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segunda-feira, 15 de outubro de 2018

Sobre Bauman - Breve Consideração.


            Inevitável não relacionar o pensamento de Bauman com uma das mais célebres referências marxistas, qual seja, a de “que tudo que é sólido desmancha no ar”.  Dono de instigador olhar acerca da vida, das relações e dos fenômenos de nosso tempo, ele é senhor de uma abordagem que recorta nossa existência, ou a percepção da mesma, a partir de uma concepção que prima pelo transitório, que faz da inconstância nosso “devir” contemporâneo.
            Nosso mundo é o “líquido” que corre, margeia, molda e se molda numa infindável transformação de tudo que somos, das relações que fazemos e que pensávamos duradouras, das nossas expectativas enfim, e que se choca com o paradigma da própria modernidade, este idealizado como algo “sólido” e construído pela razão, pela ciência, pela modernidade prometéica das conquistas e certezas.  Não mais a vida e destino escritos do berço ao túmulo, mas como evocam os Titãs “A Melhor Banda de Todos os Tempos da Última Semana”.  Tudo se desfaz, tudo se refaz.
            Ledo engano,  é no campo da pós-modernidade que a fluidez de Bauman nos conduz não ao temor das incertezas, mas à percepção de que estas são a própria essência de uma modernidade sem respostas definitivas, sem trilhas prontas, seguindo sim os ventos caprichosos, sinuosos do imponderável vemos relações afetivas, profissionais, hierárquicas que construídas sobre a perspectiva da perenidade, perecem, se esfarelam, desintegram-se sob o impacto do momentâneo, da brevidade.  Vida incerta que instiga, que assusta, traduzindo aquilo Guimarães Rosa nos empresta com sua poesia “O importante e bonito do mundo é isso: que as pessoas não estão sempre iguais, ainda não foram terminadas, mas que elas vão sempre mudando. Afinam e desafinam.”
            Opondo-se às estruturas que vertebram e enrijecem ideias, corpos e expectativas, aquilo que ele aponta como a Modernidade Sólida, tem na emancipação do indivíduo seu caráter inconstante, que “liquefazem” as expectativas e os olhares: o tempo que encurta, a permanente inquietude que impulsiona para o próximo e que desconecta o agora.  O próximo livro, o próximo relacionamento, o próximo trabalho, o próximo post, a próxima foto, a próxima rede, e a próxima, próxima, próxima.....O agora é estado em perpétua transição pois a satisfação daquilo que se conseguiu ou viveu, logo acaba atropelado pelo que virá. 
            Com o destino pleno de oportunidades, o homem liberto de amarras contempla um mundo em que são suas as responsabilidades, sendo a fortuna ou infortúnio resultados de suas ações.  Individuo atomizado que livre das ideologias, das instituições, de um tipo de vida não mais possível num mundo “líquido” que é ressignificado pelo efêmero.  Cujos “sólidos” desfazem-se em novas perspectivas – novos “sólidos” - que por sua vez também irão se dissolver.
            Nova economia, nova moral, nova família, novas ideologias expressam as incertezas da sociedade de massas, da globalização , da espetacularização da vida privada. 
            Incerto, sem forma, inconstante, assim é o mundo onde o individualismo “faz” amigos com a mesma velocidade com que os descarta, deixando para trás a estabilidade destes relacionamentos, substituindo a impermanência pela perenidade e assim por diante. 
O felizes para sempre as vezes não dura o final da cerimônia ou a fila de cumprimentos.
             

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