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sábado, 26 de setembro de 2009

Irã X EUA - da crise nuclear a possíveis desdobramentos.

O anúncio ontem da existência de uma outra, a até então desconhecida instalação nuclear iraniana em Qum, feito em conjunto pelos governantes dos EUA, Inglaterra e França, acirrou novamente as tensões entre a comunidade internacional e a República Islâmica.
A divulgação veio à reboque da confirmação do governo iraniano que já desconfiava de que o segredo fora descoberto. Para os Estados Unidos a instalação é muito pequena para ser de uso pacífico, mas caberia num programa de obtenção de plutônio - com seu desdobramento lógico que seria uma bomba nuclear.
Quais são as opções?

  1. Negociação: os Estados Unidos e seus aliados na questão, além da comunidade internacional via ONU e especialmente seu Conselho de Segurança podem tentar aumentar a pressão sobre Teerã no sentido do abandono definitivo de seu programa nuclear - pouco provável -, ou que os iranianos franqueiem suas instalações de forma permanente e séria à AIEA. A Rússia pode vir a somar com sua inluência, já que não veria bem o retorno à questão do escudo europeu antimísseis que a quinze dias foi oficialmente abandonado pelo governo Obama e que se tornou um delicado ponto de atrito entre os dois países. Uma das justificativas do governo norte-americano era justamente a ameaça de mísseis balísticos iranianos.
  2. Guerra com invasão: pouco provável que ocorra uma invasão por terra pois os recursos norte-americanos já estão comprometidos com as frentes iraquiana e afegã, sendo temerário a abertura de outra frente militar no Oriente Médio. Quanto a Israel, também seria algo descartado um ataque terrestre já que se exporiam, de imediato, a retaliações em Gaza (Hamas) e na fronteira libanesa (Hezbolah).
  3. Guerra sem invasão: neste caso ataques aéreos ou com mísseis de precisão poderiam ser utilizados para demolir ou danificar as instalações nucleares iranianas, mas exporiam os envolvidos diretos (reais ou potenciais) a retaliações, além de insuflar o terrorismo jihadista para uma resposta assimétrica, possível em Tel Aviv, Washington, Londres, Paris, etc. De qualquer forma haveria inevitavelmente uma conflagração entre os aliados e os adversários do regime iraniano, com desdobramentos possíveis desde a América Latina (Venezuela) até o Extremo Oriente (Coreia do Norte). Com os EUA envolvidos com um conflito no Oriente Médio, Hugo Chavez e Kim Jong Il ficariam mais livres para desafiar os interesses da administração norte-americana.
  4. Israel: o governo de Nethaniahu poderia reafirmar sua aliança com os EUA, forçando a administração norte-americana a engolir um endurecimento com os palestinos e "fatos consumados" no Líbano, em Gaza e Cisjordânia. E em caso de uma real ameaça iraniana (25% da população se disse disposta a sair do país ante uma ameça nuclear de Teerã) ou ataque efetivo, dificilmente o governo israelense deixaria de reagir com suas próprias armas nucleares. Ainda que uma retaliação nuclear israelense fosse proporcional a um ataque iraniano, do tipo um por um, o mundo islâmico seria varrido por uma onda de histeria vingativa. O jihadismo ganharia força política e militar e senão todos, certamente a maioria dos governos moderados ruiriam. Numa situação já quase de descontrole, não seria inconcebível que o Paquistão fosse arrastado para a linha de frente da guerra contra os sionistas e seus aliados, ao mesmo tempo que a Índia se prepararia para um confronto nuclear com seu adversário de três guerras e sessenta anos de rivalidade
    Imaginemos, por exemplo que simultaneamente a Venezuela subisse a tensão com a Colômbia, o Irã estimulasse uma insurgência da comunidade xiita no Iraque (fazendo subir as baixas de soldados dos EUA) a ponto de comprometer não só a retirada das tropas como destruir a frágil estabilidade que lá existe, e a Coreia do Norte retomasse o atrito com a Coreia do Sul e o Japão. Neste quadro hipotético, como os EUA dariam conta de tantas crises simultaneamente e ainda tendo que prover proteção para si, seus aliados e seus interesses globais?
    Já para o governo iraniano, a retórica do confronto ajuda a neutralizar a oposição interna, muito fortalecida após os protestos e contestações recentes, fabricando uma falsa "unidade" interna. Numa situação de ameça externa como poderiam os opositores não serem tomados como traidores ou colaboracionistas?
    O presidente Ahmadinejad teria assim uma desculpa aceitável para suprimir toda a oposição e reforçar seu próprio poder. E a divisão do país seria eliminada pela mobilização religiosa (Islã contra o Ocidente), política (união nacional) e militar.
    Dispondo de forças armadas e os Guardiões da Revolução, o Irã é um osso duro em termos militares convencionais. Suas FA dispõem de 700 mil homens no Exército (a metade são reservas), 18 mil na Marinha, outros tantos na Força Aérea e cerca de 12 mil na Defesa Aérea. A estes efetivos soma-se o chamado Pasdaran ou guardas revolucionários, com mais 120 mil homens, e as forças paramilitares do Basij (90 mil mobilizados e 2 milhões de reservistas) prioritariamente volados para a repressão interna e as unidades Al Qods, que treinam voluntários estrangeiros. E este efetivo conta com 5 bases navais entre o Golfo, o Cáspio e o Índico e mais 14 aéreas. Novos sistemas de mísseis têm sido incorporados, os F-14 fornecidos pelos EUA antes da revolução de 1979 foram modernizados e novas unidades navais foram incorporadas ou mantidas operacionais, inclusive submarinos e lanchas artilhadas com foguetes, que poderiam estrangular a passagem de petroleiros pelo estreito de Ormuz.
    Por enquanto as negociações devem proseguir, mas até quando...?

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