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terça-feira, 3 de janeiro de 2012

Fora do Conselho de Segurança, Brasil terá de descobrir como usar a sua força emergente

O Brasil encerrou neste sábado o seu décimo mandato no Conselho de Segurança das Nações Unidas em uma de suas participações mais polêmicas desde 1947, quando Oswaldo Aranha era o representante brasileiro na ONU. Os posicionamentos brasileiros foram acompanhados de perto por governos estrangeiros e receberam destaque internacional, embora algumas vezes negativamente.


Em temas envolvendo Irã, Líbia, Síria e Israel, as administrações de Luiz Inácio Lula da Silva e, posteriormente, de Dilma Rousseff, adotaram posições antagônicas às dos Estados Unidos e, em três destas questões, dos países da Europa Ocidental.

Embora discordassem dos brasileiros em muitos pontos, americanos e europeus destacavam que o voto do Brasil, por ser uma democracia e hoje a quinta economia do mundo, costuma dar mais credibilidade para resoluções, especialmente entre países emergentes. A recente abstenção em resolução condenando o regime de Bashar Assad foi lamentada em capitais como Washington, Paris e Londres. Ao longo do ano, estes governos tentaram convencer os brasileiros a apoiar medidas mais duras contra Damasco.

Cobrindo o Conselho de Segurança nestes dois anos, posso afirmar que hoje os EUA e as potências europeias colocam o Brasil um patamar bem acima de outros países da América Latina. Ninguém liga, por exemplo, para a posição da Colômbia. Mas todos querem saber sempre como os brasileiros irão votar.

Em setembro, por exemplo, o Council on Foreign Relations em Nova York publicou um amplo estudo afirmando que os EUA deveriam apoiar a inclusão do Brasil no Conselho de Segurança da ONU – o presidente Barack Obama defendeu a entrada da Índia, mas não dos brasileiros.

O Brasil não sabe quando e tampouco se conseguirá a almejada cadeira permanente no órgão decisório máximo das Nações Unidas, descrito como “anacrônico” pelo jornalista John Kampfner em artigo publicado nesta semana no The Independent em que pedeum papel mais relevante para os BRICS.

Segundo Bruno Reis, diretor da consultoria de risco político Exclusive Analysis e membro do Grupo de Análise da Conjuntura Internacional da USP (GACInt), “o Brasil apenas integraria o CS ao lado dos outros membros do G-4 (Alemanha, Índia e Japão). A China, porém, dificilmente aceitaria a entrada de dois rivais históricos (indianos e japoneses). Os brasileiros também sofrem oposição de seus vizinhos México e Argentina, que preferem uma vaga rotativa. Por estas razões, a chance de ingresso ainda são muito pequenas”.

Nos próximos dois anos, a vaga da América Latina ocupada pelo Brasil será da Guatemala, um país com pouco mais de 5% da população brasileira. O outro latino-americano continuará sendo a Colômbia, principal aliada dos Estados Unidos na região, que ainda tem um ano de mandato. Provavelmente, o país deve retornar ao Conselho de Segurança em quatro anos.

“Esta última passagem do Brasil no Conselho de Segurança talvez tenha sido a mais controversa de todos. Neste período, o país alcançou uma relevância maior no cenário internacional e suas decisões tiveram repercussões bem maiores”, afirmou Reis.

No Conselho de Segurança, o tema mais polêmico foi a votação da quarta rodada de sanções ao Irã, em junho de 2010. Na ocasião, o Brasil sequer se aliou aos outros BRICS, como ocorreria posteriormente em relação à Síria e à Líbia. Apenas a Turquia acompanhou os brasileiros no voto contra a resolução – o Líbano se absteve e os outros 12 países, incluindo os cinco membros permanentes, foram a favor.

Diplomatas ocidentais costumam avaliar a posição brasileira no caso iraniano de três maneiras. Alguns classificam o Brasil como ingênuo, tendo sido manipulado, junto com os turcos, pelo regime de Teerã. Outros afirmam que o erro estava na foto da celebração de Lula ao lado de Mahmoud Ajmadinejad, considerada intragável em Washington e nas capitais européias. Por último, alguns entendem que o Brasil levou em conta interesses nacionais, como a oposição ao protocolo adicional do Tratado de Não-Prolirefação Nuclear. Para completar, Barack Obama realmente havia pedido a Lula para negociar com o Irã.

Procurada, a embaixadora do Brasil na ONU, Maria Luiz Viotti, alegou problemas de agenda e não concedeu entrevista ao Estado para comentar o mandato. Em conversa com a rádio ONU semanas atrás, Viotti, ao comentar o voto sobre o Irã, afirmou que “o caminho para a solução passa pelo diálogo e não por decisões coercitivas como sanções”.

Longe do Conselho de Segurança, o Brasil deve manter uma atuação destacada em fóruns econômicos, “como o G-20 e a OMC”, de acordo com o diretor da Exclusive Analysis.


FONTE: http://blogs.estadao.com.br/gustavo-chacra/

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