa “dentro do escopo do humanitário” e “na lei internacional, sem desviar para o político”. Guerra civil síria
A guerra civil síria impôs mais pressão à UNRWA: “Nosso apelo para a
Síria foi 52% financiado. Nós nos reduzimos a dar aos refugiados o
equivalente a 60 centavos de dólares diários por pessoa, no contexto da
Síria”. Refugiados palestinos na Síria são “duplamente vulneráveis
porque agora estão no Líbano, refugiados pela segunda vez”.
De 12 acampamentos de refugiados na Síria, sete “foram arrastados para a
guerra e ficaram gravemente danificados, por isso as opções de fuga dos
palestinos são severamente limitadas”. Flickr/CC/Michael-Ann Cerniglia
Campo de refugiados palestinos nos arredores de Damasco, Síria, em 2009
O fluxo de refugiados sírios também impõe mais pressão sobre os
refugiados no Líbano, disse ele: “No Líbano, os palestinos que vieram da
Síria estavam conseguindo uma provisão de US$ 100 mensais como subsídio
para aluguel. Isso acabou”, isso significa que milhares de famílias
agora estão sem teto. Gunness pediu que o “Conselho de Segurança adote
ação política significativa para iniciar o longo processo de parar com a
guerra civil síria”: “guerras civis já foram interrompidas antes”,
disse ele. “Isso não está além da inteligência do homem”. Esperança
Gunness disse que a “UNRWA não quer nada mais do que fazer as malas e
ir embora, mas isso acontecerá quando houver uma solução duradoura e
justa para os refugiados palestinos, baseada na lei internacional, nas
resoluções da ONU e, a propósito, em consultas aos refugiados.
Apesar do processo de paz ser quase inexistente, Gunness está otimista e
acredita que a paz possa enfim se tornar realidade – embora diga que
isso pode não acontecer enquanto está vivo.
“Os palestinos vão encontrar justiça e paz”, disse ele. “Assim que os
palestinos puderem encontrar justiça e paz e segurança… outras pessoas
na região também poderão ter justiça, paz e segurança.”
Até lá, Gunness não está indo para parte alguma.
“Existe muito trabalho bom para ser feito”, disse ele. “Assim que o
trabalho com os refugiados palestinos se impregna na sua pele, não há
caminho de volta… se você trabalha com comunidades que estão em tal
desvantagem, você simplesmente fica lá. Você não tem escolha, a não ser
seguir em frente”.
A entrevista completa pode ser escutada abaixo (em inglês):
Da amizade Rússia-Paquistão pode surgir um Mega Bloco Militar de Potências Nucleares na Ásia.
Em julho
de 1949, Liaquat Ali Khan como presidente do Paquistão enfrentou um
imbróglio complexo. Índia e Paquistão estavam em seu início. Em um mundo
composto por dois blocos políticos opostos, os dois países tiveram de
escolher um dos lados rapidamente. Eles tinham a opção de aderir a
América com sua suntuosa uma linha democrática de “uma galinha na
panela e dois carros na garagem”, ou voltar para a URSS.
O Presidente dos EUA, Harry S. Truman, desconfiado de um efeito
dominó comunista subindo, fez uma abertura para Nehru da Índia em 1948
para visitar a América, o mundo dos sonhos. Este movimento estimulou a
Rússia a enviar um convite contador para o Paquistão e seu premier
Liaquat Ali Khan. Este convite, por sua vez, levou a um convite dos EUA
para o primeiro-ministro paquistanês. Liaquat Ali Khan tinha algumas
opções bastante flexíveis em sua mesa. Foi então que ele decidiu que
seria a América que ele iria visitar, e seria América que iria ajudar o
Paquistão fora das questões com as quais ele se deparou no seu início.
Isso é algo que surpreendentemente nunca aconteceu.
Nesse ínterim, Paquistão e Rússia desfrutavam de uma relação às
avessas. Por volta de 1960, Ayub Khan tinha percebido que foi a Rússia e
não a América que tinha a intenção de servir como uma cura para todos
os problemas do Paquistão. A confiança na ajuda da América tinha se
deteriorado ainda mais em ambos as guerras de 1965 e 1971. A Índia
tinha sido devidamente apoiada pela Rússia – tanto na guerra como nas
mesas de negociação em Tashkent. Os EUA, no entanto, tinham mostrado ao
Paquistão um ombro frio. Isso foi algo que irritou Ayub Khan e que o
motivou a escrever seu livro “Amigos, não senhores.” O Fracasso Dhaka e a
guerra de Bangladesh em 1971 tinham mostrado que a Rússia tinha sido de
fato uma aliada da Índia. Os EUA foram também aliados, mas com muitas
restrições.
O Paquistão tinha vindo a entender por inúmeras razões que a Rússia
manteve a sua palavra. A construção com ajuda da Rússia do Pipri Steel
Mill foi um exemplo instrutivo. Mas o interesse da Rússia no Paquistão
sofreu um duro golpe quando o Paquistão desempenhou um papel fundamental
em forçar a Rússia a partir do Afeganistão. O desastre afegão também
desempenhou um papel importante na queda da União Soviética. A queda
significou que a Rússia não estava em posição de contestar, mesmo que de
longe, a vantagem que os EUA tinham ganhado na região.
O avanço rápido para 2015. Após quase 20 anos de progresso sob
Vladimir Putin e Dmitry Medvedev, a Rússia está novamente na vanguarda
das nações. Há mais de duas décadas, o Paquistão também se tornou uma
nação com capacidade nuclear – uma conquista que já havia escapado dele.
A Rússia também se tornou tão agressiva quanto sempre foi. Sob Putin,
ela encontrou um messias que garantisse que a enorme nação não se
desintegrasse como a União Soviética. Sendo assim, o Paquistão tem a
certeza de que a Rússia é de fato uma força a contar.
Em termos bilaterais, a evolução em ambas as nações há mais de duas
décadas atualmente sinaliza que a Rússia precisa do Paquistão e o
Paquistão precisa da Rússia. Em sua busca para encontrar um messias nos
Estados Unidos, o Paquistão teve o acaso de descobrir a Rússia. A Ásia
no século 21 é muito diferente do que era no passado. As diferenças
ideológicas e uma mudança no locus do poder deixou a região aberta à
exploração e cansaço. A Ásia precisa desesperadamente de um bloco de
superpotências que garantam que os seus assuntos corram sem problemas.
Este é o lugar onde a idéia de bloco geopolítico entre o Paquistão, a
China e a Rússia ganha tração. Paquistão e Índia têm sido sempre
arqui-inimigos. Os dois países consideram-se inimigos um do outro. É por
isso que o Paquistão precisa da Rússia. O Paquistão, por causa de sua
inimizade distinta e eterna com a Índia, não pode se dar ao luxo de ser
parte de um bloco regional que tem a Índia sentada no topo da
hierarquia.
O Paquistão, a partir deste ponto de vista, é melhor aderir a um
bloco composto por China e Rússia – as nações que têm o poder para
compensar a Índia. Se o Paquistão quer a voz para ser ouvido, se o
Paquistão considera que pode ter um impacto sobre os eventos futuros na
Ásia, em seguida, emendar os laços com a Rússia é talvez o melhor
caminho a percorrer. Uma análise cuidadosa dos acontecimentos recentes
leva à conclusão de que as velhas inimizades agitadas por Mao Zedong e
Joseph Stalin uma geração atrás, todas têm desaparecido e que as trocas
diplomáticas entre os dois países estão se compondo.
Esta situação criou um caminho sem obstáculos para o Paquistão, um
caminho que pode levar a um bloco bem sucedido. Além do mais, somente a
Ásia se orgulha de ter 5 países que são membros do clube nuclear:
Rússia, China, Israel, Paquistão, Índia e Coréia do Norte, com o Irã
aspirando a se juntar à lista. O Paquistão está em uma posição forte em
um mundo onde os países são divididos naqueles que têm armas nucleares e
os que não têm.
Israel é um aliado americano, daí a intervenção contra esse bloco de
seu lado não estar prevista. Uma coalizão entre a China, Rússia e
Paquistão ameaçam muito o seu papel e poder na Ásia. Com três dos
poderes das armas nucleares em um bloco, seria impossível para Índia ou
Israel uma postura de ameaça. Nesta situação complexa, a Índia tem
desempenhado as suas cartas em uma forma reacionária também. O interesse
da China em ganhos econômicos do porto de Gwadar do Paquistão deixou a
Índia em estado de choque e desespero. Eles reagiram iniciando
financiamento para desenvolver o porto de Chabahar no Irã, perto do
porto de Gwadar. A Índia se sente tão ameaçada pelos laços
China-Paquistão que constrói uma aliança com Israel e Irã. Para
contrariar esta aliança, Paquistão e Rússia precisam reviver suas
relações e virarem uma nova página da diplomacia, uma página que
colocaria ambos em um caminho para a supremacia regional.
Além da supremacia regional, existem outros ganhos a serem feitos
pelo Paquistão e Rússia. Uma recente visita à Rússia pelo Chefe de
Pessoal do Exército do Paquistão, Raheel Shareef, sugere que ambos os
países estão ansiosos para construir relações militares de cooperação
onde ambos podem vir ao auxílio do outro. Há também especulações de que
um acordo foi alcançado entre as duas nações sobre a troca e compra de
armas de alta tecnologia da Rússia. Isso criaria uma oportunidade
bem-vinda para o Paquistão, que tem sofrido com as escolhas de
Washington de manter as armas americanas avançadas fora das mãos do
Paquistão. A decisão de Putin
de não visitar o Paquistão durante a presidência de Zardari tinha mais a
ver com a política externa duvidosa do Paquistão, no momento de
intenções russas. A Rússia tinha buscado boas relações com o Paquistão.
Mas a relutância de Zardari em apoiar fortemente a Rússia resultou no
cancelamento da visita. As relações entre Paquistão e Rússia são um
pasticho de tipos, uma viagem que tem todos os tipos de sabores. É uma
relação que viu a inimizade e agora está experimentando amizade. A
opinião popular no Paquistão agora favorece a perseguição desta
emocionante amizade com a Rússia. Não há muita chance de falha como
Henry Kissinger disse uma vez sugestivamente: “Nenhuma política externa –
não importa o quão engenhosa – tem alguma chance de sucesso se nasce
nas mentes de poucos e realizada nos corações de ninguém.”
Traduzido para publicação em dinamicaglobal.wordpress.com Fonte: http://defence.pk/threads/pakistan-and-russia-—-a-comely-dalliance-opinion.382341/
e http://atimes.com/2015/06/pakistan-and-russia-a-comely-dalliance-opinion/
Há algumas perguntas as quais é necessário
responder para que se entenda o conflito palestino-israelense e atual
situação no Oriente Médio
Efe 1. Quando surge o Islã político?
Em 1928 é fundada a Irmandade Muçulmana no Egito que, com o passar dos
anos, foi se expandindo para vários países do mundo árabe. Esta foi a
primeira organização moderna a adotar o Islã como base de seu projeto
político. [Faixa de Gaza, na manhã deste domingo]
Apesar de sua criação precoce e desenvolvimento teórico ao longo do
século XX, durante décadas foi ignorada pelos governos nacionalistas ou
pró-ocidentais que dominavam a região. Por conta das perseguições, seu
trabalho foi eminentemente social.
A irrupção massiva e expansão do islamismo se deu, então, a partir de
1979, com a chegada da Revolução Iraniana ao governo do país. 2. Quais são seus fundamentos?
O islã político parte da premissa de que os postulados do Islã são
aplicáveis a um programa político e integral para a sociedade. Daí
resulta a sharia, ou Direito Islâmico.
É necessário esclarecer que não existe uma única forma de interpretar o
Corão (livro sagrado dos muçulmanos) e os preceitos do Islã. Isso se
reflete, por sua vez, nas distintas organizações que promovem o
islamismo.
A sharia não é a mesma no Sudão (onde se pratica a mutilação genital
feminina), na Nigéria (onde é permitido apedrejar até a morte uma mulher
adúltera) ou no Irã, onde as mulheres podem dirigir e ir para a
universidade.
O cientista político francês François Burgat, especialista em Oriente
Médio, toca em um ponto básico, mas que carece de explicação: “São as
personalidades islâmicas que fazem o islamismo, e não o contrário”. Além
disso, afirma que “segundo a natureza do terreno social que atravessa,
das forças políticas que dela se apropriam, e das reações dos governos, a
corrente islâmica se expressa com multiplicidade de registros e através
de modos muito distintos. Nenhum deles pode ser uma chave de leitura
única e atemporal”.
Por isso, é incorreto dizer que o Hamas, na Palestina, é o mesmo que o
Boko Haram, na Nigéria, ou então a Irmandade Muçulmana, no Egito. 3. Que setores sociais representa o Islã político?
Com a revolução iraniana de 1979 e o primeiro governo islâmico da
história, irrompem na política setores sociais que haviam sido relegados
àquele rincão do mundo.
O estudioso francês Gilles Keppel aborda essa questão ao defender que
“o movimento islâmico é dúbio. Nele, encontramos a juventude urbana
pobre, oriunda da explosão demográfica do terceiro mundo, do êxodo rural
massivo e que, pela primeira vez na história, tem acesso à
alfabetização.” Keppel explica que também o integram “a burguesia e as
classes médias piedosas que foram marginalizadas no momento da
descolonização, levada a cabo pelos miliares e por dinastias fundadas
por meio do poder".
Isso quer dizer que o islamismo tem um apoio popular significativo,
especialmente em sua versão mais radical, e também nacional. Mas não
significa necessariamente que incorpore um projeto político ligado às
reivindicações populares progressistas ou de esquerda. Efe Militantes pró-Hamas fazem protesto contra Israel no Yêmen neste fim de semana 4. Por que o islamismo se dividiu em duas correntes majoritárias?
Toda revolução gera uma reação, e o caso do Irã não foi a exceção. A
chegada ao poder do Aiatolá Khomeini em 1979 determinou o auge do Islã
político e também a sua radicalização, em contraposição aos esforços
reformistas da histórica Irmandade Muçulmana.
É assim que aparecem e ganham força, na década de 1980, grupos armados
islâmicos, como o Hezbollah, no Líbano, e o Hamas, na Palestina.
Em resposta, a dinastia da Arábia Saudita emerge como foco de contenção
à radicalidade desses novos movimentos. O islamismo conservador passou,
assim, a ser financiado por um dos países mais ricos do mundo e seus
aliados estratégicos.
Para sufocar a tentativa de estender a revolução iraniana ao resto do
Oriente Médio, a Arábia Saudita impulsionou sua própria “cruzada”: a
guerra do Afeganistão. Milhares de mujahidines foram enviados como
combatentes internacionalistas a deter o avanço do comunismo soviético
por meio da dinastia de Riad. Dessa situação nasceu a ligação do saudita
Osama Bin Laden ao Taliban, que então governava o Afeganistão. 5. Como e por que surge o Hamas?
Neste contexto convulsionado do Oriente Médio, com o Islã político no
auge durante a década de 80, surge o Hamas (“Despertar”, em árabe).
Embora suas origens estejam ligadas à Irmandade Muçulmana egípcia,
devido ao trabalho social que realizava principalmente na Faixa de Gaza,
a nova organização expressou e expressa uma das versões do islamismo
radical, como consequência da influência da Revolução Iraniana.
A primeira Intifada (“levantar a cabeça”), que começou em 1987 e durou
até os Acordos de Oslo de 1993, foi o contexto no qual emergiu este novo
movimento político-militar. Durante estes anos, as populações
palestinas de Gaza, Cisjordânia e Jerusalém Oriental se rebelaram contra
a ocupação israelense. 6. O Hamas foi impulsionado por Israel?
Poucas mentiras sobre o conflito palestino-israelense foram tão
difundidas e aceitas, inclusive em ambientes ocidentais progressistas.
Como citado anteriormente, o Hamas surgiu de organização do trabalho
social realizado nas mesquitas palestinas, muito similar ao promovido
pela Irmandade Muçulmana no Egito. Durante décadas, Israel permitiu a
proliferação do trabalho religioso islâmico por considerá-lo inofensivo e
por representar um freio à posição laica, democrática e de libertação
nacional da OLP (Organização para a Libertação da Palestina). Aqui nasce
o erro e a distorção histórica. Efe Palestinos na Grécia prestam homenagem a mortos na Faixa de Gaza
Foi esta construção subterrânea que permitiu ao Hamas desenvolver uma
hegemonia muito forte entre a população (fundamentalmente de Gaza). A
Revolução Iraniana e a politização massiva do Islã no Oriente Médio
catapultaram o trabalho social ao plano político. 7. Quais as diferenças entre o Hamas e a OLP?
Primeiramente, o Hamas é uma organização cujo objetivo é construir um
Estado islâmico na região histórica da Palestina, enquanto a Organização
para a Libertação da Palestina é laica, e portanto luta por um Estado
palestino democrático e similar ao estilo ocidental.
Outro ponto de divergência na década de 90 foi o reconhecimento do
Estado de Israel como tal. Após anos de luta, a OLP optou por negociar, e
dessa forma se alcançou os Acordos de Oslo, que deram origem à
Autoridade Nacional Palestina (ANP), governo do proto-Estado que nunca
se constituiu devido às violações por parte de Israel.
O Hamas, por sua vez, nasceu e postula, em sua carta orgânica, a
destruição do Estado de Israel. Por isso, rejeitou, no começo, os
Acordos de Oslo e a ANP. Esta postura inicial, entretanto, se converteu
com o tempo em posições mais realistas. 8. Qual é a política atual do Hamas?
No início, o Hamas adotou um linha de ação radical, que incluía a
realização de atentados suicidas entre 1994 e 2004 (desde então não
voltou a realizá-los, embora a propaganda israelense os cite
sistematicamente). A radicalização, somada à posição mais diplomática da
OLP, permitiu ao grupo crescer e se consolidar como uma alternativa
diferente ao povo palestino.
No entanto, sua política tem variado. Em 2001, Ahmed Yassin, dirigente
máximo da organização, assassinado em 2004 por Israel, afirmou: “Não
lutamos contra povos de outras religiões ou judeus pelo fato de serem
judeus. Lutamos contra os que ocuparam nossas terras, tomaram nossas
propriedades, transformaram em refugiados nossas famílias e massacraram
nossos filhos e mulheres".
Em 2006, o Hamas concorreu pela primeira vez às eleições legislativas
para a ANP. Em um dos pleitos mais democráticos da região, saiu
vencedor. Mas Israel e Estados Unidos tentaram dividir e deslegitimar o
triunfo do grupo islâmico. Com certo consentimento do Fatah (a
organização preponderante a OLP), o governo palestino se fragmentou em
dois: Hamas em Gaza e OLP na Cisjordânia.
Esta divisão favoreceu e favorece a política israelense de negar a
criação de um Estado palestino autônomo e soberano. Porém, no início
deste ano, Hamas e OLP haviam firmado acordo para reunificar o governo
palestino mediante uma administração de transição, até que se
realizassem novas eleições. A decisão palestina provocou a ira do
governo de Israel, que poucos meses depois, principiou a ofensiva que
perdura até agora. (*) Artigo originalmente publicado no portal Notas; tradução por Anna Beatriz Anjos, da Revista Fórum http://operamundi.uol.com.br/conteudo/opiniao/37395/oito+pontos+para+entender+a+historia+do+hamas+e+do+isla+politico.shtml
Mulher reage após a morte de parentes em Gaza: ofensiva israelense já deixou mais de 400 palestinos mortos
O conflito em Gaza teve o dia
mais sangrento neste domingo, com pelo menos 87 palestinos mortos em
ataques israelenses, a grande maioria na mesma área.
O presidente da Autoridade Palestina, Mahmoud
Abbas, disse que as mortes no distrito de Shejaiya, no leste de Gaza,
são um "massacre". Testemunhas relataram que corpos estavam espalhados
pelas ruas.
Mais de 425 palestinos morreram
desde o início da operação israelense, há 13 dias, segundo autoridades
médicas. A maioria são civis, de acordo com a Organização das Nações
Unidas (ONU). São mais de 3 mil feridos.
O Exército israelense disse que 13 soldados
foram mortos em uma emboscada na madrugada, elevando para 18 o número de
oficiais mortos na ofensiva. Os militares eram da Brigada Golã, segundo
o Exército.
Uma trégua humanitária havia sido acertada, mas
durou menos de uma hora. Uma equipe da BBC na região relatou troca de
tiros menos de uma hora após o início do cessar-fogo temporário. Ambos
os lados trocaram acusações pela quebra da trégua.
Apesar da ofensiva israelense, militantes continuam a lançar foguetes contra Israel, e um deles atingiu a cidade de Ashkelon.
'Famílias devastadas'
A correspondente da BBC Yolande Knell, em Gaza,
disse ter visto cenas de pânico com milhares de moradores deixando a
área de Shejaiya, foco dos ataques de Israel.
Paramédicos disseram que equipes de resgate ainda não conseguiram chegar à região leste do distrito.
O primeiro-ministro de Israel, Benjamin
Netanyahu, disse em entrevista à BBC Árabe que Shejaiya é um "reduto do
terror" e base de lançamento de foguetes contra Israel.
No hospital Shifa, o principal de Gaza, havia um congestionamento de ambulâncias na entrada.
"O hospital está completamente lotado. Para
muitos de nós, estas são as piores cenas que já tivemos, não só pela
quantidade de pacientes e o colapso da nossa capacidade, mas também pela
dor e agonia", disse o médico norueguês Mads Gilbert, que tem atuado na
emergência desde a noite passada.
"Havia crianças com dores enormes. Famílias
totalmente devastadas estavam trazendo crianças mortas e se jogando ao
chão, gritando".
Fumaça é vista no distrito de Shejaiya, em Gaza, alvo de intenso bombardeio, segundo residentes
ONU diz que o estoque de suprimentos para ajudar palestinos em Gaza está chegando ao fim
O Exército israelense disse em comunicado que "forças adicionais" se juntaram ao "esforço de combater o terror" em Gaza.
O coronel Peter Lerner, porta-voz do Exército
israelense, disse que a ofensiva terrestre estava sendo ampliada para
"restabelecer a segurança e a estabilidade dos moradores e cidadãos de
Israel".
A ONU alertou para o fim do estoque de
suprimentos para ajudar mais de 50 mil palestinos que se abrigam em
escolas da entidade em Gaza.
Uma autoridade da ONU disse que o número de
pessoas deixando suas casas é maior do que o esperado, com as fronteiras
de Gaza com Israel e Egito fechada para palestinos.
O secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, deverá
se reunir com Abbas no Catar como parte de esforços na região para que
israelenses e palestinos "encerrem a violência e encontrem um caminho",
disse a entidade.
Soldados israelenses invadiram Gaza na
quinta-feira após 10 dias de uma grande ofensiva aérea e naval que não
conseguiu interromper o disparo de foguetes contra Israel por militantes
palestinos que atuam no território.
Israel diz que a operação terrestre é necessária para atingir a rede de túneis do Hamas.
Esforços diplomáticos para um cessar-fogo não
chegaram a um acordo. O Hamas rejeitou um cessar-fogo mediado pelo Egito
na semana passada, alegando que qualquer acordo com Israel deve
envolver um fim ao bloqueio à Gaza
Domingo foi o dia mais sangrento em Gaza desde início da operação no início de julho
O Conselho de Segurança da ONU
pediu um cessar-fogo imediato na Faixa de Gaza, após uma reunião de
emergência realizada a portas fechadas no domingo.
A reunião foi convocada a pedido da Jordânia, que teria proposto um duro rascunho de resolução para consideração.
Entretanto, membros do Conselho
concordaram apenas em "elementos para a imprensa", o que segundo o
correspodente da BBC na ONU, Nick Bryant, é a forma mais fraca de ação
do Conselho de Segurança.
O embaixador da Ruanda na ONU, Eugene Gasana,
disse a jornalistas que membros do Conselho expressaram grande
preocupação com a escalada da violência, a morte de civis, e "pediram
mais respeito às leis humanitárias internacionais".
No total, 501 pessoas morreram em Gaza desde que
Israel lançou a operação Margem Protetora contra militantes palestinos
no dia 8 de julho, informaram fontes do Ministério da Saúde em Gaza.
Elas informaram também que 3.135 pessoas ficaram feridas.
Nesta segunda-feira, 20 palestinos morreram em consequência dos últimos bombardeios, a maioria no sul do território.
'Dia mais sangrento'
Domingo foi o dia mais sangrento da operação, com mais de cem palestinos mortos. Do lado israelense, 18 soldados morreram.
O foco da ação israelense foi o distrito de Shejaiya, onde 60 pessoas perderam a vida.
O primeiro-ministro de Israel, Benjamin
Netanyahu, disse em entrevista à BBC Árabe que Shejaiya é "um reduto do
terror" e serve de base de lançamento de foguetes contra Israel.
Já o presidente palestino, Mahmoud Abbas, chamou a ação em Shejaiya de "massacre".
Na noite de domingo, o Hamas afirmou ter
capturado um membro das Forças de Defesa Iraelenses, desencadeando
comemorações em Gaza e na Cisjordânia.
No entanto, Israel negou que um de seus soldados esteja sob poder dos palestinos.
"Não há nenhum soldado sequestrado e esses rumores não são verdadeiros", disse Ron Prosor, embaixador de Israel na ONU.
Esforço diplomático
Na frente diplomática, o secretário de Estado
americano, John Kerry, está a caminho do Egito, onde deve se reunir com
autoridades no Cairo para discutir a crise em Gaza.
Segundo a ONU, 83.695 pessoas já deixaram suas casas no território em busca de locais seguros contra os bombardeios.
Soldados israelenses invadiram Gaza na
quinta-feira após dez dias de uma grande ofensiva aérea e naval que não
conseguiu interromper o disparo de foguetes contra Israel por militantes
palestinos que atuam no território.
Israel diz que a operação terrestre é necessária para atingir a rede de túneis do Hamas.
Esforços diplomáticos para um cessar-fogo não
chegaram a um acordo. O Hamas rejeitou um cessar-fogo mediado pelo Egito
na semana passada, alegando que qualquer acordo com Israel deve
envolver um fim ao bloqueio à Gaza. http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2014/07/140721_gaza_onu_cessarfogo_fl.shtml
Novamente se ouvem sirenes nas cidades de Israel.
Novamente civis descem para abrigos antiaéreos. A Cúpula de Ferro
interceptaos foguetes disparados a partir dos territórios autônomos
palestinianos. Trezentos mísseis israelenses atingiram trezentos alvos
militares na Faixa de Gaza. Quarenta mil reservistas israelenses estão
sendo mobilizados na preparação para uma nova operação militar.
O escritor e ativista social francês Marek Halter analisa, em entrevista à Voz da Rússia, a situação no Oriente Médio:
“O
que está acontecendo hoje no Oriente Médio adquiriu uma escala
diferente do que antes. Você diz que já foi assim. Não. Foi, mas não
assim.
Quando George Bush começou a guerra no Iraque,
ele comprometeu o equilíbrio de forças que se tinha instalado na zona.
Eu acho que ele deveria ser levado a julgamento em Haia por crimes
contra a paz. Ele é um criminoso de guerra. Ele mentiu a todos quando
disse que Saddam Hussein tinha armas nucleares. Ele começou uma guerra
e, como consequência, “abalou” o Oriente Médio. Hoje vemos uma guerra
inter-árabe, o que em árabe é chamado de “fitna”, ou guerra civil entre
xiitas e sunitas.
Além disso, vemos uma deslocação dos
centros de terrorismo do Afeganistão para o Oriente Médio. Depois da
morte de Bin Laden surgiu um novo chefe no Oriente Médio, Abu Bakr
al-Baghdadi. O que ele faz, é calculado e incrivelmente perigoso: ele
propõe a criação de um califado. Foi justamente através de um califado
que originou o Islã, através de um califado baseado não em nações mas em
religião. Assim, sucede que fronteiras já não importam, só a religião é
que importa.
Al-Baghdadi está tentando unir xiitas e
sunitas, parar a guerra entre as duas fações do Islã. E ele se está
aproximando das fronteiras da Jordânia.
Pessoalmente, eu
acho que o que está acontecendo hoje na Faixa de Gaza é uma manobra de
distração para que os norte-americanos não intervenham na Jordânia para
proteger o rei. Esta é uma estratégia extremamente complexa.
Há dois anos atrás, durante o nosso encontro em Damasco, o presidente do politburo
do partido palestiniano do Movimento Islâmico de Resistência Khaled
Meshaal disse-me algo que naquele momento me pareceu incrível: “Diga a
seus amigos, os israelenses, que eles deveriam negociar connosco, o
Hamas. Porque se eles não o fizerem, em breve na Faixa de Gaza poderá
aparecer outra força, mais extremista do que nós. Eles não se permitirão
sequer a ideia da possibilidade de negociações.”
Eu
acho que os foguetes que hoje estão caindo sobre cidades israelenses
foram lançados não pelo Hamas, mas por jihadistas. Eles têm muito
dinheiro. Eles compram armas ao Hezbollah e trazem-nas por mar. O Hamas
não os controla.
Para Israel é conveniente pensar que
está sendo bombardeado pelo Hamas. Assim ele conhece o inimigo de rosto e
sabe onde retaliar. Mas Israel não sabe onde procurar o Hezbollah.
O jornalista Allan Sorenson, correspondente do jornal dinamarquês Kristeligt Dagblad, postou
em seu Twitter na noite de quarta-feira (09/07), segundo dia dos
ataques de Israel contra a Faixa de Gaza, uma foto em que mostra
israelenses assistindo e celebrando o bombardeio noturno à região.
À jornalista Sahar Habib Ghazi, do Global Voice, Sorenson
confirmou a veracidade da imagem. Em seu post, ele afirma que
“israelenses levaram cadeiras para uma colina em Sderot para assistir às
últimas novidades de Gaza” e “bateram palmas quando explosões foram
ouvidas”.
Sderot tem uma população de 24 mil pessoas. A imprensa internacional
tem constantemente reportado a tensão em que vivem estes cidadãos devido
à quantidade de foguetes que são lançados de Gaza.
Mais de 550 foguetes foram lançados por palestinos desde o começo da Operação Margem Protetora ou Penhasco Sólido .
Até o momento, não há o registro de nenhuma morte de cidadão
israelense. Nesta sexta-feira (11/07), o governo de Tel Aviv afirmou que o número de palestinos mortos chegou a 100 e mais de 700 ficaram feridos pelos ataques aéreos de Israel contra Gaza.
O morador de Sderot, Kogan Baruch, afirmou ao site da emissora alemã Deutsche Welle
que é "o governo do Hamas" que está atacando. “No momento, não tenho
sentimento algum pelos que vivem na Faixa de Gaza. Se quiserem fazer
alguma coisa e viver em paz, precisam mudar o próprio governo", disse.
A escalada de violência israelense ocorreu após a morte de três adolescentes israelenses na Cisjordânia no final de junho. Como “vingança”, um jovem palestino foi queimado vivo e assassinado em Jerusalém.
Logo após a descoberta dos corpos dos três jovens, Israel iniciou uma ofensiva contra o Hamas. Aviões de guerra passaram a bombardear Gaza destruindo casas e instituições e foram realizadas execuções extrajudiciais. Até agora, quase 600 palestinos foram sequestrados e presos.
A tensão aumentou na região após anúncio, no começo de junho, do fim da cisão entre o Fatah e o Hamas,
que controlam a Cisjordânia e a Faixa de Gaza, respectivamente. Israel
considera o Hamas um grupo terrorista e por isso suspendeu as conversas
de paz que vinham sendo desenvolvidas com os palestinos com a mediação
do secretário de Estado norte-americano, John Kerry. http://operamundi.uol.com.br/conteudo/noticias/35988/no+cinema+de+sderot+israelenses+assistem+a+ataque+noturno+a+gaza.shtml
Opositores desafiam governo do presidente Bashar Al Assad
Houve um tempo em que todos, ou quase todos os atores no Oriente Médio,
tinham posições claras. Era possível antecipar, com alto grau de êxito,
como este ou aquele ator reagiria a qualquer fato novo. Este tempo
passou. Se examinarmos a guerra civil na Síria, perceberemos rapidamente
não apenas que cada ator estabelece para si mesmo um largo leque de
objetivos, mas também que cada um está envolvido em debates internos
ferozes, sobre que posição deveria adotar.
No próprio interior da Síria, a situação oferece três opções básicas.
Há quem apoie, por diversas razões, a manutenção do regime hoje no
poder. Há os que desejem a chamada “solução salafista, na qual alguma
forma de regime da sharia islâmica se estabelece. E existem os que não
querem nenhum destes desfechos, preferindo uma solução em que o regime
de Assad é derrubado mas não se instala, em seu lugar, um regime
salafista.
Esta é, claro, uma imagem muito simples, mesmo como descrição das
posições dos atores internos. Cada uma desta três posições básicas é
apoiada por diferentes atores (poderíamos chamá-los de sub-atores?), que
debatem consigo mesmos sobre as táticas que seus partidários deveriam
adotar. Claro, o o debate sobre táticas na luta é também um debate sobre
o desfecho preciso desejado por cada sub-ator. No entanto, este
triângulo de atores, cada um com múltiplos sub-atores, cria uma situação
em que há uma constante revisão de alianças locais, que é difícil de
explicar e cujas resultantes são difíceis de prever.
Os dilemas não são menores entre os atores não-sírios. Vejamos os
Estados Unidos, que já foram o gigante da arena, e hoje são vistos
amplamente como um país em grave declínio e, portanto, sem muitas opções
positivas. Até o fato de admitir isso é polêmico, nos Estados Unidos. O
presidente Obama é severamente pressionado por alguns sub-atores, para
fazer “mais”; e, por outros, para fazer “menos”. Este debate está
presente até mesmo em seu círculo de assessores mais íntimos, para não
falar do Congresso e da mídia.
O Irã enfrenta o dilema de como melhorar suas relações com os Estados
Unidos (e também com a Turquia e mesmo a Arábia Saudita) sem reduzir seu
apoio ao regime sírio e o Hezbollah. O debate interno sobre as táticas a
adotar parece tão intenso e em tom elevado quanto nos Estados Unidos.
A Arábia Saudita deseja apoiar os grupos muçulmanos amigos, na Síria,
sem fortalecer os que são ligados à Al Qaeda, e querem a queda do regime
saudita. O governo de Riad teme cometer um erro capaz de fortalecer a
causa dos que desejam que o impasse se espalhe em suas fronteiras. Por
isso, procura pressionar o governo dos EUA para que execute seus
objetivos. Ao mesmo tempo (e tão secretamente quanto possível) conversa
com os iranianos. Não é uma jogada muito fácil…
O regime turco, que agora tem seus próprios problemas internos, foi
primeiro um apoiador do regime sírio; mais tarde, um opositor feroz; e
hoje parece não ser nem uma coisa, nem outra. Procura retornar à antiga
posição de uma Turquia pós-otomana que era um amigo poderoso de todo
mundo.
Os curdos, ao buscarem a máxima autonomia (se possível, Estado
independente de fato) travam negociações difíceis com todos os quatro
Estados em que há populações curdas expressivas – Turquia, Síria, Iraque
e Irã.
Israel não pode decidir de que lado realmente está. É contra o Irã e o
Hezbollah, mas até há dois anos tinha relações muito estáveis com o
regime do partido Baath, na Síria. Se apoiar os oponentes do regime
sírio, arrisca-se a construir um regime pior, de seu ponto de vista. Mas
para enfraquecer o Irã e o Hezbollah, não pode ser indiferente ao papel
que o regime de Damasco joga, ao facilitar relações de proximidade
entre o Irã e o Hezbollah. Por isso, Israel ora é verborrágico, sem
consistência real, ora mantém-se calado.
Debates internos perturbam todos os Estados não-árabes que têm algum
interesse na região: Rússia, China, Paquistão, Afganistão, França,
Grã-Bretanha, Alemanha e Itália, para começar.
É um caos geopolítico, algo que exige, de cada um dos atores, manobras
muito astutas, para não cometer erros desastrosos para seus próprios
interesses. Nesse turbilhão de alianças – das globais às muito locais –
em constante movimento, muitos grupos e sub-grupos consideram útil,
taticamente, ampliar a escalada da violência.
A guerra civil síria é, no momento, o locus, do maior volume de
violência no Oriente Médio e há poucas razões para esperar que ela
cesse. Começou, ao contrário, a se espalhar pelo Líbano e Iraque, em
particular. A maior parte dos atores teme que a difusão da violência,
além de chocante, possa ao final ferir seus interesses, ao invés de
promovê-los. Por isso, muitos atores procuram, de diversas maneiras,
restringi-la. Mas poderão fazê-lo?
Quando o Exército de Libertação Popular marchou sobre Xangai em 1949 e
estabeleceu um governo comunista, teve início nos Estados Unidos um
debate enorme – e fútil. Foi focado no tema “Quem perdeu a China?”. Era
como se a China fosse algo que outros pudessem perder. É provável que,
muito em breve, haja debates em muitos países, sobre “Quem perdeu a
Síria”. Na verdade, todos estes atores têm capacidade muito limitada de
influir sobre os desfechos. O Oriente Médio está ficando fora de
controle e precisaremos de sorte para evitar uma explosão.
E se os Estados Unidos decidirem lançar
uma ação militar contra a Síria, o que pode acontecer? Na tarde deste sábado, o
presidente Barack Obama afirmou que pretende atacar a Síria, aguardando apenas
a aprovação do Congresso. "Vou pedir autorização para o uso da força aos
representantes da população americana no Congresso. Teremos debate e votação
quando o Congresso retornar ao trabalho", disse o presidente americano em
um pronunciamento no Jardim da Casa Branca acompanhado do vice-presidente, Joe
Biden. "Estamos preparados para atacar quando quisermos", disse o
democrata.
O jornal americano USA Today listou cinco
possíveis cenários diante da ação militar, relatando eventuais efeitos
colaterais do ataque.
1) Falha
O ataque falha e não
consegue impedir Bashar al-Assad, a quem o jornal chama de ditador, de
continuar sua "matança de civis" para interromper a rebelião que já
dura mais de dois anos. Uma falha dessas colocaria muita responsabilidade sobre
o presidente Barack Obama e resultaria em pressão sobre os Estados Unidos para
aumentar ainda mais o uso da força, uma vez que a barreira que impede o uso das
armas militares americanas teria sido cruzada.
2) Retaliação da Síria
A Síria lança um ataque
sobre a vizinha Israel para tentar reagir: uma resposta que ameaçaria a parte
do Oriente Médio aliada aos Estados Unidos que se opõe a Assad, mas não quer
apoiar Israel - países como Jordânia, Arábia Saudita, Turquia e os Emirados
Árabes Unidos.
3) Irã vem à tona
O Irã tem ameaçado com
frequência sobre o uso de suas embarcações navais para limitar o acesso ao
Estreito de Ormuz, uma região no Golfo Pérsico próxima à costa iraniana por
onde 20% do petróleo do mundo passa. O movimento forçaria a Marinha americana a
responder com outros possíveis ataques militares. O Irã, uma teocracia xiita muçulmana,
poderia estimular grandes populações xiitas em países árabes aliados para se
revoltar contra seus líderes.
4) Ataque terrorista
Grupos terroristas no
Oriente Médio, como Hamas e Hezbollah, lançam ataques contra alvos americanos
na região, bem como a aliados dos Estados Unidos. Esses alvos poderiam incluir
bases como o porto da V Frota da Marinha americana no Bahrein.
5) Rússia vence
A Rússia, que sob o
comando de Vladimir Putin aumentou a repressão interna enquanto tenta fazer
crescer sua influência internacional, se tornaria uma peça importante no
Oriente Médio ao ajudar a Síria a resistir ao ataque americano. Isso
fortaleceria o eixo antiamericano de Irã e Síria e levar a uma maior
desestabilização da região com importantes valores econômicos e estratégicos
para as nações ocidentais.