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sábado, 7 de outubro de 2023

Ataque surpresa do Hamas em Israel

poder 360
Invasão por terra, mar e terra. Combates de ruas entre tropas da IDF e Hamas.  Dezenas de militares e civis sequestrados e levados para a Faixa de Gaza.  Temor de uma segunda frente ao norte, com o Hezbolah.  75 mil reservistas convocados.  Infiltração massiva e perda de controle soberano inédito em Israel.
Condenação internacional, "congelado" acordo de paz entre Arábia Saudita e Israel.
Mais de 2000 foguetes lançados contra Israel.  Retaliações já deixam quase dois mil mortos e feridos em Gaza.
EUA teriam autorizado Israel a usar os estoques de armas norte-americanas pré estocadas no país. 
"Estamos em Guerra" disse Netthanyahu.
Em Israel as cifras de baixas subiram de 40 para 100 mortos.
Relatos de combates de rua em várias localidades inclusive em Jerusalém. 
Drones, parapentes,  botes, paragliders, SUVs e carros de passeio teriam sido usados para a Infiltração inicial.  Drones com granadas sendo usados para atingir soldados, tanques, veículos militares etc.  
Civis baleados a esmo após a Infiltração inicial e os atacantes que rapidamente se espalharam pela maior área possível para produzir o máximo de dano e confusão. 
Imagens de um tanque danificado e um soldado é arrastado para fora.
Relatos de pessoas cercadas em "quartos de pânico" enquanto combates ocorrem no lado de fora.
13 33h cerca de 298 mortos em território israelense.
50 anos do início da guerra de 1973, do Yom Kipur.
Os ataques lembram a ofensiva do Tet, de 1968 - ataques urbanos do vietcong contra as tropas do Vietnã do Sul e norte-americanos para estabelecer a situação de que seus inimigos não estavam vencendo.
Postos militares tomados e alambrados derrubados com escavadeiras abrindo brechas de infiltração. 
Crescem relatos de mulheres desaparecidas nas redes sociais. 

domingo, 4 de dezembro de 2016

Carta Capital - As lições não aprendidas da Guerra ao Terror

por Antonio Luiz M. C. Costa publicado 23/09/2016 09h24, última modificação 24/09/2016 09h02
Quinze anos depois, o combate ao terrorismo continua a ser um cão em busca do próprio rabo

Líbia
http://www.cartacapital.com.br/revista/919/guerra-ao-terror-licoes-nao-aprendidas/libia/@@images/1dd7c887-fc26-463e-aad0-d6b7a15a7af1.jpeg

Passaram-se 15 anos do ataque às desaparecidas torres gêmeas e ao Pentágono. Encerrou-se no Ocidente o ciclo de otimismo aberto pelo fim da Guerra Fria e pela falta de resistência eficaz e de alternativas aparentes à globalização neoliberal imposta pelo consenso e hegemonia de Washington.
Os Estados Unidos e o mundo capitalista foram bruscamente despertados dos devaneios hoje quase esquecidos do “fim da história” de Francis Fukuyama, do “mundo plano” de Thomas Friedman e da “nova economia” dos analistas de Wall Street.
O poder e a mídia desistiram de ninar o público com o conto de fadas no qual a humanidade se casa com o livre-comércio e vive feliz para sempre. Em seu lugar, passaram a contar uma interminável história de terror na qual bichos-papões de burca e turbante se escondem atrás de cada árvore e cada esquina para devorar crianças malcriadas que desobedecem aos superiores e falam com estranhos. Uma estética mais sombria, mas nem por isso mais real ou madura.
A nova narrativa é uma teia igualmente inconsistente de crenças e diretrizes construídas sobre suposições e fatos escolhidos a dedo e apresentados sem contexto e proporção. E sua função é igualmente controlar as massas e desviar sua atenção.
Que os fundamentalistas existem e seus atentados causaram sofrimento a muitos é um fato, mas sua proporção tem sido sistematicamente exagerada. Principalmente nos EUA, onde essa vaga ameaça serve de espantalho contra a imigração e de pretexto à construção de um aparato de espionagem, intimidação e controle, mas na realidade é muito pequena.
Nos últimos dez anos, morreram em média nove pessoas por ano por atentados jihadistas, sete das quais em ataques perpetrados por cidadãos dos próprios EUA. Um número muito menor do que o das mortes causadas anualmente por crianças de até 3 anos que pegam armas deixadas ao seu alcance (21), relâmpagos (31), cortadores de grama (69) ou quedas da cama (737), para não falar de crimes comuns cometidos por estadunidenses (11.737).
9/11
O ciclo do 11 de setembro continua a ser alimentado (Foto: Patrick Sison/AP)
Enquanto restringem liberdades, impõem Estados de exceção e revisam suas constituições em nome dessa ameaça superdimensionada, Washington e outras capitais ocidentais mantêm ótimas relações com Estados e famílias sabidamente patrocinadoras de organizações jihadistas e insistem em tentar manipulá-las quando lhes parece conveniente a seus fins, para depois culpar Maomé e o Alcorão pelas consequências. Os sequestradores dos aviões fizeram contato e receberam assistência de agentes sauditas nos Estados Unidos. Membros da Casa de Saud transferiram recursos públicos a Osama bin Laden e aos financiadores dos atentados.
Não está provada a participação institucional e direta da monarquia saudita, mas o envolvimento de setores do governo e da família real é evidente. Na sexta-feira 9, a Câmara dos EUA aprovou  por rara unanimidade uma lei para permitir às vítimas do 11 de Setembro processarem a Arábia Saudita por seus vínculos com o terrorismo.
O presidente Barack Obama pretende vetar a lei, mesmo que o veto possa ser derrubado por dois terços do Congresso. Os sauditas ameaçam com a liquidação em massa de títulos dos EUA e com “caos e instabilidade nas relações internacionais”.
Tanto quanto perder a amizade dos sauditas, a Casa Branca receia que a lei abra um precedente para que outros países, por sua vez, abram processos contra os Estados Unidos por sua participação em intervenções duvidosas pelo mundo. Pois a “Guerra ao Terror” é cada vez mais um cão que corre atrás do próprio rabo.
Sequer a lição mais óbvia do 11 de Setembro foi aprendida. Os líderes do mundo continuam a cometer os mesmos erros de Ronald Reagan e Bush pai ao apoiar os mujaheddin do Afeganistão contra seu governo socialista dos anos 1980.
Ainda menos serviram de aprendizado os erros cometidos por Bush filho ao usar o ataque da Al-Qaeda e imaginárias armas químicas e projetos nucleares como pretexto para invadir o Iraque. Mesmo sem desafiar os aliados europeus e comprometer tropas e recursos dos EUA na mesma escala, o governo de Obama os repetiu na essência e contribuiu para espalhar ainda mais o caos no Oriente Médio.
Hillary
Hillary, como Obama, quer boas relações com cúmplices do jihadismo (Foto: Saul Loeb/AFP)


Apesar da propaganda de Donald Trump, o Estado Islâmico não foi criado por Barack Obama, mas de fato ele e a ex-secretária de Estado Hillary Clinton quiseram manejá-lo como instrumento do jogo geopolítico contra o ex-premier iraquiano Nouri al-Maliki, o regime de Bashar al-Assad, o Irã e a Rússia. Assim como tentaram usar fundamentalistas da Síria, Iêmen e Líbia. Sempre estiveram conscientes de que derrubar Muammar Kaddafi proporcionaria poder e armas aos jihadistas da África. Tanto quanto George W. Bush e Tony Blair exageraram a suposta ameaça representada por Saddam Hussein, eles e David Cameron foram cúmplices em mentiras sobre o ditador líbio. No Reino Unido, o Comitê de Relações Exteriores do Parlamento publicou na quarta-feira 14 um relatório devastador.
O governo de Cameron “não demonstrou que o regime de Kaddafi representasse uma ameaça real aos civis, fez uma leitura literal e seletiva dos seus elementos retóricos e fracassou na identificação das facções islâmicas radicais dentro da rebelião”, concluíram os legisladores.
Com um cálculo tão frio quanto o dos neoconservadores de Bush, os democratas avaliaram que os fundamentalistas poderiam ser neutralizados ou cooptados no momento conveniente e julgaram que a recompensa valia os riscos. Há pouco tempo, Donald Trump foi com razão vituperado por dizer em campanha que o “erro” dos EUA no Iraque foi não ter se apossado do petróleo para pagar os custos da invasão e por suas declarações em 2011, quando se discutia a ação na Líbia: “A menos que tomemos o petróleo, a Líbia não me interessa”.
Entretanto, um dos  e-mails do instituto democrata Center for American Progress vazados ao site The Intercept é da presidenta Neera Tanden, cotada para chefe de gabinete de Hillary. “A Líbia deveria nos compensar? Temos um déficit gigante. Eles têm um monte de petróleo. A maioria dos estadunidenses prefere não se envolver com o mundo por causa desse déficit. Se quisermos continuar a intervir no mundo, gestos como fazer países ricos em petróleo nos reembolsarem parcialmente não me parece loucura. Preferimos cortar o Head Start (educação), WIC (assistência social) ou Medicaid (saúde)? Pois vivemos a política do déficit, isso acontece e vai acontecer cada vez mais.”
Tanden
A assessora de Hillary, Tanden, sugere que países como a Líbia paguem pelo privilégio de ser bombardeados (Foto: Neilson Barnard/AFP)
Aqui, a diferença entre republicanos e democratas se reduz àquela que existe entre o cinismo e a hipocrisia: os primeiros sentem menos necessidade de disfarçar a ganância com pretextos humanitários e programas sociais.
O mesmo modus operandi se tentou aplicar à Síria, neste caso com menos sucesso por causa da oposição do Irã, do Hezbollah e da Rússia. A Casa Branca e seus aliados também sabiam que a maior parte do apoio militar e financeiro aos rebeldes sírios – talvez a metade do oferecido pelas potências ocidentais e praticamente todo o proveniente das monarquias árabes e da Turquia – acabaria nas mãos dos extremistas.

Isso inclui notoriamente a Al-Nusra, ramo sírio da Al-Qaeda de Osama bin Laden, cuja execução foi tão festejada por Obama e sua então secretária de Estado em 2011. Recentemente, adotou o novo nome de Jabhat Fatah Al-Sham e alegou ter-se separado da matriz.
Não mudou de métodos ou de ideologia. A expectativa é parecer mais palatável e facilitar o trabalho de assessores, consultores e colunistas prontos a defender o apoio a quaisquer grupos dispostos a criar problemas para os rivais estratégicos do momento.
Isso inclui o Estado Islâmico. Efraim Inbar, assessor do governo de Benjamin Netanyahu, conselheiro da Otan e diretor do centro Begin-Sadat de Estudos Estratégicos (Besa) da Universidade Bar-Ilan de Tel-Aviv, um artigo intitulado “A Destruição do Estado Islâmico É um Erro Estratégico”.
O argumento é que o “califado” atrai terroristas em potencial e os mantém ocupados na Síria, além de consumir tropas e recursos do Hezbollah, do Irã e da Rússia. Seu colapso aumentaria a influência e o prestígio desses inimigos e liberaria suas forças, assim como a dos jihadistas sobreviventes, para atacar Israel e o Ocidente. “A estabilidade só é desejável quando serve a nossos interesses”, admitiu o estrategista.

Petróleo
Trumpo proclama aos brados que os EUA deveriam saquear o petróleo da Líbia e do Iraque (Foto: Haidar Mohammed Ali/AFP)
Por essa miopia, pagam são só os civis sírios assediados na própria terra ou em fuga para a Europa, mas o mundo inteiro. O governo turco julgou poder tirar proveito da crise na Síria e aumentar sua influência com o apoio aos fundamentalistas e acabou por trazer a guerra para dentro de suas fronteiras.
Os governos britânico e francês, ao tentar aumentar sua popularidade e sua fatia no mercado bélico e petrolífero, criaram a onda de refugiados que gerou o Brexit e ameaça desintegrar a União Europeia e a cooperação internacional.
Os Estados Unidos estão distantes demais para receber mais do que respingos ocasionais dessa violência e podem dar-se ao luxo de mais apostas irresponsáveis para satisfazer lobbies e iludir eleitores.
Mas pagam um preço visível em termos de gastos militares e dívidas que restringem suas opções de política econômica e outro invisível na forma de crescentes ressentimentos contra suas ações, apoio popular e prestígio para quaisquer forças dispostas a enfrentá-los, de potências como a China e a Rússia a fanáticos como Al-Baghdadi e Ayman al-Zawahiri.
http://www.cartacapital.com.br/revista/919/guerra-ao-terror-licoes-nao-aprendidas


domingo, 15 de novembro de 2015

Após guerra, situação palestina passou de desastrosa para 'completamente desumana', diz representante da ONU

Chris Gunness viu um amigo e o filho morrer no bombardeio feito por Israel contra uma escola da ONU durante a chamada Operação Margem Protetora, realizada em 2014. Ao falar sobre o assunto com a emissora Al Jazeera, ele, que é porta-voz da UNRWA (Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados da Palestina), irrompeu em lágrimas, em vídeo que viralizou na internet. O britânico trabalha há oito anos no organismo da ONU para refugiados palestinos e, em entrevista, disse ter testemunhado a situação dos palestinos em Gaza passar de “desastrosa para francamente, completamente desumana”.
A UNRWA foi estabelecida em 1950 para realizar programas de trabalho e auxílio aos refugiados do conflito árabe-israelense de 1948. Única em seu compromisso de longa data com um grupo específico de refugiados, a UNRWA deu apoio a quatro gerações de refugiados palestinos desde sua origem. A organização atualmente provê assistência e proteção a 5 milhões de refugiados palestinos registrados, espalhados por Gaza, Cisjordânia, Síria, Líbano e Jordânia.


Wikicommons

Míssil disparado pelo sistema de defesa anti-aéreo Cúpula de Ferro durante a Operação Margem Protetora, de 2014
Gunness trabalhou para a BBC por 25 anos até que a perda de seu companheiro o levou a buscar por uma mudança. Integrou-se, então, ao escritório da UNSCO (Coordenação Especial da ONU para o Processo de Paz no Oriente Médio) e, a partir daí, abriu caminho para seu cargo na UNRWA.  Ele disse estar plenamente consciente de que a nova tarefa envolvia um conflito de décadas, mas declarou que “não fazia nenhuma ideia da mais pura desumanidade na qual as pessoas podem afundar”.
Lágrimas virais
Durante a guerra de Gaza em 2014, Gunness irrompeu em lágrimas depois de uma entrevista à Al Jazeera. Israel havia acabado de bombardear uma escola da ONU, matando 15 pessoas, incluindo um colega dele e seu filho. Sem que Gunness soubesse, enquanto ele “desmoronava descontroladamente”, a câmera ainda estava filmando. O vídeo foi transmitido na TV e, dentro de horas, se tornou viral. Gunness passou a ser a notícia.
Veja o momento em que ele começa a chorar:

“Pensei que poderia perder meu emprego”, disse Gunness. Mas, em vez disso, afirmou, a reação dos colegas da ONU foi “de uma esmagadora simpatia”. Ele disse ter recebido “e-mails de pessoas do gabinete do Secretário-Geral dizendo que aquela tinha sido a coisa mais eloquente que tinham ouvido sobre o conflito fazia um bom tempo”.
Um alto funcionário da UNRWA, disse ele, escreveu: “Não há nada pior do que uma escorregada humanitária... siga em frente”.
Por que ele acha que suas lágrimas tiveram tanta ressonância? “Acho que demonstraram para muitas pessoas no mundo que existe senso verdadeiro de ultraje e indignação”, disse ele. “Se autoridades da ONU, e não só porta-vozes da ONU, perdem contato com a dignidade humana que se insere no âmago do trabalho que fazemos, então, estão gravemente pobres.”
Wikicommons

Milhares de casas foram destruídas durante guerra em 2014

Embora alguns o tenham criticado por causa do choro, ele permanece sem remorsos: “Se minhas lágrimas atraíram a atenção mundial para as lágrimas que estavam sendo derramadas em Gaza, então não tenho que pedir desculpas de modo algum”.
'Completamente desumano'
Nos últimos oito anos de trabalho para a UNRWA, Gunness disse ter testemunhado a situação dos palestinos em Gaza passar de “desastrosa para francamente, completamente desumana”.
"Veja o bloqueio de Gaza," disse ele. "No ano 2000, havia 80 mil pessoas dependendo da UNRWA para se alimentarem. Hoje, há 860 mil. Por uma questão de opção política, a comunidade internacional decidiu condenar aproximadamente 1 milhão de pessoas… à indignidade da dependência de ajuda”.
Ele é um crítico dos governos ocidentais – principais doadores da UNRWA – por não fazerem o suficiente para pôr fim ao conflito.
“Nós nunca vemos de fato ação política suficientemente robusta para fazer a diferença”, disse ele. A UNRWA “lida com o impacto do fracasso político, e é por esse motivo que nós sempre estamos defendendo que seja adotada ação política”. É a “falta de progresso político, a falta de ação política o que eu acho tão chocante, e permanece sendo algo que precisa acontecer se tiver de haver justiça para os palestinos”.
Por que Gaza não foi reconstruída?
Atualmente, diz ele, a UNRWA está atravessando a maior crise financeira de sua história, que limita gravemente o que se é capaz de fazer, incluindo a reconstrução de Gaza, estimada em quase “meio bilhão de dólares”. Durante a guerra de Gaza, 140 mil propriedades de refugiados foram “total ou parcialmente destruídas, ou impactadas pela guerra”. Passado um ano, somente uma casa foi reconstruída. “Essa “desgraça” leva a uma “sensação de real desespero em Gaza”.
Mas a reconstrução apenas não vai mudar a situação para quem está em Gaza, diz ele.

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"Mesmo que Gaza fosse reconstruída amanhã de manhã e todo mundo vivesse em lindas casas, ainda seria preciso levantar o bloqueio. Gaza tem uma economia exportadora, “tem de receber de volta sua economia porque, sem ela, haverá continuamente instabilidade e conflito”, disse ele.
O peso financeiro sobre a UNRWA não podia ter vindo num pior momento: “É tão triste e irônico que a UNRWA tenha tido a pior crise financeira em sua história em um momento em que se tem extremismo sem precedentes na região e fluxos de refugiados sem precedentes para a Europa”. Ele considera que uma “UNRWA com plenos recursos” seria uma grave “ameaça ao extremismo, e um elemento entre muitas respostas internacionais distintas que deveríamos estar vendo”.
A atual intifada palestina
Desde outubro, a violência israelo-palestina deixou 65 palestinos e nove israelenses mortos. “Temos uma situação na qual do lado palestino há um senso de frustração e desespero”, disse ele.
Wikicommons

Ruínas em 
Beit Hanoun, no norte da Faixa de Gaza
Gunness citou “a violência dos colonos, que acontece amplamente com impunidade”, “não ter acesso à mesquita de Al-aqsa” e o “uso desproporcional da força” pelo Exército israelense como fatores “que levam os palestinos, especialmente uma nova geração de palestinos mais jovens, a sentir que não há futuro político”.
O porta-voz enfatizou que nem ele nem a ONU desculpam os ataques de palestinos com faca, “mas por outro lado, todos eles têm um contexto, e esse contexto é o aprofundamento da ocupação e a brutalidade que vem com ela”. A realidade tem “uma nova geração de palestinos mais jovens” que sentem que não há futuro político”.
Permanecendo neutro
Quando questionado sobre ficar neutro no que muitos consideram um conflito desequilibrado, Gunness disse concordar que “é um conflito muito desequilibrado, em que você tem um lado jogando pedras e o outro lado com frequência usando armas”, mas “só podemos fazer esse trabalho se permanecermos neutros” e a “neutralidade da UNRWA é a prata da família”.
Agência Efe

Palestino lança pedras contra tropas israelenses durante protesto realizado na última sexta-feira (16/11)

Ele fundamenta sua causa “dentro do escopo do humanitário” e “na lei internacional, sem desviar para o político”.
Guerra civil síria
A guerra civil síria impôs mais pressão à UNRWA: “Nosso apelo para a Síria foi 52% financiado. Nós nos reduzimos a dar aos refugiados o equivalente a 60 centavos de dólares diários por pessoa, no contexto da Síria”. Refugiados palestinos na Síria são “duplamente vulneráveis porque agora estão no Líbano, refugiados pela segunda vez”.
De 12 acampamentos de refugiados na Síria, sete “foram arrastados para a guerra e ficaram gravemente danificados, por isso as opções de fuga dos palestinos são severamente limitadas”.
Flickr/CC/Michael-Ann Cerniglia

Campo de refugiados palestinos nos arredores de Damasco, Síria, em 2009

O fluxo de refugiados sírios também impõe mais pressão sobre os refugiados no Líbano, disse ele: “No Líbano, os palestinos que vieram da Síria estavam conseguindo uma provisão de US$ 100 mensais como subsídio para aluguel. Isso acabou”, isso significa que milhares de famílias agora estão sem teto. Gunness pediu que o “Conselho de Segurança adote ação política significativa para iniciar o longo processo de parar com a guerra civil síria”: “guerras civis já foram interrompidas antes”, disse ele. “Isso não está além da inteligência do homem”.
Esperança
Gunness disse que a “UNRWA não quer nada mais do que fazer as malas e ir embora, mas isso acontecerá quando houver uma solução duradoura e justa para os refugiados palestinos, baseada na lei internacional, nas resoluções da ONU e, a propósito, em consultas aos refugiados.
Apesar do processo de paz ser quase inexistente, Gunness está otimista e acredita que a paz possa enfim se tornar realidade – embora diga que isso pode não acontecer enquanto está vivo.
“Os palestinos vão encontrar justiça e paz”, disse ele. “Assim que os palestinos puderem encontrar justiça e paz e segurança… outras pessoas na região também poderão ter justiça, paz e segurança.”
Até lá, Gunness não está indo para parte alguma.
“Existe muito trabalho bom para ser feito”, disse ele. “Assim que o trabalho com os refugiados palestinos se impregna na sua pele, não há caminho de volta… se você trabalha com comunidades que estão em tal desvantagem, você simplesmente fica lá. Você não tem escolha, a não ser seguir em frente”.
A entrevista completa pode ser escutada abaixo (em inglês):

Texto publicado originalmente pelo site Midle East Eye
*Tradução: Maria Teresa de Souza
http://operamundi.uol.com.br/conteudo/samuel/42262/apos+guerra+situacao+palestina+passou+de+desastrosa+para+completamente+desumana+diz+representante+da+onu.shtml 

sexta-feira, 31 de julho de 2015

O Alinhamento Russo-Sino-Paquistanês e a Aliança Militar Euroasiática (OCX) - via Dinâmica Global

Resultado de imagem para Organização de Shangai

Da amizade Rússia-Paquistão pode surgir um Mega Bloco Militar de Potências Nucleares na Ásia.

Em julho de 1949, Liaquat Ali Khan como presidente do Paquistão enfrentou um imbróglio complexo. Índia e Paquistão estavam em seu início. Em um mundo composto por dois blocos políticos opostos, os dois países tiveram de escolher um dos lados rapidamente. Eles tinham a opção de aderir a América com sua suntuosa uma linha democrática de “uma galinha na panela e dois carros na garagem”, ou voltar para a URSS. O Presidente dos EUA, Harry S. Truman, desconfiado de um efeito dominó comunista subindo, fez uma abertura para Nehru da Índia em 1948 para visitar a América, o mundo dos sonhos. Este movimento estimulou a Rússia a enviar um convite contador para o Paquistão e seu premier Liaquat Ali Khan. Este convite, por sua vez, levou a um convite dos EUA para o primeiro-ministro paquistanês. Liaquat Ali Khan tinha algumas opções bastante flexíveis em sua mesa. Foi então que ele decidiu que seria a América que ele iria visitar, e seria América que iria ajudar o Paquistão fora das questões com as quais ele se deparou no seu início. Isso é algo que surpreendentemente nunca aconteceu.
Nesse ínterim, Paquistão e Rússia desfrutavam de uma relação às avessas. Por volta de 1960, Ayub Khan tinha percebido que foi a Rússia e não a América que tinha a intenção de servir como uma cura para todos os problemas do Paquistão. A confiança na ajuda da América tinha se deteriorado ainda mais em ambos as guerras de 1965 e 1971. A Índia tinha sido devidamente apoiada pela Rússia – tanto na guerra como nas mesas de negociação em Tashkent. Os EUA, no entanto, tinham mostrado ao Paquistão um ombro frio. Isso foi algo que irritou Ayub Khan e que o motivou a escrever seu livro “Amigos, não senhores.” O Fracasso Dhaka e a guerra de Bangladesh em 1971 tinham mostrado que a Rússia tinha sido de fato uma aliada da Índia. Os EUA foram também aliados, mas com muitas restrições.
O Paquistão tinha vindo a entender por inúmeras razões que a Rússia manteve a sua palavra. A construção com ajuda da Rússia do Pipri Steel Mill foi um exemplo instrutivo. Mas o interesse da Rússia no Paquistão sofreu um duro golpe quando o Paquistão desempenhou um papel fundamental em forçar a Rússia a partir do Afeganistão. O desastre afegão também desempenhou um papel importante na queda da União Soviética. A queda significou que a Rússia não estava em posição de contestar, mesmo que de longe, a vantagem que os EUA tinham ganhado na região.
O avanço rápido para 2015. Após quase 20 anos de progresso sob Vladimir Putin e Dmitry Medvedev, a Rússia está novamente na vanguarda das nações. Há mais de duas décadas, o Paquistão também se tornou uma nação com capacidade nuclear – uma conquista que já havia escapado dele. A Rússia também se tornou tão agressiva quanto sempre foi. Sob Putin, ela encontrou um messias que garantisse que a enorme nação não se desintegrasse como a União Soviética. Sendo assim, o Paquistão tem a certeza de que a Rússia é de fato uma força a contar.
Em termos bilaterais, a evolução em ambas as nações há mais de duas décadas atualmente sinaliza que a Rússia precisa do Paquistão e o Paquistão precisa da Rússia. Em sua busca para encontrar um messias nos Estados Unidos, o Paquistão teve o acaso de descobrir a Rússia. A Ásia no século 21 é muito diferente do que era no passado. As diferenças ideológicas e uma mudança no locus do poder deixou a região aberta à exploração e cansaço. A Ásia precisa desesperadamente de um bloco de superpotências que garantam que os seus assuntos corram sem problemas.
Este é o lugar onde a idéia de bloco geopolítico entre o Paquistão, a China e a Rússia ganha tração. Paquistão e Índia têm sido sempre arqui-inimigos. Os dois países consideram-se inimigos um do outro. É por isso que o Paquistão precisa da Rússia. O Paquistão, por causa de sua inimizade distinta e eterna com a Índia, não pode se dar ao luxo de ser parte de um bloco regional que tem a Índia sentada no topo da hierarquia.
O Paquistão, a partir deste ponto de vista, é melhor aderir a um bloco composto por China e Rússia – as nações que têm o poder para compensar a Índia. Se o Paquistão quer a voz para ser ouvido, se o Paquistão considera que pode ter um impacto sobre os eventos futuros na Ásia, em seguida, emendar os laços com a Rússia é talvez o melhor caminho a percorrer. Uma análise cuidadosa dos acontecimentos recentes leva à conclusão de que as velhas inimizades agitadas por Mao Zedong e Joseph Stalin uma geração atrás, todas têm desaparecido e que as trocas diplomáticas entre os dois países estão se compondo.
Esta situação criou um caminho sem obstáculos para o Paquistão, um caminho que pode levar a um bloco bem sucedido. Além do mais, somente a Ásia se orgulha de ter 5 países que são membros do clube nuclear: Rússia, China, Israel, Paquistão, Índia e Coréia do Norte, com o Irã aspirando a se juntar à lista. O Paquistão está em uma posição forte em um mundo onde os países são divididos naqueles que têm armas nucleares e os que não têm.
Israel é um aliado americano, daí a intervenção contra esse bloco de seu lado não estar prevista. Uma coalizão entre a China, Rússia e Paquistão ameaçam muito o seu papel e poder na Ásia. Com três dos poderes das armas nucleares em um bloco, seria impossível para Índia ou Israel uma postura de ameaça. Nesta situação complexa, a Índia tem desempenhado as suas cartas em uma forma reacionária também. O interesse da China em ganhos econômicos do porto de Gwadar do Paquistão deixou a Índia em estado de choque e desespero. Eles reagiram iniciando financiamento para desenvolver o porto de Chabahar no Irã, perto do porto de Gwadar. A Índia se sente tão ameaçada pelos laços China-Paquistão que constrói uma aliança com Israel e Irã. Para contrariar esta aliança, Paquistão e Rússia precisam reviver suas relações e virarem uma nova página da diplomacia, uma página que colocaria ambos em um caminho para a supremacia regional.
Além da supremacia regional, existem outros ganhos a serem feitos pelo Paquistão e Rússia. Uma recente visita à Rússia pelo Chefe de Pessoal do Exército do Paquistão, Raheel Shareef, sugere que ambos os países estão ansiosos para construir relações militares de cooperação onde ambos podem vir ao auxílio do outro. Há também especulações de que um acordo foi alcançado entre as duas nações sobre a troca e compra de armas de alta tecnologia da Rússia. Isso criaria uma oportunidade bem-vinda para o Paquistão, que tem sofrido com as escolhas de Washington de manter as armas americanas avançadas fora das mãos do Paquistão.
A decisão de Putin de não visitar o Paquistão durante a presidência de Zardari tinha mais a ver com a política externa duvidosa do Paquistão, no momento de intenções russas. A Rússia tinha buscado boas relações com o Paquistão. Mas a relutância de Zardari em apoiar fortemente a Rússia resultou no cancelamento da visita. As relações entre Paquistão e Rússia são um pasticho de tipos, uma viagem que tem todos os tipos de sabores. É uma relação que viu a inimizade e agora está experimentando amizade. A opinião popular no Paquistão agora favorece a perseguição desta emocionante amizade com a Rússia. Não há muita chance de falha como Henry Kissinger disse uma vez sugestivamente: “Nenhuma política externa – não importa o quão engenhosa – tem alguma chance de sucesso se nasce nas mentes de poucos e realizada nos corações de ninguém.”

Traduzido para publicação em dinamicaglobal.wordpress.com

Fonte: http://defence.pk/threads/pakistan-and-russia-—-a-comely-dalliance-opinion.382341/
e
http://atimes.com/2015/06/pakistan-and-russia-a-comely-dalliance-opinion/


https://dinamicaglobal.wordpress.com/2015/07/29/da-amizade-russia-paquistao-pode-surgir-um-mega-bloco-militar-de-potencias-nucleares-na-asia/ 
imagem:https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjZGUvu0sCEkA8AqS6OoVPivOfKDvmwqsTwuqBc2GM7QJAn8Ti6t4Alb4BPDMYtIz98WIXYQFmfO2-XYZeD8TVPWfyDhrcNTFCtbYkF9dS88NYim3HwLXZzicHnKao7tnnhO0mpe86jwpEx/s1600/mapa+OCX.jpg

segunda-feira, 11 de agosto de 2014

Oito pontos para entender a história do Hamas e do Islã político - Opera Mundi

Há algumas perguntas as quais é necessário responder para que se entenda o conflito palestino-israelense e atual situação no Oriente Médio
Efe
1. Quando surge o Islã político?
Em 1928 é fundada a Irmandade Muçulmana no Egito que, com o passar dos anos, foi se expandindo para vários países do mundo árabe. Esta foi a primeira organização moderna a adotar o Islã como base de seu projeto político.
[Faixa de Gaza, na manhã deste domingo]
Apesar de sua criação precoce e desenvolvimento teórico ao longo do século XX, durante décadas foi ignorada pelos governos nacionalistas ou pró-ocidentais que dominavam a região. Por conta das perseguições, seu trabalho foi eminentemente social.
A irrupção massiva e expansão do islamismo se deu, então, a partir de 1979, com a chegada da Revolução Iraniana ao governo do país.
2. Quais são seus fundamentos? 
O islã político parte da premissa de que os postulados do Islã são aplicáveis a um programa político e integral para a sociedade. Daí resulta a sharia, ou Direito Islâmico.
É necessário esclarecer que não existe uma única forma de interpretar o Corão (livro sagrado dos muçulmanos) e os preceitos do Islã. Isso se reflete, por sua vez, nas distintas organizações que promovem o islamismo.
A sharia não é a mesma no Sudão (onde se pratica a mutilação genital feminina), na Nigéria (onde é permitido apedrejar até a morte uma mulher adúltera) ou no Irã, onde as mulheres podem dirigir e ir para a universidade.
O cientista político francês François Burgat, especialista em Oriente Médio, toca em um ponto básico, mas que carece de explicação: “São as personalidades islâmicas que fazem o islamismo, e não o contrário”. Além disso, afirma que “segundo a natureza do terreno social que atravessa, das forças políticas que dela se apropriam, e das reações dos governos, a corrente islâmica se expressa com multiplicidade de registros e através de modos muito distintos. Nenhum deles pode ser uma chave de leitura única e atemporal”.
Por isso, é incorreto dizer que o Hamas, na Palestina, é o mesmo que o Boko Haram, na Nigéria, ou então a Irmandade Muçulmana, no Egito.
3. Que setores sociais representa o Islã político?
Com a revolução iraniana de 1979 e o primeiro governo islâmico da história, irrompem na política setores sociais que haviam sido relegados àquele rincão do mundo.
O estudioso francês Gilles Keppel aborda essa questão ao defender que “o movimento islâmico é dúbio. Nele, encontramos a juventude urbana pobre, oriunda da explosão demográfica do terceiro mundo, do êxodo rural massivo e que, pela primeira vez na história, tem acesso à alfabetização.” Keppel explica que também o integram “a burguesia e as classes médias piedosas que foram marginalizadas no momento da descolonização, levada a cabo pelos miliares e por dinastias fundadas por meio do poder".
Isso quer dizer que o islamismo tem um apoio popular significativo, especialmente em sua versão mais radical, e também nacional. Mas não significa necessariamente que incorpore um projeto político ligado às reivindicações populares progressistas ou de esquerda.
Efe

Militantes pró-Hamas fazem protesto contra Israel no Yêmen neste fim de semana
4. Por que o islamismo se dividiu em duas correntes majoritárias?
Toda revolução gera uma reação, e o caso do Irã não foi a exceção. A chegada ao poder do Aiatolá Khomeini em 1979 determinou o auge do Islã político e também a sua radicalização, em contraposição aos esforços reformistas da histórica Irmandade Muçulmana.
É assim que aparecem e ganham força, na década de 1980, grupos armados islâmicos, como o Hezbollah, no Líbano, e o Hamas, na Palestina.
Em resposta, a dinastia da Arábia Saudita emerge como foco de contenção à radicalidade desses novos movimentos. O islamismo conservador passou, assim, a ser financiado por um dos países mais ricos do mundo e seus aliados estratégicos.
Para sufocar a tentativa de estender a revolução iraniana ao resto do Oriente Médio, a Arábia Saudita impulsionou sua própria “cruzada”: a guerra do Afeganistão. Milhares de mujahidines foram enviados como combatentes internacionalistas a deter o avanço do comunismo soviético por meio da dinastia de Riad. Dessa situação nasceu a ligação do saudita Osama Bin Laden ao Taliban, que então governava o Afeganistão.
5. Como e por que surge o Hamas?
Neste contexto convulsionado do Oriente Médio, com o Islã político no auge durante a década de 80, surge o Hamas (“Despertar”, em árabe). Embora suas origens estejam ligadas à Irmandade Muçulmana egípcia, devido ao trabalho social que realizava principalmente na Faixa de Gaza, a nova organização expressou e expressa uma das versões do islamismo radical, como consequência da influência da Revolução Iraniana.
A primeira Intifada (“levantar a cabeça”), que começou em 1987 e durou até os Acordos de Oslo de 1993, foi o contexto no qual emergiu este novo movimento político-militar. Durante estes anos, as populações palestinas de Gaza, Cisjordânia e Jerusalém Oriental se rebelaram contra a ocupação israelense.
6. O Hamas foi impulsionado por Israel?
Poucas mentiras sobre o conflito palestino-israelense foram tão difundidas e aceitas, inclusive em ambientes ocidentais progressistas.
Como citado anteriormente, o Hamas surgiu de organização do trabalho social realizado nas mesquitas palestinas, muito similar ao promovido pela Irmandade Muçulmana no Egito. Durante décadas, Israel permitiu a proliferação do trabalho religioso islâmico por considerá-lo inofensivo e por representar um freio à posição laica, democrática e de libertação nacional da OLP (Organização para a Libertação da Palestina). Aqui nasce o erro e a distorção histórica.
Efe

Palestinos na Grécia prestam homenagem a mortos na Faixa de Gaza
Foi esta construção subterrânea que permitiu ao Hamas desenvolver uma hegemonia muito forte entre a população (fundamentalmente de Gaza). A Revolução Iraniana e a politização massiva do Islã no Oriente Médio catapultaram o trabalho social ao plano político.
7. Quais as diferenças entre o Hamas e a OLP?
Primeiramente, o Hamas é uma organização cujo objetivo é construir um Estado islâmico na região histórica da Palestina, enquanto a Organização para a Libertação da Palestina é laica, e portanto luta por um Estado palestino democrático e similar ao estilo ocidental.
Outro ponto de divergência na década de 90 foi o reconhecimento do Estado de Israel como tal. Após anos de luta, a OLP optou por negociar, e dessa forma se alcançou os Acordos de Oslo, que deram origem à Autoridade Nacional Palestina (ANP), governo do proto-Estado que nunca se constituiu devido às violações por parte de Israel.
O Hamas, por sua vez, nasceu e postula, em sua carta orgânica, a destruição do Estado de Israel. Por isso, rejeitou, no começo, os Acordos de Oslo e a ANP. Esta postura inicial, entretanto, se converteu com o tempo em posições mais realistas.
8. Qual é a política atual do Hamas?
No início, o Hamas adotou um linha de ação radical, que incluía a realização de atentados suicidas entre 1994 e 2004 (desde então não voltou a realizá-los, embora a propaganda israelense os cite sistematicamente). A radicalização, somada à posição mais diplomática da OLP, permitiu ao grupo crescer e se consolidar como uma alternativa diferente ao povo palestino.
No entanto, sua política tem variado. Em 2001, Ahmed Yassin, dirigente máximo da organização, assassinado em 2004 por Israel, afirmou: “Não lutamos contra povos de outras religiões ou judeus pelo fato de serem judeus. Lutamos contra os que ocuparam nossas terras, tomaram nossas propriedades, transformaram em refugiados nossas famílias e massacraram nossos filhos e mulheres".
Em 2006, o Hamas concorreu pela primeira vez às eleições legislativas para a ANP. Em um dos pleitos mais democráticos da região, saiu vencedor. Mas Israel e Estados Unidos tentaram dividir e deslegitimar o triunfo do grupo islâmico. Com certo consentimento do Fatah (a organização preponderante a OLP), o governo palestino se fragmentou em dois: Hamas em Gaza e OLP na Cisjordânia.
Esta divisão favoreceu e favorece a política israelense de negar a criação de um Estado palestino autônomo e soberano. Porém, no início deste ano, Hamas e OLP haviam firmado acordo para reunificar o governo palestino mediante uma administração de transição, até que se realizassem novas eleições. A decisão palestina provocou a ira do governo de Israel, que poucos meses depois, principiou a ofensiva que perdura até agora.
(*) Artigo originalmente publicado no portal Notas; tradução por Anna Beatriz Anjos, da Revista Fórum 
http://operamundi.uol.com.br/conteudo/opiniao/37395/oito+pontos+para+entender+a+historia+do+hamas+e+do+isla+politico.shtml

segunda-feira, 21 de julho de 2014

Gaza tem dia mais sangrento e mortos em ofensiva passam de 425 - BBC Brasil

Shejaiya (Reuters)
Mulher reage após a morte de parentes em Gaza: ofensiva israelense já deixou mais de 400 palestinos mortos
O conflito em Gaza teve o dia mais sangrento neste domingo, com pelo menos 87 palestinos mortos em ataques israelenses, a grande maioria na mesma área.
O presidente da Autoridade Palestina, Mahmoud Abbas, disse que as mortes no distrito de Shejaiya, no leste de Gaza, são um "massacre". Testemunhas relataram que corpos estavam espalhados pelas ruas.
Mais de 425 palestinos morreram desde o início da operação israelense, há 13 dias, segundo autoridades médicas. A maioria são civis, de acordo com a Organização das Nações Unidas (ONU). São mais de 3 mil feridos.
O Exército israelense disse que 13 soldados foram mortos em uma emboscada na madrugada, elevando para 18 o número de oficiais mortos na ofensiva. Os militares eram da Brigada Golã, segundo o Exército.
Uma trégua humanitária havia sido acertada, mas durou menos de uma hora. Uma equipe da BBC na região relatou troca de tiros menos de uma hora após o início do cessar-fogo temporário. Ambos os lados trocaram acusações pela quebra da trégua.
Apesar da ofensiva israelense, militantes continuam a lançar foguetes contra Israel, e um deles atingiu a cidade de Ashkelon.

'Famílias devastadas'

A correspondente da BBC Yolande Knell, em Gaza, disse ter visto cenas de pânico com milhares de moradores deixando a área de Shejaiya, foco dos ataques de Israel.
Paramédicos disseram que equipes de resgate ainda não conseguiram chegar à região leste do distrito.
O primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, disse em entrevista à BBC Árabe que Shejaiya é um "reduto do terror" e base de lançamento de foguetes contra Israel.
No hospital Shifa, o principal de Gaza, havia um congestionamento de ambulâncias na entrada.
"O hospital está completamente lotado. Para muitos de nós, estas são as piores cenas que já tivemos, não só pela quantidade de pacientes e o colapso da nossa capacidade, mas também pela dor e agonia", disse o médico norueguês Mads Gilbert, que tem atuado na emergência desde a noite passada.
"Havia crianças com dores enormes. Famílias totalmente devastadas estavam trazendo crianças mortas e se jogando ao chão, gritando".
Shajaiyeh (AP)
Fumaça é vista no distrito de Shejaiya, em Gaza, alvo de intenso bombardeio, segundo residentes
Hospital em Gaza (Reuters)
ONU diz que o estoque de suprimentos para ajudar palestinos em Gaza está chegando ao fim
O Exército israelense disse em comunicado que "forças adicionais" se juntaram ao "esforço de combater o terror" em Gaza.
O coronel Peter Lerner, porta-voz do Exército israelense, disse que a ofensiva terrestre estava sendo ampliada para "restabelecer a segurança e a estabilidade dos moradores e cidadãos de Israel".
A ONU alertou para o fim do estoque de suprimentos para ajudar mais de 50 mil palestinos que se abrigam em escolas da entidade em Gaza.
Uma autoridade da ONU disse que o número de pessoas deixando suas casas é maior do que o esperado, com as fronteiras de Gaza com Israel e Egito fechada para palestinos.
O secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, deverá se reunir com Abbas no Catar como parte de esforços na região para que israelenses e palestinos "encerrem a violência e encontrem um caminho", disse a entidade.
Soldados israelenses invadiram Gaza na quinta-feira após 10 dias de uma grande ofensiva aérea e naval que não conseguiu interromper o disparo de foguetes contra Israel por militantes palestinos que atuam no território.
Israel diz que a operação terrestre é necessária para atingir a rede de túneis do Hamas.
Esforços diplomáticos para um cessar-fogo não chegaram a um acordo. O Hamas rejeitou um cessar-fogo mediado pelo Egito na semana passada, alegando que qualquer acordo com Israel deve envolver um fim ao bloqueio à Gaza

ONU pede cessar-fogo imediato em Gaza - BBC Brasil

prédio destruído em Gaza | AFP
Domingo foi o dia mais sangrento em Gaza desde início da operação no início de julho
O Conselho de Segurança da ONU pediu um cessar-fogo imediato na Faixa de Gaza, após uma reunião de emergência realizada a portas fechadas no domingo.
A reunião foi convocada a pedido da Jordânia, que teria proposto um duro rascunho de resolução para consideração.
Entretanto, membros do Conselho concordaram apenas em "elementos para a imprensa", o que segundo o correspodente da BBC na ONU, Nick Bryant, é a forma mais fraca de ação do Conselho de Segurança.
O embaixador da Ruanda na ONU, Eugene Gasana, disse a jornalistas que membros do Conselho expressaram grande preocupação com a escalada da violência, a morte de civis, e "pediram mais respeito às leis humanitárias internacionais".
No total, 501 pessoas morreram em Gaza desde que Israel lançou a operação Margem Protetora contra militantes palestinos no dia 8 de julho, informaram fontes do Ministério da Saúde em Gaza. Elas informaram também que 3.135 pessoas ficaram feridas.
Nesta segunda-feira, 20 palestinos morreram em consequência dos últimos bombardeios, a maioria no sul do território.

'Dia mais sangrento'

Domingo foi o dia mais sangrento da operação, com mais de cem palestinos mortos. Do lado israelense, 18 soldados morreram.
O foco da ação israelense foi o distrito de Shejaiya, onde 60 pessoas perderam a vida.
O primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, disse em entrevista à BBC Árabe que Shejaiya é "um reduto do terror" e serve de base de lançamento de foguetes contra Israel.
Já o presidente palestino, Mahmoud Abbas, chamou a ação em Shejaiya de "massacre".
Na noite de domingo, o Hamas afirmou ter capturado um membro das Forças de Defesa Iraelenses, desencadeando comemorações em Gaza e na Cisjordânia.
No entanto, Israel negou que um de seus soldados esteja sob poder dos palestinos.
"Não há nenhum soldado sequestrado e esses rumores não são verdadeiros", disse Ron Prosor, embaixador de Israel na ONU.

Esforço diplomático

Na frente diplomática, o secretário de Estado americano, John Kerry, está a caminho do Egito, onde deve se reunir com autoridades no Cairo para discutir a crise em Gaza.
Segundo a ONU, 83.695 pessoas já deixaram suas casas no território em busca de locais seguros contra os bombardeios.
Soldados israelenses invadiram Gaza na quinta-feira após dez dias de uma grande ofensiva aérea e naval que não conseguiu interromper o disparo de foguetes contra Israel por militantes palestinos que atuam no território.
Israel diz que a operação terrestre é necessária para atingir a rede de túneis do Hamas.
Esforços diplomáticos para um cessar-fogo não chegaram a um acordo. O Hamas rejeitou um cessar-fogo mediado pelo Egito na semana passada, alegando que qualquer acordo com Israel deve envolver um fim ao bloqueio à Gaza.
http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2014/07/140721_gaza_onu_cessarfogo_fl.shtml

sexta-feira, 11 de julho de 2014

Foguetes da Faixa de Gaza têm marca do Hezbollah - Voz da Rússia

 Israel, Palestina, califato, extremismo
Novamente se ouvem sirenes nas cidades de Israel. Novamente civis descem para abrigos antiaéreos. A Cúpula de Ferro interceptaos foguetes disparados a partir dos territórios autônomos palestinianos. Trezentos mísseis israelenses atingiram trezentos alvos militares na Faixa de Gaza. Quarenta mil reservistas israelenses estão sendo mobilizados na preparação para uma nova operação militar.
O escritor e ativista social francês Marek Halter analisa, em entrevista à Voz da Rússia, a situação no Oriente Médio:
“O que está acontecendo hoje no Oriente Médio adquiriu uma escala diferente do que antes. Você diz que já foi assim. Não. Foi, mas não assim.
Quando George Bush começou a guerra no Iraque, ele comprometeu o equilíbrio de forças que se tinha instalado na zona. Eu acho que ele deveria ser levado a julgamento em Haia por crimes contra a paz. Ele é um criminoso de guerra. Ele mentiu a todos quando disse que Saddam Hussein tinha armas nucleares. Ele começou uma guerra e, como consequência, “abalou” o Oriente Médio. Hoje vemos uma guerra inter-árabe, o que em árabe é chamado de “fitna”, ou guerra civil entre xiitas e sunitas.
Além disso, vemos uma deslocação dos centros de terrorismo do Afeganistão para o Oriente Médio. Depois da morte de Bin Laden surgiu um novo chefe no Oriente Médio, Abu Bakr al-Baghdadi. O que ele faz, é calculado e incrivelmente perigoso: ele propõe a criação de um califado. Foi justamente através de um califado que originou o Islã, através de um califado baseado não em nações mas em religião. Assim, sucede que fronteiras já não importam, só a religião é que importa.
Al-Baghdadi está tentando unir xiitas e sunitas, parar a guerra entre as duas fações do Islã. E ele se está aproximando das fronteiras da Jordânia.
Pessoalmente, eu acho que o que está acontecendo hoje na Faixa de Gaza é uma manobra de distração para que os norte-americanos não intervenham na Jordânia para proteger o rei. Esta é uma estratégia extremamente complexa.
Há dois anos atrás, durante o nosso encontro em Damasco, o presidente do politburo do partido palestiniano do Movimento Islâmico de Resistência Khaled Meshaal disse-me algo que naquele momento me pareceu incrível: “Diga a seus amigos, os israelenses, que eles deveriam negociar connosco, o Hamas. Porque se eles não o fizerem, em breve na Faixa de Gaza poderá aparecer outra força, mais extremista do que nós. Eles não se permitirão sequer a ideia da possibilidade de negociações.”
Eu acho que os foguetes que hoje estão caindo sobre cidades israelenses foram lançados não pelo Hamas, mas por jihadistas. Eles têm muito dinheiro. Eles compram armas ao Hezbollah e trazem-nas por mar. O Hamas não os controla.
Para Israel é conveniente pensar que está sendo bombardeado pelo Hamas. Assim ele conhece o inimigo de rosto e sabe onde retaliar. Mas Israel não sabe onde procurar o Hezbollah.
Estes tempos são difíceis, porque Israel precisa de tempo para reconhecer o seu inimigo. Eu quero aproveitar o momento para lembrar que é necessário que todos se sentem à mesa de negociações. Precisamos encontrar forças para começar tudo de novo”.
Leia mais: http://portuguese.ruvr.ru/news/2014_07_11/Misseis-da-Faixa-de-Gaza-tem-marca-do-Hezbollah-5360/

No “cinema de Sderot”, israelenses assistem a ataque noturno a Gaza - Opera Mundi

O jornalista Allan Sorenson, correspondente do jornal dinamarquês Kristeligt Dagblad, postou em seu Twitter na noite de quarta-feira (09/07), segundo dia dos ataques de Israel contra a Faixa de Gaza, uma foto em que mostra israelenses assistindo e celebrando o bombardeio noturno à região.
Ver imagem no Twitter 
À jornalista Sahar Habib Ghazi, do Global Voice, Sorenson confirmou a veracidade da imagem. Em seu post, ele afirma que “israelenses levaram cadeiras para uma colina em Sderot para assistir às últimas novidades de Gaza” e “bateram palmas quando explosões foram ouvidas”.
Sderot tem uma população de 24 mil pessoas. A imprensa internacional tem constantemente reportado a tensão em que vivem estes cidadãos devido à quantidade de foguetes que são lançados de Gaza.
Mais de 550 foguetes foram lançados por palestinos desde o começo da Operação Margem Protetora ou Penhasco Sólido . Até o momento, não há o registro de nenhuma morte de cidadão israelense. Nesta sexta-feira (11/07), o governo de Tel Aviv afirmou que o número de palestinos mortos chegou a 100 e mais de 700 ficaram feridos pelos ataques aéreos de Israel contra Gaza.
O morador de Sderot, Kogan Baruch, afirmou ao site da emissora alemã Deutsche Welle que é "o governo do Hamas" que está atacando. “No momento, não tenho sentimento algum pelos que vivem na Faixa de Gaza. Se quiserem fazer alguma coisa e viver em paz, precisam mudar o próprio governo", disse.
A escalada de violência israelense ocorreu após a morte de três adolescentes israelenses na Cisjordânia no final de junho. Como “vingança”, um jovem palestino foi queimado vivo e assassinado em Jerusalém.
Logo após a descoberta dos corpos dos três jovens, Israel iniciou uma ofensiva contra o HamasAviões de guerra passaram a bombardear Gaza destruindo casas e instituições e foram realizadas execuções extrajudiciais. Até agora, quase 600 palestinos foram sequestrados e presos.
A tensão aumentou na região após anúncio, no começo de junho, do fim da cisão entre o Fatah e o Hamas, que controlam a Cisjordânia e a Faixa de Gaza, respectivamente. Israel considera o Hamas um grupo terrorista e por isso suspendeu as conversas de paz que vinham sendo desenvolvidas com os palestinos com a mediação do secretário de Estado norte-americano, John Kerry.
http://operamundi.uol.com.br/conteudo/noticias/35988/no+cinema+de+sderot+israelenses+assistem+a+ataque+noturno+a+gaza.shtml

domingo, 26 de janeiro de 2014

Por que a Síria pode incendiar o Oriente Médio? - Opera Mundi


Opositores desafiam governo do presidente Bashar Al Assad
Houve um tempo em que todos, ou quase todos os atores no Oriente Médio, tinham posições claras. Era possível antecipar, com alto grau de êxito, como este ou aquele ator reagiria a qualquer fato novo. Este tempo passou. Se examinarmos a guerra civil na Síria, perceberemos rapidamente não apenas que cada ator estabelece para si mesmo um largo leque de objetivos, mas também que cada um está envolvido em debates internos ferozes, sobre que posição deveria adotar.

No próprio interior da Síria, a situação oferece três opções básicas. Há quem apoie, por diversas razões, a manutenção do regime hoje no poder. Há os que desejem a chamada “solução salafista, na qual alguma forma de regime da sharia islâmica se estabelece. E existem os que não querem nenhum destes desfechos, preferindo uma solução em que o regime de Assad é derrubado mas não se instala, em seu lugar, um regime salafista.

Esta é, claro, uma imagem muito simples, mesmo como descrição das posições dos atores internos. Cada uma desta três posições básicas é apoiada por diferentes atores (poderíamos chamá-los de sub-atores?), que debatem consigo mesmos sobre as táticas que seus partidários deveriam adotar. Claro, o o debate sobre táticas na luta é também um debate sobre o desfecho preciso desejado por cada sub-ator. No entanto, este triângulo de atores, cada um com múltiplos sub-atores, cria uma situação em que há uma constante revisão de alianças locais, que é difícil de explicar e cujas resultantes são difíceis de prever.

  Os dilemas não são menores entre os atores não-sírios. Vejamos os Estados Unidos, que já foram o gigante da arena, e hoje são vistos amplamente como um país em grave declínio e, portanto, sem muitas opções positivas. Até o fato de admitir isso é polêmico, nos Estados Unidos. O presidente Obama é severamente pressionado por alguns sub-atores, para fazer “mais”; e, por outros, para fazer “menos”. Este debate está presente até mesmo em seu círculo de assessores mais íntimos, para não falar do Congresso e da mídia.

O Irã enfrenta o dilema de como melhorar suas relações com os Estados Unidos (e também com a Turquia e mesmo a Arábia Saudita) sem reduzir seu apoio ao regime sírio e o Hezbollah. O debate interno sobre as táticas a adotar parece tão intenso e em tom elevado quanto nos Estados Unidos.

A Arábia Saudita deseja apoiar os grupos muçulmanos amigos, na Síria, sem fortalecer os que são ligados à Al Qaeda, e querem a queda do regime saudita. O governo de Riad teme cometer um erro capaz de fortalecer a causa dos que desejam que o impasse se espalhe em suas fronteiras. Por isso, procura pressionar o governo dos EUA para que execute seus objetivos. Ao mesmo tempo (e tão secretamente quanto possível) conversa com os iranianos. Não é uma jogada muito fácil…

O regime turco, que agora tem seus próprios problemas internos, foi primeiro um apoiador do regime sírio; mais tarde, um opositor feroz; e hoje parece não ser nem uma coisa, nem outra. Procura retornar à antiga posição de uma Turquia pós-otomana que era um amigo poderoso de todo mundo.

Os curdos, ao buscarem a máxima autonomia (se possível, Estado independente de fato) travam negociações difíceis com todos os quatro Estados em que há populações curdas expressivas – Turquia, Síria, Iraque e Irã.
Israel não pode decidir de que lado realmente está. É contra o Irã e o Hezbollah, mas até há dois anos tinha relações muito estáveis com o regime do partido Baath, na Síria. Se apoiar os oponentes do regime sírio, arrisca-se a construir um regime pior, de seu ponto de vista. Mas para enfraquecer o Irã e o Hezbollah, não pode ser indiferente ao papel que o regime de Damasco joga, ao facilitar relações de proximidade entre o Irã e o Hezbollah. Por isso, Israel ora é verborrágico, sem consistência real, ora mantém-se calado.

Debates internos perturbam todos os Estados não-árabes que têm algum interesse na região: Rússia, China, Paquistão, Afganistão, França, Grã-Bretanha, Alemanha e Itália, para começar.

É um caos geopolítico, algo que exige, de cada um dos atores, manobras muito astutas, para não cometer erros desastrosos para seus próprios interesses. Nesse turbilhão de alianças – das globais às muito locais – em constante movimento, muitos grupos e sub-grupos consideram útil, taticamente, ampliar a escalada da violência.

A guerra civil síria é, no momento, o locus, do maior volume de violência no Oriente Médio e há poucas razões para esperar que ela cesse. Começou, ao contrário, a se espalhar pelo Líbano e Iraque, em particular. A maior parte dos atores teme que a difusão da violência, além de chocante, possa ao final ferir seus interesses, ao invés de promovê-los. Por isso, muitos atores procuram, de diversas maneiras, restringi-la. Mas poderão fazê-lo?

Quando o Exército de Libertação Popular marchou sobre Xangai em 1949 e estabeleceu um governo comunista, teve início nos Estados Unidos um debate enorme – e fútil. Foi focado no tema “Quem perdeu a China?”. Era como se a China fosse algo que outros pudessem perder. É provável que, muito em breve, haja debates em muitos países, sobre “Quem perdeu a Síria”. Na verdade, todos estes atores têm capacidade muito limitada de influir sobre os desfechos. O Oriente Médio está ficando fora de controle e precisaremos de sorte para evitar uma explosão.

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(*) Artigo publicado originalmente no site Outras Palavras
Tradução: Antonio Martins
http://operamundi.uol.com.br/conteudo/opiniao/33634/por+que+a+siria+pode+incendiar+o+oriente+medio.shtml

domingo, 1 de setembro de 2013

Portal Terra: 5 Cenários Num Ataque à Síria





     E se os Estados Unidos decidirem lançar uma ação militar contra a Síria, o que pode acontecer? Na tarde deste sábado, o presidente Barack Obama afirmou que pretende atacar a Síria, aguardando apenas a aprovação do Congresso. "Vou pedir autorização para o uso da força aos representantes da população americana no Congresso. Teremos debate e votação quando o Congresso retornar ao trabalho", disse o presidente americano em um pronunciamento no Jardim da Casa Branca acompanhado do vice-presidente, Joe Biden. "Estamos preparados para atacar quando quisermos", disse o democrata.
      O jornal americano USA Today listou cinco possíveis cenários diante da ação militar, relatando eventuais efeitos colaterais do ataque.
1) Falha
O ataque falha e não consegue impedir Bashar al-Assad, a quem o jornal chama de ditador, de continuar sua "matança de civis" para interromper a rebelião que já dura mais de dois anos. Uma falha dessas colocaria muita responsabilidade sobre o presidente Barack Obama e resultaria em pressão sobre os Estados Unidos para aumentar ainda mais o uso da força, uma vez que a barreira que impede o uso das armas militares americanas teria sido cruzada.
2) Retaliação da Síria
A Síria lança um ataque sobre a vizinha Israel para tentar reagir: uma resposta que ameaçaria a parte do Oriente Médio aliada aos Estados Unidos que se opõe a Assad, mas não quer apoiar Israel - países como Jordânia, Arábia Saudita, Turquia e os Emirados Árabes Unidos.
3) Irã vem à tona
O Irã tem ameaçado com frequência sobre o uso de suas embarcações navais para limitar o acesso ao Estreito de Ormuz, uma região no Golfo Pérsico próxima à costa iraniana por onde 20% do petróleo do mundo passa. O movimento forçaria a Marinha americana a responder com outros possíveis ataques militares. O Irã, uma teocracia xiita muçulmana, poderia estimular grandes populações xiitas em países árabes aliados para se revoltar contra seus líderes.
4) Ataque terrorista
Grupos terroristas no Oriente Médio, como Hamas e Hezbollah, lançam ataques contra alvos americanos na região, bem como a aliados dos Estados Unidos. Esses alvos poderiam incluir bases como o porto da V Frota da Marinha americana no Bahrein.
5) Rússia vence
A Rússia, que sob o comando de Vladimir Putin aumentou a repressão interna enquanto tenta fazer crescer sua influência internacional, se tornaria uma peça importante no Oriente Médio ao ajudar a Síria a resistir ao ataque americano. Isso fortaleceria o eixo antiamericano de Irã e Síria e levar a uma maior desestabilização da região com importantes valores econômicos e estratégicos para as nações ocidentais.