Chefe do
programa nuclear diz que 'não há razão para ceder no enriquecimento a 20%',
motivo de inquietude para as grandes potências
O Irã rejeitou
neste domingo abandonar o enriquecimento de urânio a 20%, exigido pelas grandes
potências mundiais para resolver a crise provocada pelo programa nuclear
iraniano. "Não há razão para ceder no enriquecimento a 20%, porque
produzimos combustível a 20% para as nossas necessidades, nem mais, nem
menos", afirmou Fereidoun Abbasi, chefe do programa nuclear iraniano.
Vigilância:
Imagens de satélite criam suspeita de que Irã faz 'limpeza' em complexo militar
Foto: AP Foto de
satélite de 26/9/2009 divulgada pelo GeoEye mostra instalação de Fordo sob
construção dentro de montanha perto de Qom, Irã
O enriquecimento
de urânio a 20% deixa inquieta a comunidade internacional em relação à real
finalidade do programa nuclear iraniano, que, segundo Teerã, é estritamente
pacífico. Por sua vez, as potências ocidentais suspeitam que há um objetivo
militar que visa dotar o país de uma bomba atômica.
Enriquecido a
5%, o urânio serve de combustível para as centrais nucleares. A 20%, alimenta
os reatores de pesquisa. Mas acima de 90% pode servir para fabricar uma bomba
atômica.
Abbassi lembrou
que o Irã havia começado em 2010 a enriquecer urânio a 20% para produzir
combustível para seu reator de pesquisas nucleares de Teerã, depois do fracasso
das negociações com as grandes potências sobre a entrega desse combustível em
troca de uma parte das reservas de urânio fracamente enriquecidos.
"Precisamos controlar todo o ciclo do combustível de urânio",
explicou Abbassi.
As potências do
grupo 5+1 - EUA, Rússia, China, França, Reino Unido e Alemanha - exigiram nesta
semana do Irã, em negociações travadas em Bagdá, que não enriquecesse urânio
para além de 5%, e transferisse para fora do país suas reservas atuais de cerca
de 100 kg de urânio a 20%.
Essa medida é um
dos principais gestos pedidos ao Irã para dissipar dúvidas sobre seu programa
nuclear, condenado por seis resoluções do Conselho de Segurança da ONU, quatro
delas com sanções.
Teerã sempre
afirmou que seu direito de enriquecer urânio no âmbito do Tratado de Não
Proliferação Nuclear (TNP) era um assunto de soberania "não
negociável".
Além disso, o
chefe do programa nuclear iraniano se referiu neste domingo à possibilidade de
que Teerã comece a exportar urânio a 20%, uma ameaça que não é nova, mas que
aparece como uma provocação no contexto atual.
Esse
endurecimento da posição do Irã ocorre pouco depois de a Agência Internacional
de Energia Atômica (AIEA) anunciar na sexta-feira a descoberta de restos de
urânio enriquecido a 27% na usina nuclear subterrânea de Fordo, ao sul de
Teerã.
O Irã se referiu
a um problema técnico, uma explicação plausível, segundo especialistas
ocidentais, embora a AIEA tenha pedido informações adicionais. Por sua vez,
neste mesmo domingo a República Islâmica anunciou que construirá uma nova
central na cidade de Bushehr, no sul, no início de 2014.
"O Irã
construirá uma usina nuclear de 1.000 megawatts em Bushehr no próximo
ano", disse Abbassi, citado pela televisão estatal. A central será erguida
em Bushehr ao lado da atual central construída pela Rússia.
Abbassi não
informou se a nova central também contará com a cooperação da Rússia. A
televisão estatal fez o anúncio poucos dias depois das negociações da última
quarta-feira em Bagdá entre o Irã e as grandes potências. Essas negociações
refletiram as notáveis divergências entre ambas as partes, que, no entanto,
concordaram em realizar uma nova rodada de negociações em Moscou nos dias 18 e
19 de junho.
Complexo de
Parchin
A mídia do Irã
informou neste domingo que a AIEA ainda não apresentou boas razões para visitar
uma instalação iraniana onde existem suspeitas de que possam estar sendo
desenvolvidas armas nucleares.
O complexo de
Parchin está no centro das suspeitas das potências contra o Irã. Um relatório
da agência da ONU divulgado na semana passada afirmou que imagens de satélite
mostraram "atividades extensas" em Parchin.
Abassi recusou
acesso ao complexo, situado a sudeste de Teerã, dizendo que se trata de uma
instalação militar. "As razões e documentos ainda não foram apresentados
pela agência para nos convencer a dar permissão a essa visita", disse.
Com AFP e
Reuters
Imagens> http://i.telegraph.co.uk/multimedia/archive/02103/Fereidoun-Abbasi_2103090b.jpg
Fordo > http://www.onejerusalem.com/wp-content/uploads/2012/01/Fordo_plant.jpg
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