O Azerbaijão, com este nome que pode ser
confundido com outras nações terminadas em “ão” no Cáucaso, é seguramente um
dos países mais importantes geopoliticamente do mundo.
E é justamente na capital Baku que
a secretária de Estado americana,
Hillary Clinton, desembarca hoje para
discutir não apenas o conflito envolvendo azeris e armênios no enclave de
Nagorno Karabakh, como também o importante suporte do Azerbaijão a Israel na
questão iraniana.
Isso mesmo, os azeris são hoje os
melhores amigos dos israelenses na hora de enfrentar o que Israel considera ser
a ameaça iraniana. Com a Turquia adotando um tom populista com Erdogan na hora
de falar de seus antigos aliados em Jerusalém, com o Cairo passando por uma
transição incerta e o rei Abdullah da Jordânia sob pressão de opositores,
ninguém contribui mais no mundo islâmico com Benjamin Netanyahu do que seus
aliados de Baku..
Nos últimos meses, os serviços de
segurança do Azerbaijão prenderam 22 suspeitos ligados ao regime de Teerã que
estariam planejando atentados contra alvos americanos e israelenses. Os azeris
são também os maiores fornecedores de petróleo para Israel.
Israel também cumpre a sua parte. Em
fevereiro deste ano, vendeu US$ 1,6
bilhão em armas para as Forças Armadas azeris. Segundo artigo de Ilya Bourtman no Middle East Journal, uma
publicação acadêmica sobre Oriente Médio em Washington, os israelenses também
“cuidam da segurança do aeroporto de Baku e do próprio presidente, Ilham
Aliyev, ao exterior”. O líder do Azerbaijão está no poder desde 2003 e é alvo
de protestos de entidades de direitos humanos.
Além disso, de acordo com relatos não
confirmados por nenhuma das partes e tampouco pelos EUA, o Azerbaijão teria
autorizado Israel a usar uma pista de pouso militar em seu território. Desta
forma, os israelenses não teriam necessidade de sobrevoar longas distâncias
sobre os céus de nações com as quais não mantém relações, como Arábia Saudita,
Síria e Iraque, para alvejar as instalações nucleares iranianas.
Os EUA vêem com cautela esta
possibilidade, segundo artigo publicado por Mark Perry na revista Foreign
Policy. O governo de Barack Obama é contra um ataque israelense às instalações
nucleares iranianas neste momento, preferindo esperar o resultado de duras
sanções contra o setor petroleiro e o banco central iranianos que começam a
entrar em vigor a partir de julho. Além disso, há o novo canal de negociações
diplomáticas entre Teerã e o Sexteto, composto pelos cinco membros permanentes
do Conselho de Segurança, mais a Alemanha.
O regime de Teerã, por sua vez, acusa o
serviço secreto do Azerbaijão de ter colaborado com os EUA e Israel para matar
cientistas iranianos envolvidos com o programa nuclear do país que, segundo o
Irã, tem fins civis. Americanos e israelenses dizem que o objetivo final é
construir armamentos nucleares.
O Azerbaijão se sente ameaçado pelo Irã,
com quem tem disputas territoriais no Mar Cáspio, uma fonte importante de
petróleo. Além disso, há uma proeminente minoria azeri no norte iraniano. Nos
EUA, existe pressão para vender armas a Baku, mas estas ações esbarram no forte
lobby armênio em Washington.
A Armênia, com o apoio da Rússia,
disputa com o Azerbaijão a região de Nagorno Karabakh, onde oito soldados foram
mortos ontem, sendo cinco azeris e três armênios. Hillary pediu calma às duas
partes
Joshua Kucera, colunista do diário Eurasianet.org,
especializado na região do Cáucaso, afirma que Baku usa “a ameaça iraniana para
conseguir simpatia no Ocidente. Mas também é verdade que a retórica do Irã
contra os interesses estratégicos de Baku no Cáspio aumentou”.
FONTE: http://blogs.estadao.com.br/gustavo-chacra/azerbaijao-o-melhor-amigo-de-israel-na-hora-de-enfrentar-o-ira/
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