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segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

O Relatório do Alcoforado Sobre o Tráfico- 1853

RELATÓRIO DO ALCOFORADO SOBRE O TRÁFICO (1832-1853)
Outubro de 1853 – Arquivo Nacional IJ6 Seção dos Ministérios 525

Nos anos 90 este documento encontrava-se registrado no ANRJ como “desaparecido”. Porém, encontrei uma transcrição dele na biblioteca do ICHF/UFF (Instituto de Ciências Humanas e Filosofia da Universidade Federal Flumimense) no Cadernos do ICHF nº 5. Não anotei, à época, a referência completa da fonte. Mas encontrei uma menção ao mesmo em CONRAD, Robert E. Tumbeiros – o Tráfico de Escravos para o Brasil. São Paulo, Ed. Brasiliense. 1985. p. 126 (nota de referência).
É um documento interessantíssimo para explorar e mantive a diagramação encontrada.
Boa viagem!


1832/33 – As primeiras introduções foram feitas por portugueses, a começar por José Maria Lisboa. Usavam navios velhos que após os desembarques eram afundados ou queimados. As negociações eram tratadas com diversos fazendeiros e as compras feitas a prazo. Os especuladores ganhavam dinheiro, pois os africanos custavam então 20 a 30 mil réis na África.
1833/34 - José Bernardino de Sá (Barão de Vila Nova do Minho) estabelece feitorias na África, ao sul do Equador. Outros também o fizeram mesmo sem capitais. Adquiriam fazendas a prazo ou fiado, embarcavam em navios de bandeira portuguesa e dirigiam-se a qualquer ponto da África. Impunes porque os cruzeiros ingleses não desciam ao sul do Equador.
1834/35 - Cresce o tráfico e sobe ao poder João Paulo dos Santos, que era inimigo dos portugueses e do tráfico. Estabelece um cruzeiro de patrulha. No entanto os escravos era apresentados como colonos para o Rio da Prata. Apreensão da escuna portuguesa “Angélica” na Ilha Grande com mais de 300 escravos. O oficial que fez a apreensão foi mandado para o Pará e um júri absolveu comandante e tripulantes.
Fins de 1835 - Estabelecem-se diversos barracões de escravos ao longo da costa: na barra de Campos por conta dos hoje comendadores Joaquim Tomás de Faria e André Gonçalves Graça; São Sebastião (J. B. de Sá e Untal Veiga), Ilha Grande (Antonio Barboza da Cunha Guimarães), Mangaratiba (José Breves ). Traficavam Pimenta Machado, Amaral e Bastos, e outros. A absolvição do “Angélica” estimulou o trafico. Os fazendeiros compravam fiado e pagavam com café.
1835/36 - Cessam os cruzeiros brasileiros. Aureliano de Souza Coutinho (sogro do Ministro da Justiça) faz porto de desembarque em Palmas (Ilha Grande). Os portugueses monopolizaram os negócios e só forneciam escravos aos seus associados. Estes subiam a serra e vendiam a fazendeiros (400 a 500 mil réis). O coronel comandante da fortaleza de Santa Cruz estabelece um ponto de desembarque dentro da dita fortaleza.
1836/37 - O tráfico cresce em escala. Associação dos traficantes com as autoridades da polícia. Propinas eram pagas para as saídas (800 mil réis por navio negreiro) que no retorno ficavam desimpedidos. O Chanceler português recebia hum conto de réis facilitar o uso da bandeira portuguesa. Outros exemplos. Trinta e tantos navios apreendidos após o desembarque fora da barra. Todos absolvidos. Novo expediente dos negreiros: desembarcar escravos, seguir para Montevidéu, carregar carne e entrar na barra do Rio a salvo.
1837/38 - Os navios seguiam com mantimentos rumo ao Cabo ou Moçambique. Os negros estavam custando de 5 a 10 patacões.
1838/39 - Recomeçam os cruzeiros ingleses de patrulha.
1839/40 - Quase não saem navios.
1840/41 - Um cruzeiro em Campos faz várias presas. Cerca de 40 mil negros no RJ. Em 1840 diversos desembarques em Campos, Ilha Grande, Macaé, São Sebastião e Marambaia. Negreiros preponderantes, com diversas personalidades a eles ligados. Os negreiros diziam possuir os recursos da praça do Rio de Janeiro, dependendo deles também o resultado das eleições em Minas Gerais, Rio de Janeiro, São Paulo. Isso porque o giro do dinheiro, o apoio dos fazendeiros e do comércio inglês aqui radicado. Em 1841 novo expediente dos negreiros: desembarcavam escravos em Macaé, Cabo Frio Paranaguá e outros e entravam no R.J como arribados. Nestes portos as autoridades também recebiam subornos.
1842/43 - Cruzeiros ingleses ao sul do Equador, cruzando a costa africana.
1843/44 - O governo brasileiro dá como encerrado o direito de visita. “Bill” contra as bandeiras brasileira e portuguesa. Os traficantes passam a servir-se das bandeiras americana, francesa e sarda. Os especuladores são protegidos e tornam-se mais fortes.
1846/47 - O brigue “Galgo” – dos traficantes – sai rebocado por vapores com a permissão das fortalezas, demonstrando a força dos traficantes. Serviam-se da bandeira americana, apoiados por representantes daquele país. Transportando fazendas e sob a proteção da bandeira americana, os traficantes ficavam a salvo dos cruzeiros ingleses. Na África vendiam a embarcação e trocavam bandeira, (as vezes substituíam as tripulações por portugueses); de posse dos papéis, enchiam os navios com escravos e retornavam. Aqui tornavam a trocar para retornar a África. Isso vigorou entre 1840 e 1848. Voltaram os desembarques na fortaleza de Santa Cruz (então principal depósito). Desembarcavam na Ilha Grande, Campos, Macaé – com a ajuda de vapores. Os portugueses tinham monopólio, vendendo seus carregamentos a seus associados, assim os fazendeiros não podiam comprar em primeira mão. Entre 1844 e 1848 o excesso da oferta derrubou os preços (os escravos valiam entre 380 e 400$000).
1845/47 - Tomás C. Ramos foi o primeiro a usar vapores no tráfico.
1845/46/47 - Do R.J e de diversos pontos saíam negreiros para a África. Os grandes carregamentos eram feitos em navios americanos, franceses e sardos.
1847/48 - 50 a 60 mil escravos no RJ. Novos cruzeiros ingleses cruzando a costa do Brasil. Arbitrariedades em decorrência da vinculação dos negreiros ao comércio de cabotagem.
1848/50 - prossegue o tráfico. Navios apresados são absolvidos. Os traficantes tinham conhecimento das reuniões secretas do governo. As leis obstadas por elementos coniventes.
1850 - 36 mil escravos desembarcados. Euzébio, Min. Da Justiça, implementa a perseguição aos traficantes.
1851 - Acabam os depósitos do Caju da Praia de fora, Santa Cruz, Rio das Ostras, Campos Sombrio e outros. Prende negreiros com africanos e barcos destinados ao tráfico. Fez fugir traficantes e impediu embarcações de aportar. Desembarcaram 3.200 escravos que foram para MG.
1852 - Desembarcaram 645 escravos. Subiram as apólices, surgiram associações para estradas de ferro, bancos, “empresas gigantescas”; “os capitais no Rio abundaram”. Envolvidos com o tráfico são presos, processados e deportados. “A potência negreira destruída”.
1853 - Nenhum desembarque.

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