O que vai
acontecer se a Grécia sair da Zona do Euro
Após meses tratando a saída da Grécia da
Zona do Euro como tabu, as lideranças do continente começaram a falar
abertamente sobre o tema. A quebra do paradigma chegou ao papel na quarta-feira
23, com um relatório do Bundesbank, o banco central alemão, no qual a
instituição classifica a saída da Grécia como um grande desafio, mas
“manejável”. O documento, e a divulgação de uma reportagem da Reuters sobre
planos dos ministros das Finanças europeus para evitar pânico, derrubaram as
bolsas nesta semana. Pode ter sido o presságio de um futuro momento de grande
instabilidade no continente.
O documento do Bundesbank pode ser
encarado como um recado para a Grécia. O banco central alemão diz que a Grécia
deveria enfrentar as consequências de não cumprir os acordos firmados com a
União Europeia e o Fundo Monetário Internacional para receber as próximas
parcelas dos pacotes de resgate. E vai além: a UE já assumiu muitos riscos para
dar liquidez à economia grega e deveria analisar com cuidado uma nova
assistência financeira. Assim, sugere o Bundesbank, os gregos estariam
obrigados a manter as medidas de austeridade. Caso não o fizerem, a porta de
saída do euro será o caminho.
Em meio a este cenário, os analistas
ouvidos por Carta Capital acreditam que o rompimento da Grécia com o euro
traria uma consequência grave imediata aos países do bloco: o pânico para
retirar dos bancos valores em euro – principalmente na Espanha e em Portugal.
Isso ocorreria devido ao temor de que esses países, e outros de economias
frágeis, como Irlanda e Itália, resolvam seguir a Grécia e abandonar a moeda
única. “A saída da Grécia abriria espaço para um cenário mais crítico que
poderia levar ao fim da Zona do Euro”, diz Antonio Carlos Alves dos Santos,
doutor em economia e professor da PUC-SP.
Além das pessoas físicas, os mercados
também seriam afetados de imediato. “Haveria uma tentativa em larga escala [dos
investidores] de se livrar dos títulos em euro, pois o mercado age muito mais
pelo fator psicológico que econômico”, diz Santos. “Haveria um impacto inicial
na Espanha, Itália, Portugal e Irlanda que poderia levar as taxas de juros dos
títulos destes países no mercado a níveis insustentáveis”, afirma.
O pânico generalizado só poderia ser
contido por uma ação rápida e coordenada. A Alemanha, maior economia da Zona do
Euro, o Fundo Monetário Internacional (FMI) e até países emergentes, como a
China, teriam de agir em conjunto. Seria preciso garantir os depósitos
bancários nos países remanescentes na moeda única. “Esse tipo de medida de
segurança já deve estar sendo programada e, na eventualidade da saída da
Grécia, os ministros de Finanças dos países do euro a anunciariam de forma
rápida”, avalia Fabio Kanczuk, PhD em economia e pós-doutor pela Universidade
de Harvard (EUA).
Líderes não escondem preocupação
Desde a semana passada, o temor de um
cenário como este é assunto corriqueiro entre os políticos europeus. Nesta
quinta-feira 24, Nick Clegg, vice-primeiro-ministro do Reino Unido (país que
não utiliza o euro, mas sim a libra), alertou que a saída da Grécia poderia ter
consequências drásticas para toda a Europa. Em visita à Alemanha, Clegg pediu
por uma nova grande negociação em busca de um acordo. “Precisamos é de uma
barganha entre norte [da Europa] e sul [Europa endividada], entre credores e
países em débito, exportadores e países consumidores”, disse.
Clegg afirmou que não deve haver ilusões
sobre o significado do rompimento grego com o euro. “Ninguém deveria trabalhar
sob a falsa esperança de que de alguma forma a saída da Grécia do euro traria
alívio instantâneo para os problemas que enfrentamos. Se algum membro decidir
deixar a moeda, haveria um efeito imprevisível não apenas nos membros da Zona do
Euro, mas também na União Europeia como um todo, incluindo o Reino Unido, e na
economia global.” Nesta quinta, diga-se, o Reino Unido registrou uma contração
do Produto Interno Bruto (PIB) de 0,3% no primeiro trimestre e entrou em
recessão técnica.
Grécia ficaria em situação delicada
A saída da Grécia não prejudicaria apenas
a União Europeia. Os gregos também enfrentariam grandes dificuldades. Fora do
euro, a Grécia desvalorizaria sua nova moeda com o objetivo de tentar ampliar
os ganhos com as exportações. Para os analistas, causa preocupação o fato de a
Grécia ter índices de representatividade praticamente nulos em ternos de
exportação na Europa. Kanczuk acrescenta uma nova preocupação. A saída afetaria
principalmente o setor público, responsável por serviços básicos. “A dívida
grega está em grande parte no setor público após as reformulações e ajustes.
Logo, o setor privado está protegido”, diz Kanczuk.
Atualmente, uma sugestão apontada como
possível solução para aliviar a crise é a emissão de eurobonds, um título comum
da dívida dos países da Zona do Euro. Isso diminuiria os preços dos empréstimos
para os países endividados. A medida ganha força na Europa, mas é rejeitada
pela Alemanha por tirar a pressão de países endividados e a colocar nos tidos
como “responsáveis” – representados pela Alemanha. Após reunião com o novo
presidente da França, François Hollande, a chanceler da Alemanha, Angela
Merkel, voltou a defender essa proposta. “A crise não será resolvida com um
remédio milagroso, mas sim com o resultado de um trabalho duro, baseado no
rigor orçamentário e em reformas estruturais”, disse.
Os eurobonds ajudariam a Grécia, mas a UE,
mesmo que a Alemanha seja convencida a aceitá-los, vão esperar as eleições de
17 de junho na Grécia. Há um temor de que partidos antiausteridade vençam. O
favorito é o Syriza, partido de esquerda radical que ficou em segundo lugar na
primeira consulta e bloqueou a formação de um governo de coalizão
pró-austeridade.
Ao falarem sobre a possível saída da
Grécia da Zona do Euro, os líderes europeus podem estar pressionando os
eleitores gregos a reverterem o cenário político. Pesquisas apontam que os
gregos não desejam sair da Zona do Euro, mas também não querem as medidas de
austeridade. Por isso, os analistas ouvidos por Carta Capital acreditam na
vitória de um partido comprometido com o aperto fiscal. Ironicamente, se a
estratégia política não der certo e a Grécia romper com a moeda única, a adoção
dos eurobonds podem se tornar ainda mais necessária. “O eleitor alemão não
aceita essa medida, mas se um país deixar a moeda única é preciso proteger os
demais para evitar uma debandada”, diz Kanczuk.
Com informações
AFP.
Fonte: Carta Capital http://www.cartacapital.com.br/economia/o-que-vai-acontecer-se-a-grecia-sair-da-zona-do-euro/
Imagem: http://downloads.passeiweb.com/imagens/newsite/atualidades/crise_grecia1.jpg
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