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segunda-feira, 20 de julho de 2009

Entre a Coreia do Norte e o Irã

Finalmente começou o recesso de meio de ano e espero poder me dedicar, entre outras coisas, a completar um artigo sobre a Revolução Chinesa, pois tenho lido textos isolados sobre o assunto, mas que me trouxeram outro ponto de vista sobre o Grande Salto para Frente, a Revolução Cultural e as desavenças entre a extinta URSS e a República Popular, por exemplo.

Mas outros assuntos tem evoluído e sobre os quais quero tecer rápidas considerações.
O primeiro diz respeito à Coreia do Norte.
A crise que opunha este país aos seus vizinhos imediatos, mais os EUA, e que constrangeu seus "aliados" Rússia e China, no mês passado, está hibernando sem conclusão. À parte os rugidos de parte à parte - desculpem a ironia - esta crise foi escorregando para fora da 1ª página quando a crise iraniana ganhou destaque. Mesmo o repique da semana retrasada, quando o governo norte-coreano lançou uma série de mísseis de curto alcance, apenas para provocar, demonstra que as ocorrências da península coreana foram discretamente afastadas dos holofotes. Como as negociações de fato ocorrem na surdina, por enquanto nada deve ameaçar a estabilidade do status quo regional, e sem abalos as rodadas de negociação vão transcorrendo, pois enquanto falam, as armas, ainda que engatilhadas, não são usadas.
A segunda crise, a das eleições iranianas, também estava aparentemente superada, com o regime dos ayatolahs referendando o resultado eleitoral favorável a Ahmadinejad. Mas eis que o tom volta a subir. No sermão da sexta-feira, o ex-governante Rafsanjani, opositor do governo atual e alinhado com os reformistas - e que hoje vive em prisão domiciliar e sob acusações de corrupção, apelou para a insatisfação pública contra o resultado. Já no sábado, o vice-presidente renunciou e apelou por uma investigação plena sobre as eleições. Hoje, segunda-feira, dia 20/7/2009, Rafsanjani propõe um plebiscito sobre as eleições. Para o governo isso é inadmissível, pois corresponderia a, no mínimo, reconhecer que houve algo errado, e no limite anular o pleito.
Já durante o final de semana voltaram os informes de passeatas enormes e a repressão à cargo da polícia e da milícia Basij aos manifestantes.
Não ficaria surpreso que - certamente por coincidência - novamente o aumento da temperatura da crise iraniana leva-se a uma nova etapa da crise coreana. Será que foi apenas coincidência que quando as passeatas iranianas se tornavam cada vez mais hostis ao governo teocrático de Teerã, houvesse uma breve escalada da crise nuclear norte-coreana, providencialmente desviando a atenção. Podemos ver se isso vai ocorrer outra vez.
Ambos os regimes possuem afinidades entre si. São hostis ao governo norte-americano (seja ele qual for), apresentam-se como polos de oposição e resistência aos interesses ocidentais, e enquanto um já é possuidor de armas nucleares, o outro proclama a legitimidade de seu direito de vir a possuí-las, alegando, não sem razão, que sua posse desautoriza uma intervenção armada contra si, como ocorreu com o Iraque.

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