“Os autores desse relatório focaram na
situação presente há 10 anos, quando o separatismo no Cáucaso Setentrional era
o principal fator estimulante das atividades terroristas na Rússia”, argumenta
o analista político Dmítri Oréchkin, ao expor que as lacunas da lista
apresentada.
A influência crescente do wahhabismo, uma
das formas mais agressivas do fundamentalismo islâmico é um dos aspectos que,
segundo o especialista, foi ignorado governo norte-americano ao redigir o
documento.
“O recente atentado terrorista na
república russa do Tartarstão, na região do rio Volga, contra o xeque Ildus
Faizov é uma prova disso”, aponta Oréchkin. O próprio comitê de investigação
responsável pelo caso não descarta que o duplo atentado tenha sido organizado
pelos wahhabitas.
“O atentado no Tartarstão extravasa os
conceitos traçados no relatório do Departamento de Estado. O mais provável é
que tenha como causa o extremismo religioso”, acrescenta Andrêi Iachlavski, do
Instituto de Economia Mundial e Relações Internacionais da Academia de Ciências
da Rússia.
Fato é que norte-americanos e russos estão
juntos no combate ao terrorismo. “A ameaça terrorista enfrentada pelos Estados
Unidos é também perigosa para a Rússia e vice-versa. Por isso, os serviços
secretos, especialistas e políticos dos dois países devem unir forças”,
continua Iachlavski.
A cooperação entre os EUA e a Rússia nessa
área poderia e deve ser mais produtiva, eficaz e multidisciplinar. Mas nem tudo
vai bem nas relações entre nossos dois países. “E, infelizmente, isso também
afeta a cooperação no combate ao terrorismo”, lamenta Iachlavski.
Ainda assim, o relatório Departamento de
Estado fala sobre a aparente aproximação entre os EUA e a Rússia ao citar a
assinatura do acordo bilateral de cooperação no combate ao terrorismo entre os
ministérios da Defesa de ambos os países em 2011.
Os exercícios militares conjuntos
realizados no Colorado, em maio passado, são um exemplo da iniciativa. Na
ocasião, ambos os exércitos foram treinados em operações para eliminação de
bases de terroristas.
Apesar de o documento destacar a melhoria
da cooperação russo-norte-americana por meio das organizações de inteligência
de ambos os países, não há qualquer menção sobre um auxílio americano aos
esforços da Rússia na luta contra os grupos terroristas no Cáucaso.
Isso mostra que a cooperação
antiterrorista entre os dois países está se desenvolvendo a passos lentos.
Afinal, a inteligência americana poderia usar seu grande potencia para fornecer
aos serviços secretos russos dados necessários e, assim, salvar muitas vidas.
Nesse contexto, cabe lembrar quando, em
2003, a justiça norte-americana prendeu, graças à ajuda dos serviços secretos
russos, um indivíduo que tentava vender nos EUA um lote de 50 unidades dos
sistemas de mísseis portáteis. O então presidente dos EUA, George W. Bush, enviou
uma carta ao diretor do FSB (Serviço Federal de Segurança da Rússia), Nikolai
Pátruchev, agradecendo à parte russa suas “ações rápidas e altamente eficazes”
durante a operação conjunta com o FBI.
Infelizmente, a reciprocidade dos Estados
Unidos parece estar fora de questão. Os representantes do serviços secretos da
Rússia manifestam, informalmente, a esperança de que, um dia, o processo saia
do ponto morto e que o próximo relatório do Departamento de Estado dos EUA
contenha disposições relativas a uma assistência real dos norte-americanos.
Andrêi Kisliakóv
- analista da emissora “Voz da Rússia”
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