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domingo, 8 de julho de 2012

Uma rápida discussão sobre o Fascismo


Estes dias fui estimulado por uma discussão em sala onde o tema era o Fascismo e, em especial, como se podia fazer uma comparação entre aquilo que ocorreu nos anos 1920/40 com a época atual?  E se era possível tal comparação?

A comparação é certamente possível mas de forma cuidadosa.
Para começar seria mais correto ou preciso falarmos antes de Fascismos do que de um Fascismo puro ou singular.
Por que?
Porque o segundo descontextualiza o primeiro termo.
O Fascismo surgiu como um fenômeno de massas (aspecto conceitual) associado a uma conjuntura específica que foi o final da Primeira Guerra Mundial.
Assim sendo, o fascismo italiano ou o nazismo alemão remontam a aspectos autônomos entre si - até certo ponto quando se descem às minúcias, como o fato da Itália estar entre os vencedores e a Alemanha não -, expressando no entanto elementos nacionalistas significativos das suas diferenças.
Já no plural, além de podermos identificar a convergência do fenômeno com essas sociedades de massas emergentes do século XX, podemos perceber as nuances que fazem um Camisa Negra tão distinto de um SS ou um Integralista brasileiro de um Falangista espanhol.
Outrossim, também podemos transpor àqueles fascismos da 1ª metade do século em relação aos que emergiram nos anos 1970/90.
Se falarmos então de um neofascismo, recorrendo aqui a Robert Payton, a diferenciação emerge já na conjuntura daquele para este.
A saber:
  1. Os Choques do Petróleo e a subsequente crise gerada pela escassez de energia e seu encarecimento;
  2. O crescimento asiático e suas plataformas produtivas e comerciais ricas em mão de obra barata;
  3. A sobrecarga imposta aos Estados pelas demandas sociais;
  4. O desemprego como componente estrutural;
  5. E o crescimento da imigração onde contingentes cada vez maiores de indivíduos inassimiláveis (pelo vestuário, aparência, cultura, religião, etc) emergem como uma espécie de ameaça à identidade nacional.  
Nesse contexto o medo, o fracasso do socialismo, o aumento de impostos e outros, somavam-se a nova realidade propiciada pela globalização, pelo multiculturalismo, pelas questões ambientais e uma sensação de crescente ineficiência e incerteza a exigir um pulso forte capaz de lidar com tantas e tão variadas ameaças.
Outrora o Fascismo moveu um ataque aberto contra o individualismo ou ao livre-mercado e defendeu o corporativismo e a estatização.
Hoje o discurso é mais enviesado: reforçar os executivos não significa lançar ou defender projetos ditatoriais ou de cunho militarista/expansionista.
E quanto a um Fascismo não-europeu?  É possível falar-se disso?
O próprio Payton elenca três casos em que a comparação aponta para similaridades e não cópias:
  1. Na América latina as ditaduras foram muito mais nacionalistas e desenvolvimentistas, sendo mais afinadas com o Populismo;
  2. Na África as ditaduras recebem apoio externo significativo mas carecem fortemente de apoio social (potencialmente hostil aos governantes) e com pouca capacidade expansionista;
  3. E em relação ao Japão, o governo Tojo era muito mais uma ditadura militarista que embora dispusesse de grande apoio popular não tinha como um grande partido político organizado a apoiar as lideranças.
Atualmente, o que mais se aproximaria do neofascismo fora da Europa representa-se naquelas sociedades onde a religião - mais que o nacionalismo - fornece a base social da identificação coletiva.

Fonte Imagem :http://1.bp.blogspot.com/-1FpNCCWKVo0/Tr4a0J9qBOI/AAAAAAAAAL8/zDmuIyL_Ry0/s1600/neofascisti.jpg

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