"Um acordo guarda-chuva" - assim foi definido um documento que será divulgado oficialmente nos próximos dias e que marca um esforço conjunto para superar os desentendimentos recentes entre os dois países.
Após uma aproximação mais intensa no início da administração Obama, os dois países começaram a divergir em diversos pontos.
Numa rápida lista podemos apontar a hollywoodiana ação dos fuzileiros norte-americanos em Porto Príncipe, por ocasião do terremoto e a subsequente operação de socorro. Na ocasião, tropas foram desembarcadas de helicópteros diretamente no jardim do desmoronado palácio governamental, e que diante das câmeras, pareceu mais uma invasão que um resgate!
A seguir vieram divergências em relação ao Irã e seu programa nuclear, Hugo Chavez, Cuba, etc, e no campo econômico a autorização da OMC para o Brasil retaliar produtos norte-americanos devido a subsídios que prejudicaram exportações de algodão brasileiro para aquele país. Isso sem falar na questão das bases na Colômbia.
Com o aumento do distanciamento entre os dois países, do qual certamente a anunciada aliança estratégica entre Paris e Brasília no campo militar foi uma expressão, a administração norte-americana aparenta estar redimensionando o problema e buscando uma solução de convergência.
Na semana passada o presidente Sarkhozy visitou Washington e essa visita foi apontada como uma forma de reforçar os laços entre EUA e a França. Mas isso colocou uma interrogação sobre a parceria franco-brasileira: haveria algum impedimento na concretização dos acordos militares? Ou a visita foi indiretamente destinada a reafirmar os interesses norte-americanos na região? Em suma, que pressões o presidente Obama colocaria na mesa?
O Brasil tem um papel a desempenhar na América do Sul e seria ingenuidade pensar que os EUA não vêem o que ocorre. Eles vêem sim; podem é não dar, de forma sistemática, a atenção e importância que achamos merecer.
O relatório sobre a decisão oficial do programa FX-2, a aquisição de 36 jatos Rafale para a FAB, foi novamente adiado. E como das outras vezes, isso não só gera exasperação pela aparente indecisão, como embaralha algo que estava praticamente concluído. As autoridades disseram e reafirmaram mais de uma vez que o caça francês estava escolhido, ficando o negócio por concluir apenas pela questão do preço final dos aviões. Mas agora, já se coloca a possibilidade de que este Acordo de Cooperação Militar Brasil-EUA, incorpore que a contrapartida dos EUA para adiquirir 200 aviões Super Tucano e transportes KC-390, seria o Brasil substituir a escolha dos Rafale pelos Super Hornets (que junto com o sueco Grippen NG, foram finalistas no processo de escolha). Esta questão é esmiuçada com a devida profundidade e explicações no Blog Defesa BR.
O principal problema é a ameaça representada por eventuais embargos de aquisição, revenda ou desenvolvimento próprio de equipamentos por parte do Brasil. Esse por sinal foi um dos vetores da decisão pelos Rafale. O SH e o Grippen estariam sujeitos a vetos por parte do Congresso dos EUA devido a transferência de tecnologia e reposição de peças, o que poderia eventualmente manter no chão a força aérea. Essa opção é inadimissível, ainda mais diante de um eventual conflito mais sério - mesmo sem ser guerra.
Não custa lembrar que o próprio Super Tucano, por usar sistemas eletrônicos de origem norte-americana, foi proibido de ser vendido para a Venezuela por que o Congresso dos EUA vetou o negócio. O prejuízo foi da Embraer, seus funcionários e a cadeia produtiva associada ao negócio, além dos impostos que seriam arrecadados nos diferentes estágios. Isso vale para lembrar do risco desta opção por equipamentos norte-americanos.
O acordo implica uma série de cooperações de âmbito técnico, desenvolvimento de projetos e treinamento militar entre os dois países, mas não detalha o que, como e quando. Até porque não é seu objetivo fazê-lo. O alvo é uma reaproximação e melhorar a sintonia de posições entre o Brasil e os EUA, o que naturalmente implica ser vago e evitar os detalhes problemáticos.
Vendo pelo lado positivo, esse acordo militar pode abrir uma nova etapa das relações entre Brasília e Washington onde, ao invés de se trocar uma aliança franco-brasileira por uma norte-americana-brasileira, o Brasil poderia manejar uma associação multilateral que contemple seus interesses sem que isso represente a exclusão dos franceses ou norte-americanos.
Uma noiva disputada, certamente melhora o dote.
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