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segunda-feira, 30 de novembro de 2009

Colégio HMS – História
Prof. Cláudio Almeida

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ASSUNTO: A Revolução Chinesa
I – Introdução
Durante os séculos XIV ao XIX a China – o Império do Meio – sob a dinastia Ming que ascendeu após o domínio mongol, fechou-se a todas as influências exteriores e recuperou as tradições nacionais. Assim, as influências materiais, humanas e culturais de origem não sínica, foram barradas e suprimidas.
No início do XIX comerciantes europeus que desde o XVI buscavam romper o isolamento chinês e estabelecer relações comerciais, encontraram no ópio uma “chave” para abrir o mercado da China.
O consumo do entorpecente rapidamente foi se alastrando e gerando crescentes preocupações estatais sobre tal comércio e seus desastrosos efeitos sobre os consumidores. Inicialmente as autoridades tentaram, pela diplomacia, contornar o problema, e como não tiveram o efeito desejado, reagiram com restrições e punições mais severas. Mesmo a comunidade de mercadores estrangeiros foi atingida, quando em 1842 estoques de ópio foram confiscados e destruídos.
Aos protestos dos comerciantes junto às autoridades inglesas, juntou-se uma expedição punitiva que originou a 1ª Guerra do Ópio. A defasagem militar ocidental sobre a China já era tão grande que a resistência chinesa foi quase protocolar. E à derrota seguiram-se as exigências, os privilégios comerciais, os Tratados Desiguais, etc.
Logo, outras potências vieram na esteira dos britânicos e exigiram iguais condições no mercado chinês, o que veio a caracterizar essa conjuntura como o break-up (partilha) como um desdobramento do “Regime de Portas Abertas”.
Na virada do século XX, uma tardia reação nacionalista originou a chamada “Guerra dos Boxers” e uma adesão do governo imperial desastrosa aos rebeldes. Da derrota de ambos, o domínio estrangeiro aprofundou-se e condenou ao fim a monarquia chinesa, com a Revolução de 1911.
II – As Guerras Revolucionárias
Fundada neste ano, a República foi dominada pelo Partido Nacionalista Chinês, o Kuomitang ou KMT, e que sob a liderança de Sun Yat-Sen propunha-se a implementar um regime democrático, nacionalista e liberal. Com estas propostas, a liderança do KMT esperava varrer a interferência estrangeira, diversificar a economia, eliminar as desordens internas e promover o crescimento de uma burguesia chinesa que conduzi-se a modernização do país.
Mas o projeto esbarrou na fragilidade do aparato republicano para controlar todo o território chinês, o que levou o KMT a entregar grandes e longínquas regiões à administração dos chamados senhores da guerra, lideranças militares que exerciam de fato a autoridade regional diante do vazio de poder do governo central.
A anarquia se espalhou e o campesinato, já sacrificado pela política de modernização com impostos e exigências de mais trabalho, ficou exposto ao autoritarismo destes senhores da guerra, grupos de bandidos e milícias diversas controladas por latifundiários ou chefes de aldeias.
Neste ambiente de desordem, insatisfação e frustração com a república propiciou a formação e expansão do Partido Comunista Chinês ou o PCCh, sob a liderança de Mao Tsé-Tung.
Ameaçado pela anarquia generalizada, o KMT aliou-se ao PCCh (em1923) para restabelecer uma autoridade central em nível nacional. Assim, nacionalistas e comunistas fizeram causa comum contra os senhores da guerra e seus congêneres, entre os anos de 1924 a 1927 – era a 1ª Guerra Revolucionária.
Inicialmente aliados, os nacionalistas sob a crescente influência do general Chiang Kai-Chek começaram a eliminar os comunistas nas áreas que caíam sob controle direto do KMT e a medida em que se enfraqueciam os senhores da guerra.
Entre 1927 e 1937 ocorreu a 2ª Guerra Revolucionária onde o PCC h buscou sobreviver a uma enorme ofensiva militar do KMT contra as bases comunistas e que levaram à retirada dos comunistas para o norte do país e a implementação da chamada Longa Marcha, que embora tenha levado a eliminação quase total dos comunistas, permitiu a Mao sobreviver e reconstituir o PCC h
Entre os anos de 1937 a 1945, transcorreu a Guerra de Resistência, onde os comunistas tomaram a iniciativa de lutar contra as forças japonesas de invasão. Estas já ocupavam a Manchúria desde 1931 e em 1937 ampliaram a invasão contra a China. A contragosto, e lentamente, o KMT aliou-se aos comunistas quando o conflito chinês atrelou-se à Segunda Grande Guerra, após o ataque japonês contra os EUA, em Pearl Harbour. Tanto o KMT como o PCCh foram beneficiados pela aliança comum dos EUA e da URSS contra alemães (na Europa) e japoneses (na Ásia). Quando o conflito terminou em 1945, ambos saíram fortalecidos, embora o PCCh viesse a demonstrar melhores qualidades de comando e manobra.
Começou assim a 3ª e última Guerra Revolucionária que se encerrou em 1949 com a fuga da liderança do KMT para Formosa, constituindo-se na China Nacionalista, em oposição à China continental, denominada de República Popular.
III – A Revolução Chinesa (anos 1950-76)
Inicialmente houve um apoio soviético na forma de créditos e o oferecimento de auxílio técnico, equipamentos e assessoria em geral para o novo governo em Pequim. Mas os problemas eram graves e exigiam solução urgente, indicando que os tempos de sacrifício não haviam terminado.
Em 1950 havia ainda cerca de 1 milhão de soldados nacionalistas ainda resistiam nas montanhas chinesas; aliar o controle territorial à destruição dos poderes locais e consolidação política eram tarefas fundamentais para o sucesso do PCCh. Outra tarefa importante era redistribuir a terra de forma a contentar a base social da revolução – o campesinato.
Porém, outra tarefa urgente sê impôs. Entre 1950 e 1953 os gastos militares da República Popular se expandiram devido o início da Guerra da Coreia, e desviaram recursos e esforços que podiam ser usados na consolidação da revolução.
Com o término do conflito, a liderança do PCCh entendeu ser chegada a hora de aprofundar a socialização pelo desenvolvimento planificado, dando seguimento ao I Plano Quinquenal (1952-57). Mas os pressupostos eram equivocados e os resultados foram insuficientes. Um exemplo era que o modelo soviético, na agricultura, apoiava-se numa relativa escassez de mão-de-obra e maior mecanização, mas na China, o que não faltava eram braços para o trabalho nos campos e assim, era economicamente um desperdício recorrer-se à mecanização agrícola. Noutra vertente, o plano priorizou a industrialização e relegou a agricultura a um segundo plano.
Ainda nos anos 50 haveria a ruptura entre as duas potências comunistas, em virtude da desestalinização levada a termo por Kruschev, a aproximação soviético-norte-americana, as restrições de Moscou ao programa nuclear chinês, etc. Por sinal, Pequim insistia que o apoio soviético era insuficiente, que Moscou tentava tutelar a República Popular e ambicionava os recursos chineses.
A expansão industrial do I Plano agravou os problemas da diferença de índices de crescimento na agricultura e na indústria: mesmo mantendo forte crescimento rural, ele seria insuficiente para atender as necessidades urbano-industriais, travando a expansão industrial.
Foi também concluído o recenseamento geral da população e para surpresa do governo, havia mais gente para alimentar, empregar e assistir, ainda mais com o alto índice de jovens que, na geração seguinte, entraria no mercado de trabalho. Planejando para uma população de 450 milhões de pessoas, o PCCh viu-se às voltas com quase 600 milhões.
Diante das crescentes manifestações de insatisfação, Mao estimulou em 1957 que a população criticasse o partido e sua condução do processo revolucionário, num evento denominado de Campanha das Cem Flores. Estimulada a criticar, a população fez exatamente isso, atacando a burocratização e as lideranças comunistas.
Diante das críticas o partido fechou-se e começou a reprimir a oposição, que afinal tinha expressão e conteúdo nos problemas econômicos nacionais.
Neste contexto emergiu o chamado Grande Salto Para a Frente e a formação das comunas rurais. A mobilização dos recursos rurais – sua força de trabalho, sua poupança, engenho e criatividades – seriam as alternativas para manter o crescimento econômico. Caberia a grande indústria associar-se ao esforço provendo as comunas rurais com equipamentos de menor porte e mais rudimentares mas que pudessem auxiliar as comunas em seu esforço de industrializar o país e prover bens de consumo, alimentos e matérias primas. O trabalho coletivo foi organizado para enfrentar as secas, as enchentes, a ampliação dos campos, o plantio e a colheita, etc. Mesmo fundindo os recursos de comunidades mais e menos prósperas, e ampliando a diversificação de trabalhos em cada unidade comunal. Neste esforço de descentralização econômica, as comunas receberam também funções governativas e o controle de uma milícia popular que viria a rivalizar com o ELP – o Exército de Libertação Popular.
O Grande Salto foi prejudicado por correções de rumo e o fracasso de expectativas, entre outros problemas.
As comunas começaram a decompor-se me unidades menores, os atritos com a URSS implicaram redução de auxílio soviético num momento em que uma parte expressiva da renda nacional e da produção de bens e grãos destinavam-se ao comércio sino-soviético para pagar a “ajuda” russa aos seus “irmãos” socialistas. A produção de comida declinou e cerca de 20 milhões de chineses morreram de fome, em virtude das discrepâncias entre as produções industrial e agrícola e, provavelmente, também devido à ausência de uma planificação mais racional em suas várias etapas: metas, execução e acompanhamento.
O fato foi que Mao foi destituído de algumas de suas funções e levado a um certo ostracismo, do qual ele emergiria, a partir de 1968, com a Revolução Cultural.
Iniciada em 1966, era um novo apelo contra a centralização burocrática, a “distância” entre partido e povo e os “elementos burgueses infiltrados no governo e no partido”, segundo proclamava Mao Tsé-Tung.
Em Xangai formou-se uma comuna popular que assumiu a administração da cidade. Em várias partes do país, operários assumiram as fábricas. Técnicos, intelectuais, professores, médicos, oficiais e líderes partidários foram perseguidos pela Guarda Vermelha, presos, expostos à execração pública e forçados a assumir seus desvios e arrepender-se. Em algumas localidades ocorreram motins contra o ELP e combates entre este e a Guarda.
Encerrada em 1976, com a morte do próprio Mao, ainda hoje é difícil fazer um balanço seguro pois muito da documentação permanece restrita. Mas se para uns ela atrasou o desenvolvimento do país pela perseguição aos técnicos e intelectuais, ameaçou perigosamente a ordem pela anarquia, ou críticas semelhantes, para outros abriu a aproximação com o Ocidente – a partir do próprio Mao – e permitiu ao dirigente revolucionário reassumir o controle sobre o PCCh após o episódio do Grande Salto.
Sob a liderança de Deng Xiao Ping, antigo companheiro de Mao e ex-vítima da Revolução Cultural, conduziu-se uma cuidadosa e limitada “desmaoização”, revendo-se antigas ações e posturas de Mao Tsé-Tung, implementando-se um conjunto de reformas.
III - Conclusão
O PCCh implementou um programa de reformas daquilo que doravante seria denominado de Socialismo com Características Chinesas ou Socialismo de Mercado: sob controle estatal se implementaria um frenético desenvolvimento capitalista. Mas para tornar viável tal projeto era essencial que, ao contrário da URSS, o partido mantivesse a sociedade sob controle. Em última instância, o objetivo das reformas era reforçar o PCCh e não eliminá-lo e ao país, como ocorreu com a URSS.
Dentre as reformas de Deng e seus seguidores encontram-se:
fim das comunas populares;
descoletivização da terra e estímulo ao lucro e de aumento da produtividade (de 240 milhões de toneladas em 1979 passou-se para 500 milhões em 1997);
criação das Zonas Econômicas Especiais, destinadas a captar seletivamente investimentos e estimular as exportações e importação de tecnologias.
Mas não se permitiu o desafio aberto à autoridade do governo central: do trágico “Massacre da Praça da Paz Celestial” em 1989, à repressão aos membros da seita Fallun Gong e movimentos étnicos (islâmicos ou não) em anos mais recentes.

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