The
Economist Intelligence Unit
27.04.2012
19:13
A
frágil estabilidade política no Afeganistão
VISÃO GERAL: A duradoura campanha de insurgência de
vários grupos indica que a estabilidade política no Afeganistão continua fraca.
Uma série de incidentes no primeiro trimestre de 2012 agravou consideravelmente
as relações entre o Afeganistão e os países ocidentais. No início de 2012 os
Estados Unidos começaram a pressionar por uma redução no financiamento
necessário para apoiar a Força de Segurança Nacional Afegã (ANSF na sigla em
inglês). Foram estabelecidos limites ao volume de dinheiro que pode ser tirado
do país, na tentativa de conter a fuga de capital em grande escala. O governo
começou a aceitar propostas para explorar a metade ocidental da bacia de petróleo
Afegã-Tajique, no norte do Afeganistão, onde estimativas iniciais indicam
depósitos de 600 milhões de barris de petróleo.
POLÍTICA INTERNA: Tumultos mortíferos
varreram o Afeganistão no final de fevereiro, depois de relatos de que
exemplares do Corão foram queimados por soldados norte-americanos na base aérea
de Bagram, perto da capital, Cabul. Oficiais da Otan disseram que os livros
faziam parte de material religioso islâmico que foi apreendido em um centro de
detenção local depois de relatos de que os detidos os estavam usando para
trocar mensagens, e que a queima dos livros foi acidental. Um pedido de
desculpas formal dos EUA mostrou-se insuficiente para conter a ira local, que
irrompeu em demonstrações por todo o país na semana seguinte, resultando na
morte de 30 afegãos e seis soldados norte-americanos.
No rastro dos incidentes com o Corão, em
11 de março um sargento do exército norte-americano, Robert Bales, supostamente
saiu em frenesi aos tiros pelo remoto distrito de Panjwai, na província de
Kandahar, sudoeste do Afeganistão. Embora os relatos dos eventos variem muito
na imprensa local e internacional, incluindo alegações de que um grupo de
soldados pode ter participado, as autoridades norte-americanas disseram que o
suspeito agiu sozinho e mais tarde se entregou.
As tensões entre o Afeganistão e seus
aliados internacionais também foram alimentadas por uma série de episódios em
que soldados e policiais afegãos (assim como rebeldes disfarçados de
autoridades) atacaram tropas da Otan. O aumento das tensões no terreno
obscureceu as recentes notícias de progresso nas negociações sobre o Acordo de
Parceria Estratégica (SPA na sigla em inglês), que definiria as condições da
presença norte-americana no Afeganistão após a retirada das tropas de combate.
O presidente afegão, Hamid Karzai, expressou otimismo de que o SPA seja
assinado antes da cúpula da Otan sobre o Afeganistão que se realizará em
Chicago em 20-21 de maio. O SPA está em negociação há mais de 18 meses. Além de
dar impulso à assinatura do SPA, a conferência de Chicago também é considerada
um passo vital para estabelecer os termos do apoio a ser dado ao setor de segurança
afegão, especialmente depois da retirada das Forças Internacionais de
Assistência à Segurança (ISAF, que consistem em tropas dos EUA e da Otan) em
2014. Os EUA pressionaram pela redução dos fundos necessários para sustentar a
ANSF, embora o custo anual ainda deva ser acordado pela comunidade
internacional, diante da difícil situação das finanças do Afeganistão.
RELAÇÕES INTERNACIONAIS: A situação da
segurança no Afeganistão continua sendo afetada negativamente pela dinâmica
política regional. Em janeiro, a emissora pública britânica BBC relatou que
teve acesso a um relatório secreto da Otan que documentava a assistência dada
pelos serviços de segurança do Paquistão aos taleban. Um porta-voz do
Ministério das Relações Exteriores paquistanês chamou as acusações de
“ridículas”, salientando o compromisso do Paquistão de não interferir no
Afeganistão. A Missão de Assistência da ONU ao Afeganistão (Unama) confirmou em
seu relatório anual divulgado em fevereiro que um número recorde de civis foi
morto em 2011 como parte do conflito em curso. A vasta maioria das mortes foi
causada por grupos insurgentes, incluindo os taleban. Entretanto, o Conselho de
Segurança da ONU votou em 22 de março prorrogar o mandato da Unama por um ano.
O presidente francês, Nicolas Sarkozy, anunciou que seu país vai suspender suas
operações de treinamento e apoio ao combate no Afeganistão pendentes de
revisão. Sarkozy também disse que a França vai romper com seus aliados da Otan
e retirar as tropas do Afeganistão no final de 2013, um ano antes do prazo em
que todas as forças internacionais devem deixar o país. Em 1º de fevereiro, o
secretário da Defesa dos EUA, Leon Panetta, anunciou que seu país encerraria
sua ação de combate no Afeganistão em meados de 2013, mais de um ano antes da retirada
programada das tropas norte-americanas, e assumiria um papel de “conselheiro e
assessor”, fornecendo apoio às forças de segurança afegãs.
TENDÊNCIAS POLÍTICAS: No início de 2012 os
EUA começaram a pressionar por uma redução das verbas necessárias para
sustentar a ANSF. Quando a ISAF terminar as operações de combate no Afeganistão
(programado para 2013), a ANSF deverá assumir a liderança na manutenção da
segurança do país, assim como lidar com os rebeldes. Com essa finalidade, a
ISAF tem treinado forças locais, e a ANSF deverá crescer de seus atuais 305 mil
membros para 352 mil até setembro deste ano. Os EUA estimam que treinar e
equipar essas forças custará cerca de 6 bilhões de dólares por ano, mas vem
pressionando para reduzir os custos para 4,1 bilhões de dólares ao ano. Também
busca mais contribuições de aliados da coalizão, assim como do governo afegão,
apesar de o estado precário das finanças públicas do país poderem impedir um
aumento significativo nas contribuições locais. O ministro das Finanças afegão,
Omar Zakhilwal, confirmou ao apresentar ao Parlamento o orçamento para o ano
fiscal 2012/13 (21 de março a 20 de março) que o país não terá recursos
suficientes para cobrir suas despesas depois da retirada das tropas da ISAF.
Zakhilwal apresentou um orçamento que previa gastos em 2012/13 de 4,8 bilhões
de dólares, dos quais apenas um terço seriam cobertos por receita interna; o
restante deveria vir em forma de ajuda estrangeira. Há preocupações de que o
Afeganistão não será capaz de fechar sua lacuna fiscal nos próximos anos,
apesar de medidas como a adoção de um novo imposto de valor agregado, marcada
para 2014. O orçamento foi rejeitado pelo Parlamento e está sendo renegociado.
CRESCIMENTO ECONÔMICO: O governador do
banco central, Nurollah Delawari, anunciou em meados de março que está impondo
limites ao volume de dinheiro que pode ser retirado do país. Anteriormente,
quantias ilimitadas podiam ser retiradas, desde que fossem declaradas. Isto
resultou na saída do país de grande volume de capital em espécie: estima-se que
a quantia de dólares americanos carregados por passageiros que saíram pelo
Aeroporto Internacional de Cabul em 2011 duplicou, para 4,6 bilhões de dólares.
Isso quase equivale aos gastos públicos anuais, estimados em 4,8 bilhões de
dólares em 2011. Para conter a fuga de capital, Delawari anunciou que um limite
de 20 mil dólares por passageiro será imposto; para quantias maiores, serão
necessárias transferências eletrônicas. Os cambistas no Afeganistão protestaram
contra a medida, afirmando que vão aumentar acentuadamente o custo das
transações. Não está claro se o novo limite vai conter a fuga de capital, que
as autoridades temem estar ligada à indústria de heroína do país.
CONTAS EXTERNAS: Em 7 de março o governo
começou a aceitar propostas para explorar a metade ocidental da bacia
Afegã-Tajique, no norte do país, perto da cidade de Mazar-i-Sharif, onde
estimativas iniciais indicam depósitos de cerca de 600 milhões de barris de
petróleo. O ministro das Minas, Wahidullah Shahrani, indicou que a bacia também
pode conter reservas de gás na mesma região. Toda a bacia é estimada pelo
Serviço Geológico dos EUA em cerca de 946 milhões de barris de petróleo e 7
trilhões de pés cúbicos de gás. A empresa de petróleo norte-americana Chevron está
entre vários investidores estrangeiros supostamente interessados nos direitos
de exploração.
Fonte: Carta
Capital http://www.cartacapital.com.br/internacional/a-fragil-estabilidade-politica-no-afeganistao/
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