Articulista indiano defende investimentos maiores no caça nacional Tejas e cita a importância dos caças leves na composição de uma Força Aérea



Ajai Shukla*
     Palmas para o governo pela seleção de um avião de caça para a empobrecida Força Aérea Indiana (IAF), que atualmente reúne pouco mais de 34 esquadrões de caça (21 aeronaves por esquadrão) contra um requisito avaliado em 45.
     Na escolha do francês Rafale, Nova Deli disse “não, obrigado” aos peso-pesados da indústria de defesa ​​mundial, cuja influência política e tecnológica muitas vezes acabam decidindo em seu favor.
Isto foi conseguido, sem dúvida, pela capacidade da Índia em acalmar os perdedores com alternativas generosas – Washington recebeu contratos de aeronaves de transporte e patrulha marítima; Moscou com negociações de helicópteros, caças e navios de guerra; Londres com jatos de treinamento e Estocolmo, com esperança de ofertas gigantes no campo da artilharia e submarinos convencionais. (Grifo meu)
     Mas isso não deve tirar o crédito da IAF por ter feito uma concorrência justa, transparente e relativamente rápida, no qual, pela primeira vez na Índia, a avaliação de um “ciclo de vida” detalhado ao longo de quarenta anos foi considerado ao lado do preço do caça.
A dificuldade na realização de tal contenda é ilustrada pelo caso brasileiro, onde pressões têm impedido uma simples decisão entre o Boeing F/A-18, o Rafale e o Gripen NG.
     A decisão da Índia resultou da insistência ministro da Defesa, AK Antony, sobre deixar a IAF determinar qual aeronave seria melhor para satisfazer suas necessidades. Mas, infelizmente, essa confiança imprudente sobre os pontos de vista apenas dos pilotos de caça distorceu totalmente a compra do novo avião de combate.
      Em vez de um caça leve, barato e monomotor que a IAF buscava na década de 1990 para substituir sua frota de MiG-21, a Força Aérea terá agora 126 caças pesados, bimotores e extremamente caros. Estes seis esquadrões de Rafales poderão aumentar para até nove esquadrões através de um contrato tipo follow-on, segundo fontes da IAF.
      Juntamente com os 12 esquadrões de Sukhoi-30MKI e outros 12 esquadrões de aeronaves de caça de quinta geração que a Índia desenvolve com a Rússia, a IAF terá um total de 33 esquadrões de caças pesados ​​e de alto desempenho por volta de 2022, cerca de 75 por cento de sua frota projetada de 45 esquadrões.
     Isso pode alegrar o coração de um jovem piloto de caça, assim como uma frota de Ferraris iria alegrar o coração de um jovem universitário, mesmo que o seu trajeto seja de dois quilômetros de extensão através de tráfego intenso. Mas é preocupante para um estrategista de defesa que busca uma força equilibrada para executar uma infinidade de tarefas economicamente.
     Caças leves são acessíveis e mais baratos de se comprar e voar. Sendo menores, eles são inerentemente mais furtivos, menos observáveis aos radares inimigos. Um caça leve de primeira classe equivale a um terço do custo de um Rafale.
     Mesmo o Rafale sendo uma máquina de combate poderosa, bruta, de alta qualidade, quase sempre perderá para três caças leves modernos. “Qualidade é bom”, disse Stalin, sempre pragmático, “mas a quantidade tem uma qualidade própria.”
     É por isso que a USAF e as forças aéreas israelenses têm grandes frotas de caças monomotor F-16. Essa é também a lógica para a frota da Índia de MiG-21 e para o Tejas que deveria substituí-lo.
     No final de 1990, enquanto a IAF usou como justificativa a aquisição de caças do exterior em função dos atrasos no programa Tejas, ela sugeriu que a linha de produção do Mirage 2000 fosse comprada junto à Dassault, e o caça monomotor seria construído na Índia. Mas quando o Ministério da Defesa, ainda sofrendo com o caso ‘Tehelka’, insistiu em uma concorrência internacional, a IAF reformulou suas exigências.
     O termo tornou-se MMRCA (aviões de combate médio multi-função) e as especificações favoreceram um caça bimotor pesado. Surpreendentemente, ninguém no Ministério da Defesa pareceu notar a reviravolta ou objeto para a contradição.
     Hoje, os hangares de caças leves da Índia estão esvaziando rapidamente com os atrasos nas substituições. Por volta de 2013-14, sete esquadrões de MiG-21 deverão se aposentar; mais seis esquadrões serão eliminados até 2017, assim como quatro esquadrões de MiG-27.
     É vital, portanto, conduzir o programa do Tejas novamente para o seu lugar, comprometendo o dinheiro, recursos e esforço organizacional necessário para o desenvolvimento e a fabricação de pelo menos 10 a 12 esquadrões de caças Tejas progressivamente evoluídos.
     Comparado com a estimativa de Rs 75.000 crore para apenas 126 aviões Rafale, o orçamento do Tejas tem sido uma ninharia. Desde 1983, Rs 9.690 foram investidos na infra-estrutura aeroespacial, como laboratórios de pesquisa e desenvolvimento, fábricas de defesa, setor privado, instituições acadêmicas, e uma instalação de teste de nível mundial, o Centro Nacional de Testes de Voo, e na construção e testes em voo para cerca de 20 protótipos do Tejas.
     Um volume adicional de Rs 4.353 crore se destina ao Tejas Mark II. Alocações agora devem seguir para a expansão da pesquisa e do desenvolvimento e até para a elevação da qualidade da mão de obra que impulsiona o programa Tejas.
      Paralelamente, uma linha de produção de excelência deve ser construída para produzir o Tejas, incorporando práticas de produção e medidas de controle de qualidade que caracterizam a produção de aeronaves em todo o mundo.
Atualmente, a fabricação dos Tejas é de responsabilidade de Hindustan Aeronautics Limited, que está sem um presidente desde que Ashok Nayak se aposentou em outubro passado. Com o foco de HAL em linhas de produção atualmente em curso, como o Sukhoi-30MKI, a montagem do Tejas não é uma prioridade.
     Também não há ênfase na redução do custo de produção, que atualmente é muito alto (em torno de Rs 180-200 crore – US $ 36-40 milhões - por Tejas Mark I). Isso deve ser reduzido para Rs 125-150 (US $ 25-30 milhões) para tornar o LCA uma compra atraente no mercado internacional.     Encomendas de exportação permitiriam fabricação em escala, derrubando os preços ainda mais.
     Pagar 75.000 crores para os Rafales certamente impulsionará a defesa nacional. Mas um gasto muito menor sobre a indústria aeroespacial indiana, e a negociação de tecnologias-chave junto à Dassault e à Thales durante a fase de elaboração do contrato, garantirá que o Rafale seja o último caça que a Índia vai comprar no exterior.